segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Devaneios cruzadísticos │Ruy Belo

"Tu estás aqui" é o primeiro verso (também o título) dum poema do poeta português Ruy Belo, pedido com a resolução do passatempo referente ao mês de Agosto de 2017.

O poema dito na voz excelente do actor Luís Miguel Cintra. Vale a pena ouvir.




Tu estás aqui

Estás aqui comigo à sombra do sol
escrevo e oiço certos ruídos domésticos
e a luz chega-me humildemente pela janela
e dói-me um braço e sei que sou o pior aspecto do que sou
Estás aqui comigo e sou sumamente quotidiano
e tudo o que faço ou sinto como que me veste de um pijama
que uso para ser também isto este bicho
de hábitos manias segredos defeitos quase todos desfeitos
quando depois lá fora na vida profissional ou social só sou um nome e sabem o que sei o
que faço ou então sou eu que julgo que o sabem
e sou amável selecciono cuidadosamente os gestos e escolho as palavras
e sei que afinal posso ser isso talvez porque aqui sentado dentro de casa sou outra coisa
esta coisa que escreve e tem uma nódoa na camisa e só tem de exterior
a manifestação desta dor neste braço que afecta tudo o que faço
bem entendido o que faço com este braço
Estás aqui comigo e à volta são as paredes
e posso passar de sala para sala a pensar noutra coisa
e dizer aqui é a sala de estar aqui é o quarto aqui é a casa de banho
e no fundo escolher cada uma das divisões segundo o que tenho a fazer
Estás aqui comigo e sei que só sou este corpo castigado
passado nas pernas de sala em sala. Sou só estas salas estas paredes
esta profunda vergonha de o ser e não ser apenas a outra coisa essa coisa
essa coisa que sou na estrada onde não estou à sombra do sol
Estás aqui e sinto-me absolutamente indefeso
diante dos dias. Que ninguém conheça este meu nome
este meu verdadeiro nome depois talvez encoberto noutro
nome embora no mesmo nome este nome
de terra de dor de paredes este nome doméstico
Afinal fui isto nada mais do que isto
as outras coisas que fiz fi-las para não ser isto ou dissimular isto
a que somente não chamo merda porque ao nascer me deram outro nome que não merda
e em princípio o nome de cada coisa serve para distinguir uma coisa das outras coisas
Estás aqui comigo e tenho pena acredita de ser só isto
pena até mesmo de dizer que sou só isto como se fosse também outra coisa
uma coisa para além disto que não isto
Estás aqui comigo deixa-te estar aqui comigo
é das tuas mãos que saem alguns destes ruídos domésticos
mas até nos teus gestos domésticos tu és mais que os teus gestos domésticos
tu és em cada gesto todos os teus gestos
e neste momento eu sei eu sinto ao certo o que significam certas palavras como a palavra paz
Deixa-te estar aqui perdoa que o tempo te fique na face na forma de rugas
perdoa pagares tão alto preço por estar aqui
perdoa eu revelar que há muito pagas tão alto preço por estar aqui
prossegue nos gestos não pares procura permanecer sempre presente
deixa docemente desvanecerem-se um por um os dias
e eu saber que aqui estás de maneira a poder dizer
sou isto é certo mas sei que tu estás aqui.

Ruy Belo│Toda a Terra (1976)



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Respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita; Baby; Caba; Corsário; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Nunes; Filomena Alves, Fumega; Homotaganus; Horácio; Jani; João Bentes; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Lurdes Polido; Mafirevi; Magno; Magriço; Manuel Amaro, Manuel Carrancha; My Lord; Olidino; Osair Kiesling; Paulo Freixinho, Raquel Atalaya; Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva, Somar e Virgílio Atalaya.

Até breve!

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Devaneios cruzadísticos │ Ruy Belo

O poeta Ruy Belo morreu no dia 8 de Agosto de 1978 (dentro de poucos dias passam 39 anos sobre a sua morte) na sua casa em Monte Abraão, Sintra. Morreu cedo o poeta que amava as árvores principalmente as que dão pássaros (Os pássaros nascem na ponta das árvores / As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros /...).

Apesar do curto período de actividade literária, Ruy Belo tornou-se um dos maiores poetas portugueses da segunda metade do século XX, tendo as suas obras sido reeditadas diversas vezes.

Desempenhou o cargo de leitor de Português em Madrid desde 1971 até 1977. Regressado, então, a Portugal, foi-lhe recusado pelo regime democrático a possibilidade de lecionar na Faculdade de Letras de Lisboa.

Um dia, estando com a família na Praia da Consolação (perto de Torres Vedras) leu no jornal um anúncio de uma vaga de Assistente na Faculdade. 

Veio sozinho a Lisboa, para a sua casa em Monte Abraão, a fim de preparar a apresentação da sua candidatura, mas já não voltou. Foi em Agosto de 1978…

Convido os meus amigos, desta vez, a solucionar este passatempo de palavras-cruzadas e, no final, encontrar o primeiro verso (3 palavras, nas horizontais) dum poema deste poeta português,  Ruy Belo (1933 – 1978).


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HORIZONTAIS: 1 – Inspirar dó a. 2 – Pessoas; Energia [figurado]. 3 – Fúteis [figurado]; Corte. 4 – Forma do pronome pessoal a, quando precedido de forma verbal terminada em som nasal [plural]; Anseias [figurado]. 5 – Pronome pessoal que designa a segunda pessoa do singular e que indica a quem se fala ou escreve; Assentas; Ástato [símbolo quimico]. 6 – Sovas. 7 – Estorvo; Cinturão em que se pode prender a espada; Prefixo que exprime a ideia de privação. 8 – Relativo a nariz; Reze. 9 – Neste ponto; Apoio [figurado]. 10 – A massa popular [figurado]; Tímida [figurado]. 11 – Cilada [figurado].

VERTICAIS: 1 – Agradar. 2 – Dinheiro [popular]; Como. 3 – Suplicas; Descalças. 4 – Defeito; Vesti. 5 – Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de igual; Doença, com acessos irregulares, caracterizada por dificuldade de respirar, tosse seca e uma sensação de aperto no peito [plural]; Porque [arcaico]. 6 – Idiota [coloquial]. 7 – Preposição que exprime matéria; Cómodo; Atmosfera. 8 – Combinam [figurado]; Una. 9 – Actuais; Que tem o feitio de ovo. 10 – Chefe político, no Oriente; Lavra. 11 – Guarda.

Clique  Aqui  para abrir e imprimir o PDF.


Aceito respostas até dia 20 de Agosto, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes.

Vemo-nos por aqui?