Esteiros. Minúsculos canais, como dedos de mão espalmada, abertos na margem do Tejo. Dedos das mãos avaras dos telhais que roubam nateiro às águas e vigores à malta. Mão de lama que só rio afaga.
Li os Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes, possivelmente em 1972, numa edição da colecção “Livros de Bolso Europa-América”, não tendo sido por acaso que o editor o escolheu para iniciar uma nova colecção.
Reli-o agora, porque tenciono visitar, brevemente, o Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira.
Esteiros foi publicado em 1941. Integra-se na estética do neo-realismo e retrata o trabalho infantil na vila de Alhandra.
A obra narra a vida de jovens trabalhadores que, nas margens dos esteiros do Rio Tejo, fabricam peças de barro nos telhais.
Gineto, Gaitinhas, Malesso, Maquineta, tantos outros, são os operários-meninos dos telhais à beira dos esteiros do Tejo. Sujeitos à dureza do trabalho quando o conseguem arranjar, vadiam e roubam para comer durante o resto do tempo. Apesar de tudo, sonham.
Esta é história dos rapazitos miseráveis dos esteiros do Tejo.
Este é o romance dos “moços que parecem homens e nunca foram meninos”.
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