"Bom dia camaradas" é o nome de uma obra do escritor angolano Ondjaki (1977), pedido com a resolução do passatempo de palavras - cruzadas, referente ao mês de Março de 2021.
terça-feira, 23 de março de 2021
Devaneios cruzadísticos │ Ondjaki
sexta-feira, 19 de março de 2021
A vida não é um intervalo
Temos vivido aquilo que sentimos como um longo e interminável intervalo, sempre à espera de um fim que desejamos próximo. Ao mesmo tempo, entre avanços e recuos, fica a enorme tentação de desconfiar da luz anunciada para o fim do túnel. Na melhor das hipóteses, essa luz parece-nos interrompida por demoradas intermitências.
terça-feira, 16 de março de 2021
É pouca coisa, é certo: uma vogal,
uma consoante, quase nada.
Mas faz-me falta. Só eu sei
a falta que me faz.
Por isso a procurava com obstinação.
Só ela me podia defender
do frio de janeiro, da estiagem
do verão. Uma sílaba.
Uma única sílaba.
A salvação.
Eugénio de Andrade │ Ofício de Paciência
segunda-feira, 15 de março de 2021
Um lugar
com
senhoras de olhos calmos
e moscas gordas.
um sino abençoou o silêncio.
uma nuvem roçou a igreja
cumprimentando árvores
velhos e
pássaros.
era um lugar onde as sombras
se afogam - náufragas
e regressavam ao mundo em silêncio - sobreviventes
dali
as pessoas emprestavam os pés às pombas
e elas roçavam os telhados
para cumprimentar as casas.
certa manhã
ali sentado
ouvi o sino falar.
não decifrei o murmúrio
[não tenho o dom da quietude]
mas embebi-me do essencial:
aquele era também um deslugar
- chão apropriado para repousar os dedos
e esperar uma formiga passar;
esperar a mordidela também
sabendo-me vivo
em corpo de sangue.
domingo, 14 de março de 2021
Nos campos de Alpedrinha
na maneira como esta mulher
dos arredores de Cantão,
ou dos campos de Alpedrinha,
rega quatro ou cinco leiras
de couves: mão certeira
com a água,
intimidade com a terra,
empenho do coração.
Assim se faz o poema.
Eugénio de Andrade │Rente ao dizer
quinta-feira, 11 de março de 2021
Coro dos empregados da Câmara
Lembrando Mauel da Fonseca que partiu, há 28 anos,para o céu dos poetas.
Coro dos empregados da Câmara
É tão vazia a nossa vida,é tão inútil a nossa vida
que a gente veste de escuro
como se andasse de luto.
Ao menos se alguém morresse
e esse alguém fosse um de nós
e esse um de nós fosse eu...
... O Sol andando lá fora,
fazendo lume nos vidros,
chegando carros ao largo
com gente que vem de fora
(quem será que vem de fora?)
e a gente praqui fechados
na penumbra das paredes,
curvados prás secretárias
fazendo letra bonita.
Fazendo letra bonita
e o vento andando lá fora
rumorejando nas árvores,
levando nuvens pelo céu,
trazendo um grito da rua
(quem seria que gritou?)
e a gente praqui fechados
na penumbra das paredes,
curvados prás secretárias
fazendo letra bonita,
enchendo impressos, impressos,
livros, livros, folhas soltas,
carimbando, pondo selos,
bocejando, bocejando,
bocejando.
Manuel da Fonseca, in Planície
segunda-feira, 8 de março de 2021
Não chames bela – Chama-lhe Mulher!
MULHER
Chamam-te linda, chamam-te formosa,
Chamam-te bela, chamam-te gentil...
A rosa é linda, é bela, é graciosa,
Porém a tua graça é mais subtil.
A onda que na praia, sinuosa,
A areia enfeita com encantos mil,
Não tem a graça, a curva luminosa
Das linhas do teu corpo, amor e ardil.
Chamam-te linda, encantadora ou bela;
Da tua graça é pálida aguarela
Todo o nome que o mundo à graça der.
Pergunto a Deus o nome que hei-de dar-te,
E Deus responde em mim, por toda parte:
Não chames bela – Chama-lhe Mulher!
Rui de Noronha
segunda-feira, 1 de março de 2021
Devaneios cruzadísticos │ Ondjaki
Vemo-nos por aqui?