quarta-feira, 16 de março de 2011

Brincar com o fogo...

O mundo está hoje confrontado com as notícias dramáticas de mais um sismo no Japão, mas desta vez, segundo informação oficial, com uma magnitude de 8,9 na escala de Richter, o mais intenso dos últimos 40 anos.

O Japão é um país distante, mas, não obstante, o povo português contactou aquela gente há mais de 400 anos.

Em 1544, Fernão Mendes Pinto desembarcou na Ilha de Tanixumá, «que é a primeira terra do Japão», como escreveu.

Como é sabido, foram os portugueses que deram a conhecer aos japoneses a espingarda. Fernando Mendes Pinto descreveu-nos assim o espanto dos japoneses ao verem, pela primeira vez, uma arma de fogo:

«Os japões, vendo aquele novo modo de tiros que nunca até então tinham visto, deram rebate disso ao nautoquim que neste tempo estava vendo correr uns cavalos que lhe tinham trazido de fora, o qual espantado desta novidade, mandou logo chamar o Zeimoto ao paul onde andava caçando, e quando o viu vir com a espingarda às costas, e dous chins carregados de caça, fez disto tamanho caso que em todas as cousas se lhe enxergava o gosto do que via, porque como até então naquela terra nunca se tinha visto tiro de fogo, não se sabiam determinar com o que aquilo era, nem entendiam o segredo da pólvora, e assentaram todos que era feitiçaria».

Relata ainda Fernando Mendes Pinto que, uns dias após este episódio, aconteceu um desastre a um filho de El-Rei daquela Ilha de Tanixumá. Aproveitando estar o FMP a dormir, aquele Príncipe levou, sem autorização, a espingarda, e «pondo-lhe fogo, quis a desaventura que arrebentou por três partes...de que o moço logo caiu no chão como morto...». Grande alarme na população indígena: «A espingarda do estrangeiro matou o filho de El-Rei!».

Bem, o nosso FMP, viu-se, de um momento para o outro, em maus lençóis. El-Rei exigiu-lhe, sob pena de morte, que curasse o filho. «E encomendando-me a Deus, e fazendo-me (como se diz) das tripas coração, por ver que não tinha ali outro remédio, e que se assim o não fizesse me haviam de cortar a cabeça, preparei tudo o que era necessário para a cura...». FMP relatou assim como ele se desembaraçou daquela situação, provocada por um mau manuseamento de uma arma de fogo, até então desconhecida daquele povo.

Os jornais de hoje falam-nos de um “Apocalipse” no Japão, com a situação fora de controlo. A situação na central nuclear de Fuxima degrada-se de dia para dia, apesar dos esforços do Governo.

Esta situação de catástrofe levará certamente o governantes daquele país a reflectir seriamente acerca da opção nuclear.

Na verdade, construir centrais nucleares num país que está sentado numa placa tectónica, não parece ser boa e avisada solução.

É, no fundo, brincar com o fogo...

(Livro citado: Peregrinação, de Fernando Mendes Pinto, Edição Europa-América, pág 25, 31, 39 e 43 do Vol.II)

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