(Quadro " O Menino da sua mãe" da autoria de Almada Negreiros - Pórtico de entrada da Faculdade de Letras de Lisboa)
O Menino da sua mãe
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mão. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece,
O menino da sua mãe.
Fernando Pessoa
Sempre gostei muito deste poema. Quando fomos para a guerra lembrei-me muito dele. Será que me iria acontecer o mesmo? Felizmente não, mas o mesmo não se passou com mais de oito mil camaradas nossos, em 13 anos de guerra.
ResponderEliminarEste poema do Pessoa só conheço, confesso, há poucos anos e a fotografia do Almada, existente no átrio da Faculdade de Letras há poucos dias. Daí, o juntá-los agora.
ResponderEliminarPois, Zé Luís, apesar de tudo, podemos dizer que tivemos sorte.Não nos aconteceu o mesmo que ao «Menino da sua mãe». Mas a morte andou ali por perto…