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domingo, 23 de junho de 2013

Odisseia dum rio


Já Bertolt Brecht disse um dia: "Do rio que tudo arrasta se diz que é violento / Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.

O meu amigo Joaquim Mendes Gomes, que agora tem todo o tempo do mundo para poetar, fala-nos de um rio que, descendo a encosta, salta abruptamente, “sem medo, de escarpas, quando a terra traquina lhe falta à frente”.

Os rios, como as pessoas, desde que nascem até que morrem, fazem viagens que são verdadeiras odisseias.


Odisseia dum rio

Debaixo duma rocha,
perdida no alto dum monte,
brota uma fonte pura
de água que corre incessante.

Desce a encosta,
riscando no chão
o caminho que segue.
Como é natural.

Em meandros suaves.
Depois, saltando abrupta,
sem medo, de escarpas,
quando a terra traquina
lhe falta à frente.

Espuma de raiva e alegre,
quando bate no chão.

Afunda e alastra-se
em lagos que enche.
Parecendo um mar.
E, à frente, rompe e avança,
caminha, de novo,
por campos, regados de verde,
banhando, contente quem passa.
Atravessa e abraça aldeias de gente,
ligadas por pontes.

Alimenta incessante, com força,
as pás dos moinhos,
que geram farinha de graça.

Em se sentindo cansada,
se estende e alarga,
formando amplos açudes,
com areia de praia,
e sombra de ramos com folhas.
Regalo das gentes,
nas tardes de sol.

E, assim, aquele fio tremente,
de água, nascente,
segue e avança,
correndo,
aparentemente sem rumo,
mas sabendo bem onde vai...

Mafra, 20 de Junho de 2013
7h39m
Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes




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