quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A ascendência fundanense de Pessoa

A vinha

É conhecida a importância que Fernando Pessoa concedeu à hereditariedade, que invocou em diversas ocasiões, para melhor se auto-analisar. E sabe-se que ele próprio se esmerou a pintar o brasão de um trisavô. «Ascendência Geral-misto de fidalgos e de judeus», assim descrevia uma nota biográfica elaborada por Pessoa em 1935.

Pelo lado materno, sua mãe era açoriana e filha de uma família de notáveis da Terceira.

Assim, o tal «misto», a que ele se refere,  diz respeito unicamente à ascendência paterna, conforme se pode ver ao consultar a árvore genealógica do poeta da Mensagem. Uma leitura atenta da árvore (Clique Aqui ), vemos que um grande número de antecedentes de Pessoa, por via varonil, na qual corria sangue judaico, nasceu, ou veio morar, na cidade do Fundão, recuando até aos 9ºs Avós no Século XVI. Sabemos, por outro lado, como várias gerações dos “Pessoas” foram perseguidos pelo Santo Ofício, condenados e, nalguns casos, queimados nas fogueiras inquisitoriais.

Diogo Pessoa da Cunha, um dos Tetravós do poeta, nasceu no Fundão. O historiador Joaquim Candeias da Silva, meu conterrâneo, escreveu assim na Revista Eburobriga:

«Diogo (Pessoa) da Cunha: Nasceu a 15/1/1709, no Fundão, onde também foi baptizado. Casou com sua prima Rosa Maria Pessoa, a 28/1/1733, no Fundão.…
Na documentação surge algumas vezes como fundidor, mas na Inquisição de Lisboa, aquando da sua prisão, a 28/3/1746, e no consequente acto de inventariação de valores, declarou-se como latoeiro, sem bens de raiz (tinha uma vinha ao Vale de Canas, junto ao Fundão, que vendera em 1745 por 45 mil réis)….»


Fundão é a sede de concelho da minha terra natal (uma aldeia com nome de mamífero, na vertente sul da Serra da Gardunha, na expressão feliz de um jovem autor português recentemente laureado com um prémio de prestígio).

Fundão é a terra onde vivem os meus pais há muitos anos. A primeira casa, onde morámos, tinha então o seguinte endereço postal: “F….., Vale de Canas, Fundão”. Naquele lugar, não havia, nesse tempo, mais que três casas. A nossa tinha à sua volta, por dois lados, uma vinha!

Ora, como sabemos agora, um dos tetravós do poeta do Livro do Desassossego, o citado Diogo Pessoa da Cunha, teve no Vale de Canas, junto ao Fundão, uma vinha!!! Muito Curioso. Nos anos que passei naquela casa, algures entre 1972 e 1975, bem me parecia ter cruzado com o Fernando Pessoa que certamente por ali vagueava, errante e perdido, à procura dos seus antepassados!

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