Em Lisboa, há hoje uma boa oferta cultural. Não faltam eventos. Se quisermos, é só dar corda às sapatilhas. Foi o que eu fiz no passado Sábado. Participei numa iniciativa conjunta da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e das Paróquias da Baixa-Chiado, designada por “Itinerários da Fé – Fé, História e Arte de mãos dadas”.
O itinerário de Sábado iniciou-se às 10h e contemplou a visita às Igrejas de São Roque e Tesouro da Capela de São João Baptista, Igreja da Encarnação, Igreja dos Mártires e Igreja do Santíssimo Sacramento.
Já entrei vezes na Igreja de São Roque (não me cansarei de o fazer) e há sempre coisas que nos surpreendem. Desta vez, foi o encontro da sepultura de Simão Rodrigues. Figura um bocadinho sinistra. Talvez, por isso, ele está meio escondido, num mero corredor interior. Tão discreto que até o guia, que nos acompanhou na visita, confessou não se lembrar bem do caso...
Estranho, Simão Rodrigues foi, talvez, o maior inimigo da grande figura intelectual que foi Damião de Góis. Quando este regressou do seu périplo pela Europa (onde conviveu com grandes figuras da Cultura, como, por exemplo, Erasmo), caíram-lhe em cima os inimigos. À cabeça, esteve este Simão Rodrigues que chegou a Secretário-geral dos Jesuítas em Portugal.
Saímos e descemos até à próxima igreja - A Igreja de Nossa Senhora da Encarnação. Segundo nos relatou o guia, a primitiva igreja foi completamente arrasada pelo terramoto de 1755 e o consequente incêndio. Viria a ser restaurada anos mais tarde, de acordo com as orientações da arquitectura religiosa impostas pelo Marquês de Pombal.
No interior, existe, no altar-mor, uma magnífica escultura de Nossa Senhora da Encarnação, do escultor Machado de Castro. Na fachada, que vemos nesta fotografia, estão as imagens de Santa Catarina que faziam parte da antiga porta medieval.
Como se sabe, esta igreja situa-se em frente à Igreja de Nossa Senhora do Loreto, com a qual formou, em tempos, as Portas de Santa Catarina, junto à antiga muralha, e que eram, justamente, uma das entradas de Lisboa.
Não foi preciso andar muito para chegar à Igreja dos Mártires. Pelo caminho, um olhar ao poeta Chiado e ao poeta Fernando Pessoa. Eu, que sou pequeno, estou aqui em cima; tu, que és grande, estás aí em baixo, parece dizer o primeiro para o segundo. Adiante.
É importante lembrar que a Igreja dos Mártires só está neste sítio depois do terramoto. A primitiva Ermida dos Mártires (fundada, em memória dos "Mártires" que morreram na batalha pela conquista de Lisboa em 1147) situava-se no local onde mais tarde se ergueu o Convento de S. Francisco. A actual igreja foi construída, neste local, a partir de 1768, por Reinaldo Manuel dos Santos. À esquerda, ao entrar, temos o Baptistério, podendo-se ler a seguinte inscrição “Nesta paróquia se administrou o primeiro baptismo depois da tomada de Lisboa aos Mouros no ano de 1147”. Já agora, não está lá nenhuma inscrição, mas sabemos que foi nesta pia baptismal que foi baptizado o nosso poeta da Mensagem.
Saímos e descemos agora a Rua Garrett. Estamos no coração de Lisboa. Dirigimo-nos para a última visita - A Igreja do Santíssimo Sacramento. Foi também criada em 1147, após D. Afonso Henriques, ter conquistado Lisboa aos mouros. Começou por ser uma pequena ermida, mas no ano de 1750 era uma igreja grandiosa. Foi completamente destruída pelo terramoto de 1755. Na sua reconstrução, utilizaram-se os melhores dos recursos então disponíveis: pedra, mármores, madeiras, ferragens. Nada de estuques. Esta igreja, contrariamente às duas última visitas, foi reconstruída no local primitivo.
Finalmente, duas ideias que retive deste itinerário.
A primeira, salvo a Igreja de São Roque, são igrejas reconstruídas na sequência do terramoto que devastou a cidade de Lisboa no dia 1 de Novembro de 1755. Por isso, (re)construídas já no tempo da Contra-Reforma. Aspecto curioso, entre outros, é deixar de haver as capelas laterais. Só altares. Pretende-se que toda a comunidade esteja concentrada no acto eucarístico que se celebra no altar-mor. Deste modo, foi posto fim à "missa de família" na expressão de Aquilino Ribeiro, em "A Casa Grande de Romarigães".
A segunda, é o dedo sempre presente do Marquês de Pombal. Ele foi, como se sabe, o estadista responsável pela reconstrução da cidade de Lisboa depois do grande terramoto. Com ideias arquitectónicas muito próprias. As igrejas são integradas na perfeição na malha urbana. Tão integradas que só falta o número de polícia!...
Sem comentários:
Enviar um comentário