Sísifo
Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga, in Diário XIII, Coimbra 27 de Dezembro de 1977
No início de cada ano, fica sempre bem um poema que nos fale em "Recomeçar". E este poema de Miguel Torga convoca-nos justamente nesse sentido: a não desistir, a não descansar, a recomeçar, sempre que for preciso.
Curiosamente, este poema é muitas vezes conhecido por "Recomeçar", mas o seu título é Sísifo, o homem que, segundo a mitologia grega, foi condenado pelos deuses a empurrar um rochedo por uma montanha acima, mas quando estava quase lá, o rochedo caia para trás, e Sísifo tinha que recomeçar. E assim sucessivamente.
Miguel Torga não escolheu o título por mero acaso. Sísifo representa as diversas situações da nossa vida: quando estamos prestes a cumprir um objectivo, algo, porém, nos obriga a começar de novo. Sísifo é então o símbolo do recomeço.
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