domingo, 25 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL


 Alegrem-se o céu e a terra
cantemos com alegria
já nasceu o Deus Menino
filho da Virgem Maria 

FELIZ NATAL são os votos do AlegriaBreve aos seus (poucos mas bons) leitores.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Aleluia

No momento presente, por incerto e imperfeito que seja, saudamos os sinais do tempo de Deus. Por isso, no Natal cantamos

ALELUIA

A ti
de ti
por ti
para ti
sem ti
ante ti
perante ti
depois de ti
longe de ti
fora de ti
além de ti
contra ti
sobre ti
sob ti

Dentro de ti

Poema de Jorge Sousa Braga

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um conto de Natal, de Alexandre O´Neill

Há 87 anos, precisamente, nasceu, em Lisboa, Alexandre O´Neill, que foi um importante poeta do movimento surrealista.

Escreveu um curioso conto de Natal a que deu o título

Exercícios de auto-apoucamento (com vista ao próximo Natal)

A ideia de há muito que o andava a desassossegar. Depois dos primeiros ensaios de auto-apoucamento, Valério conseguiu um primeiro grande resultado: meter-se todo, todinho, numa das pernas (por sinal, a esquerda) do par de calças de sarja que comprara nas Confecções Nilo por trezentos convidativos escudos. Com voz-de-dentro-de-calça chamou a mulher:
- Ó Quinhas anda ver!
Quinhas levou um susto ao dar com uma perna de calça sustentando-se em pé sem, aparentemente, homem lá dentro. Logo se refez para fingir que não era capaz de o encontrar:
- Mas onde é que se teria metido meu Lèrinho!
- Aqui, sua estúpida! – desabafou-abafou a voz de Valério.
Quinhas continuava a brincadeirinha apalpando a perna vazia e bichanando:
- Lèrinho, Lèrinho!
Quando Valério, por fim, se libertou da perna da calça e retomou o seu (natural) ascendente, trocaram prazenteiramente insultos como só os casais muito unidos sabem trocar.
Quinhas seguira os exercícios de auto-apoucamento de Valério. Este começara a enovelar-se pelos cantos da casa: passara de seguida aos gavetões da cómoda e acabara por ser encontrado numa das gavetas da mesa da cozinha. Dessa feita, Quinhas gritara. É que Valério saltara lá de dentro e avantajara-se brandindo aos urros um facalhaz.
- Que horror, querido, pareces um cossaco! – dissera Quinhas que, no autocarro dessa manhã, lera nas Selecções um artigo dum biólogo americano sobre cossacos.
E, então, solenemente, como só os casais muito amigos sabem fazer, combinaram logo ali que Valério, por mais apoucado e encafuado que estivesse, não pregaria sustos daqueles à sua Quinhas. E beijocaram-se, prazidos. Os exercícios de auto-apoucamento de Valério tinham um fim: preparar a grande surpresa para o Necas, quando ele viesse a férias pelo Natal. E vai daí – como o tempo corre! – o Necas veio. Valério considerou o filho com apreensão. Valeria a pena a surpresa? Necas estava tão grande! Aquela sombra no beiço, aquela voz do peito pontuada de estridulações…
- Ora, o Necas é ainda tão criança! – sossegou-o Quinhas.
Criança que era, o Necas só muito raramente acordava no meio do sono com as movimentações tardias que naquela casa estavam a ser o teor diário. Mas na véspera do Natal, o silêncio foi inesperadamente tão grande que o Necas passou toda a noite numa excitação que nem te digo. Coisas de crianças, coisas da quadra?
Ao levantar-se, pés nus, para ir ver o sapatinho, o Necas já ia a bordo dos patins que a mãe lhe prometera. Quando deu com o pai, apoucado, a acenar-lhe amigavelmente da amurada do sapato, Necas fugiu a procurar no regaço de Quinhas a verdadeira dimensão do seu horror:
- Sa…Sa…Saiu-me o…o… o pai no sa…sa…sapato! – soluuuuçava o órfão de vivo. E a mãe, ultrapassada pela reacção do Necas, consolava-o como ia podendo, prometendo-lhe que o pai voltaria a crescer, a crescer.

Um poema de Natal

Ladaínha dos Póstumos Natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito.


David Mourão-Ferreira,

sábado, 17 de dezembro de 2011

Uma visita do além

O Prémio Pessoa é um prémio português instituído em 1987 pelo jornal Expresso e patrocinado pela Caixa Geral de Depósitos. É concedido anualmente à pessoa ou pessoas, de nacionalidade portuguesa que durante esse período, se tenha distinguido como protagonista na vida científica, artística ou literária.

O ensaísta, professor universitário e filósofo Eduardo Lourenço, de 88 anos, foi 25.º premiado com o Prémio Pessoa. Eduardo Lourenço recebe um diploma e 60 mil euros.

Crítico e ensaísta literário, virado predominantemente para a poesia, aproximou-se da obra de Fernando Pessoa, a propósito da qual deu à estampa o volume Pessoa Revisitado e Fernando Rei da Nossa Baviera.

Receber uma distinção com o nome de Fernando Pessoa “é como receber do além a visita dele”, sublinhou Eduardo Lourenço.

Bem, se receber mesmo essa visita do Pessoa, não será o primeiro. Pessoa já veio do além, nos primeiros meses do ano de 1936, para falar com o seu homónimo Ricardo Reis.

Todavia, meu caro Eduardo Lourenço, tal só aconteceu, como bem sabe, na narrativa magistral de José Saramago, no Ano da Morte de Ricardo Reis. Mas nunca se sabe…

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Uma sugestão no roteiro Pessoano


Igreja dos Mártires, no Chiado, onde Fernando Pessoa foi baptizado no dia 21 de Julho de 1888. O sino da minha aldeia, meu querido Gaspar Simões, é o da Igreja dos Mártires, ali no Chiado. A aldeia em que nasci foi o Largo de São Carlos (Carta a J. Gaspar Simões de 11.12.1931). O sino da minha aldeia é o desta igreja, escreveu o poeta no Cancioneiro:

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.

A Igreja dos Mártires é uma construção do século XVIII, terminada em 1784. Substitui  antiga Ermida dos Mártires, anterior ao terramoto de 1755. Assinala a conquista da cidade aos mouros. O baixo-relevo do portal da Igreja dos Mártires evoca, justamente, essa conquista. O nome também. Nas imediações existiu outrora um cemitério, onde foram sepultados os soldados mortos no assalto à cidade. Esses soldados, caídos em batalha, ficaram conhecidos como mártires. A fachada principal da igreja ficou como testemunho do início da era cristã de Lisboa, podendo-se ver o fundador de Portugal em agradecimento à Virgem Maria pela graça da vitória. O altar é em mármore e no seu topo pode ver-se uma representação da Santíssima Trindade. O tecto, pintado por Pedro Alexandrino, ostenta também uma notável pintura. No interior, de uma só nave, existem quatro capelas de cada um dos lados e um órgão do século XVIII.
A capela onde Fernando Pessoa foi baptizado, do lado esquerdo de quem entra, possui portão de ferro dourado e uma inscrição assinalando o primeiro baptismo realizado no templo antigo (que este substitui) em 1147.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Um poema de Natal

Natal

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor
Há neve que faz mal
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar
Chove no Natal presente
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho frio e Natal não.

Deixo sentir a quem a quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa
´
Curioso o final este poema. Um tom irónico, nada habitual em Fernando Pessoa…

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A "Nossa Senhora", de José Régio


Nossa Senhora

Tenho ao cimo da escada, de maneira
Que logo, entrando, os olhos me dão nela,
Uma Nossa Senhora de madeira,
Arrancada a um Calvário de Capela.

Põe as mãos com fervor e angústia.
O manto cobre-lhe a testa, os ombros, cai composto;
É uma expressão de febre e espanto;
Quase lhe afeia o fino rosto.

Mãe de Deus, seus olhos enovoados
Olham, chorosos, fixos muito além...
E eu, ao passar, detenho os passos apressados,
Peço-lhe – “ A sua benção, Mãe!”

Sim, fazemo-nos boa companhia
E não me assusta a Sua dor: quase me apraz
O filho dessa Mãe nunca mais morre. Aleluia!
Só isto bastaria a me dar paz.

“-Porque choras, Mulher?” – Docemente a repreendo.
Mas à minh´alma, então, chega de longe a sua voz
Que eu bem entendo: - “Não é por Ele...”
“Eu sei! Teus filhos somos nós!”.

José Régio

sábado, 3 de dezembro de 2011

Pedro Audi Soares


Entrada de leão, saída de sendeiro”, diz o nosso povo. Pedro Mota Soares, ministro da Solidariedade e Segurança Social, do Governo de Portugal, fez a inversa, ou seja, “entrada de mota, saída de Audi A7

Segundo li na nossa Comunicação Social, o Ministro Pedro Mota Soares faz-se transportar num carro de luxo, cujo preço de venda ao público ronda 86 mil euros. Numa altura de cortes nos subsídios de Natal e de férias de funcionários públicos e pensionistas e em que se pedem sacrifícios aos portugueses, o ministro que, em Junho, se apresentou, na tomada de posse do Governo, ao volante de uma vespa, desloca-se agora num carro novo, de alta cilindrada.

Numa época tão difícil como aquela em que vivemos, se o exemplo não vier de cima, jamais um governo conseguirá mobilizar o país para aquilo que precisa de ser feito.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Fernando Pessoa, adivinho

O Parque dos Poetas, em Oeiras, presta uma justa e bonita homenagem aos poetas portugueses. Nesta primeira fase, estão ali expostas 20 esculturas de poetas do Séc. XX.

Um dos poetas homenageados, como não podia deixar de ser, é Fernando Pessoa.

Lamentavelmente, a estátua do poeta encontra-se vandalizada. Nem morto, o poeta deixa de levar porrada.

Até parece que já o adivinhava, quando, escondido na máscara do Álvaro de Campos, escreveu:

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus companheiros têm sido campeões em tudo
….Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenha calado, tenho sido mais ridículo ainda;
….

Álvaro de Campos (excerto de “Poema em Linha Recta”)