domingo, 12 de abril de 2015

Fialho de Almeida, o herói alentejano

Hoje apetece-me falar de um escritor que não admiro especialmente. Tem muitos admiradores, escrevia muito bem, mas não me é simpático. Uma prosa cheia de sarcasmo, inveja, insídia...

Fialho de Almeida nasceu em Vila de Frades em 1857 e veio a falecer na localidade de Cuba, onde foi sepultado. 

Quis passar a ideia, no livro "À Esquina”, que nasceu pobre, mas não é verdade. Era filho do professor primário da terra e a mãe tinha propriedades. O pai queria que ele fosse boticário como o tio Valentim. Veio estudar para Lisboa, para o Colégio Conde Barão, um do mais prestigiados da capital. Durante 4 anos. Depois esteve empregado num farmácia. Foi ajudante de farmácia durante 7 anos, penosos e longos anos. Disse horrores desses tempos. E brincava com os clientes. É ele que conta: um dia, um homem foi à farmácia e pediu um remédio contra a traça que tinha em casa. «Leva naftalina», disse o Fialho. «E como se faz?», perguntou o cliente. «Homem, é fácil...você põe-se à porta de casa e, quando vem entrar uma traça, atira-lhe com uma bola de naftalina e mata-a!» É ele que conta. Um brincalhão, este Fialho...

Entretanto, o pai morreu e a mezada, agora enviada pela mãe, teve de diminuir. Tinha muito talento para escrever, sem dúvida. Com 22 anos, escreveu um livro de contos, com destaque para o conto “A Ruiva”. Uma história tétrica. Uma rapariga virgem que se apaixonava por homens mortos na casa mortuária! 

Em 1891 publicou “Os Gatos”. Fazia critica do que ia acontecendo. Hoje, a crítica tenta compreender e esclarecer. Fialho de Almeida dizia que, se tratava de casos sujos, não podia torná-los limpos. O Professor Costa Pimpão fez um estudo desenvolvido da obra deste escritor e, no final, opinou que o que faltou a Fialho de Almeida foi assuntos.

Fialho de Almeida casou, aos 36 anos, com uma senhora muito rica. Porém, esta morreu ao fim de 10 meses. Fialho não escreveu uma palavra de saudade, nem de nada acerca da falecida esposa. Morreu de tuberculose, quando Fialho estava a termas em Caldas de Felgueiras.

Entre as suas obras mais notáveis, encontram-se "País das Uvas", "Contos" e os já citados "Gatos". Colaborou em diversas publicações periódicas, nomeadamente em jornais humorísticos.

Foi um republicano agressivo. Atacou ferozmente os reis D. Luís e D. Carlos. Adepto do regicídio, inclusive. Escreveu a célebre "Carta a D. Luís sobre as vantagens de ser assassinado" Diz ele, «V.M. tem tudo a ganhar em ser assassinado. Mexa os pauzinhos p´ra isso. despache-se!»

Estranhamente, Fialho de Almeida, em fim de vida, converteu-se ao regime monárquico, no tempo de João Franco. Diz-se que este o terá convidado para Embaixador. O que não veio a acontecer... 

Profundamente desgostoso, refugiou-se no seu Alentejo. Tornou-se lavrador em Cuba, mas continuou a publicar artigos para jornais, e a escrever vários contos e crónicas.  Agora contra a República. 

De todo o modo, em toda a sua obra há um forte sentimento de solidariedade para com os trabalhadores, sobretudo os trabalhadores alentejanos, os ceifeiros em particular. 

Morreu quando regressava das suas propriedades. “Toca as mulas que eu quero morrer em casa”, disse ele para o cocheiro. A história diz que morreu antes de entrar em casa. 

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