Entrei em Mafra no dia 7 de Outubro de 1971 para fazer a recruta. Logo nos primeiros dias, o capitão Falcão, Comandante da Companhia, perguntou quem queria ir a Fátima nos dias 12 e 13 de Outubro.
Para ficar liberto por dois dias do sepulcro do quartel e para fugir ao calvário das marchas penosas, não hesitei um segundo. Em Fátima, montámos as tendas e foi-nos distribuído um talher completo para o rancho. No dia 14, já no quartel, veio a ordem para os talheres serem entregues até ao meio-dia. Eu, com mais alguns do meu pelotão, apertados pelo rigor do horário militar, não fiz a entrega dos ditos talheres.
Enfim, para início de tropa, uma novela com todos os contornos duma narrativa Kafkaniana.
No final, os talheres, que estavam guardados na caserna, foram entregues. Não houve, nem podia haver, castigo algum. Folha limpa, portanto.
O capitão Falcão teve uma entrada de falcão…e uma saída de sendeiro. Isto aconteceu há, precisamente, 40 anos.
Para ficar liberto por dois dias do sepulcro do quartel e para fugir ao calvário das marchas penosas, não hesitei um segundo. Em Fátima, montámos as tendas e foi-nos distribuído um talher completo para o rancho. No dia 14, já no quartel, veio a ordem para os talheres serem entregues até ao meio-dia. Eu, com mais alguns do meu pelotão, apertados pelo rigor do horário militar, não fiz a entrega dos ditos talheres.
Na formatura das 14 horas, depois do almoço, os recrutas em falta foram chamados ao gabinete do Comandante de Companhia. O capitão Falcão vociferou: «Desapareceu, no almoço de hoje, um número de talheres igual àquele que vocês deveriam ter entregado até ao meio-dia e não entregaram». Logo, conclusão de militar, «foram vocês que retiraram os talheres do refeitório para poderem agora fazer a entrega que não fizeram. Bem, para não vos estragar a vida já, vocês pagam o valor dos talheres e o assunto fica resolvido». Os recrutas, trementes de terror, ripostaram com a versão correcta dos factos. O capitão Falcão, vermelho de raiva, fulminou-nos: «Bem, não querem pagar, o assunto vai seguir a sua tramitação e vocês não se livram de uma valente “porrada"». O Piçarra, que era do grupo o mais experimentado, ousou: «Meu capitão, pode dar-me uma “porrada”, mas eu não pago, porque não roubei nada». Os restantes recrutas solidarizaram-se e o Capitão Falcão mandou-nos sair, aos gritos.
Enfim, para início de tropa, uma novela com todos os contornos duma narrativa Kafkaniana.
No final, os talheres, que estavam guardados na caserna, foram entregues. Não houve, nem podia haver, castigo algum. Folha limpa, portanto.
O capitão Falcão teve uma entrada de falcão…e uma saída de sendeiro. Isto aconteceu há, precisamente, 40 anos.
Esta era de arrasar qualquer um logo no início da vida militar. E então naquele tempo! O capitão Falcão só me mandava cortar o cabelo na formatura depois do almoço.
ResponderEliminarZé Vaz
Obrigado pelo teu comentário. Esta pequena história só foi possível, aliás, graças a ti, à tua brilhante memória e ao teu excelente espólio militar.
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