terça-feira, 7 de maio de 2013

A mão que o poeta estende


A verdadeira mão

A verdadeira mão que o poeta estende
não tem dedos:
é um gesto que se perde
no próprio acto de dar-se

O poeta desaparece
na verdade da sua ausência
dissolve-se no biombo da escrita

O poema é
a única
a verdadeira mão que o poeta estende

E quando o poema é bom
não te aperta a mão:
aperta-te a garganta


Ana Hatherly
, em O Pavão Negro

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