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sábado, 8 de junho de 2013

Um soneto inédito de Fernando Pessoa


O Rei

O Rei, cuja coroa de oiro é luz
Fita do alto do throno os seus mesquinhos.
Ao meu Rei coroaram-O de espinhos
E por throno Lhe deram uma cruz.

O olhar fito do Rei a si conduz
Os olhares fitados e visinhos
Mas mais me fitam, e mortas sem carinhos,
As palpebras descidas de Jesus.

O Rei falla, e um seu gesto tudo prende,
O som da sua voz tudo transmuda.
E a sua viva majestade esplende;

Meu Rei morto tem mais que majestade:
Falla a Verdade nessa bocca muda;
Suas mãos presas são a Liberdade.



Fernando Pessoa
(31.7.1935)
Soneto inédito até 2000
Edição: Jerónimo Pizarro, Carlos Pittella-Leite
In Granta (Portugal), n. 1

2 comentários:

  1. Amo Fernando Pessoa e amei este soneto.

    Abraços. Aproveito para te convidar a visitar a minha página!
    http://lucilasantoss.blogspot.com.br/

    Abraços.

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  2. Obrigado pelo comentário e pela informação.
    Deve-se a Jerónimo Pizarro a “descoberta” de cinco sonetos inéditos do Pessoa. Mas este estudioso do poeta já disse, numa entrevista, que há ainda muitos documentos, retirados da famosa arca, por tratar. Portanto, temos que estar preparados para novas surpresas…

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