Dentro de uma semana, vamos ter no meu Grupo de Leitura, da Casa Roque Gameiro, a presença do poeta José Fanha. Neste ínterim, o livro que estamos a ler para próxima discussão, no mesmo Grupo de Leitura, é “A Terra Sonâmbula”, de Mia Couto.
O acaso levou, assim, a que o Mia Couto se cruzasse com o José Fanha aqui nas minhas andanças.
Mia Couto é considerado, como sabemos, o operário da Língua Portuguesa. Atento a esta característica, o José Fanha dedicou-lhe, justamente, um poema com este título:
PARA O MIA COUTO
Elefantemos portanto.
Deixemos esta tão precária pele
Aprender outros saberes
Deixemos
Portantomente
O olhar do paquiderme
Ensinar ao passarinho
As paisagens do deslumbre
Das escritas mais antigas.
Permitamos que o vento sopre.
E que a pedra exista.
E que o sol dispare a sua fúria
Em todas as direcções.
E que a lua se entretenha
No seu jogo de brilhar.
Elefantemos portanto.
Ou,
Melhor dizendo,
Permitamos que um silêncio muito antigo
Venha
Carregado de silvos e sussurros
Venha
Conduzir-nos a palavra
Pelas veredas impalpáveis
Do mistério
José Fanha, in "Elogio dos Peixes, das Pedras e dos Simples"
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