quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

D. Fernando, Infante de Portugal

A tentativa da conquista da cidade de Tânger, no Norte de África, não correu bem aos portugueses. A expedição foi comandada pelo Infante D. Henrique que não era um bom estratega militar. Desembarcou em Ceuta e depois foi até Tânger durante um mês em penosa jornada. Chegando lá, foi cercado. Resistiu durante um mês, mas depois rendeu-se para não morrerem ali todos. Comprometeu-se a entregar Ceuta, deixando como penhor o Infante D. Fernando, seu irmão. Porém, chegado a Portugal, foi decidido (em Cortes) não entregar Ceuta, sacrificando-se, assim, o Infante D. Fernando aos interesses do país.


D. Fernando, Infante de Portugal

Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.

Fernando Pessoa, in Mensagem

Neste lindo poema de Pessoa, ouvimos a voz do Infante Santo, assim apelidado por ter morrido nos cárceres de Fez, na maior escravatura que é possível imaginar.
Na versão inicial de Mensagem, este poema intitulava-se Gládio e alguns críticos literários consideram que este herói mártir se identifica com o próprio poeta, investido de uma dimensão messiânica, um eleito de Deus para conduzir uma santa guerra contra a morte do sonho, sacrificando-se desse modo, pela sua pátria.

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