segunda-feira, 26 de março de 2018

Ouvindo Schubert...

Hoje, não penso em nada.
Ah! Não te importes com isso,
o gato não fugirá,
as portas estão fechadas.
O resto, a vida o seu rumo tomará,
até lá, ficarei aqui serena,
olho para ontem, vejo o amanhã,
eu que adoro nascer!
Acabo-me em ti a ver-te voar
como, um pássaro, livremente,
de ti, para mim.
Invoco, silenciosamente,
Schubert fluindo o amor,
no oásis do teu olhar,
sem pudor, e intensamente,
vestida de sedas transparentes,
serei tua, perdida e nua!

Mariana Asper, in fb de 25 de Março de 2018


domingo, 25 de março de 2018

Porque hoje é Domingo de Ramos

Domingo de Ramos

Louvo o Senhor com gestos de alecrim,
Que os ramos são braços do coração,
Da fé que no domingo, pede por mim,
Que a semana respire ressurreição!


Francisco Caeiro, in fb, 25/3/2018 (Domingo de Ramos)

quarta-feira, 21 de março de 2018

Devaneios cruzadísticos │Carlos Drummond de Andrade

O título do poema do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade, pedido com a resolução do passatempo referente ao mês de Março de 2018, é 

Para sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.

Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade, in “Lição de coisas”



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Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita; Baby; Caba; Corsário; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Nunes; Fernando Semana; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Bentes; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Lulopes; Mafirevi; Magno; Magriço; Manuel Amaro, Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lurdes; My Lord; Neneiva; Olidino; Osair Kiesling; Paulo Freixinho; Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva, Seven, Socrispim, Somar e Virgílio Atalaya.

A todos obrigado. Até ao próximo!

quarta-feira, 14 de março de 2018

Epitalâmio Litoral 

Este foi o mar que teve a cor de jasmins desmaiados na
manhã do poema. Separei as suas pétalas, onda a onda, até
encontrar o centro da divisão: um núcleo de pólen sugado
pelas abelhas, ávidas do seu sabor de sílabas doces. Colei-me
às suas asas, para também eu beber essa poeira húmida
de sexo, que o vento espalha na praia onde um deus
morto deu à costa. Juntei-me à multidão de pescadores
que o rodearam, furando-lhe a pele ácida com as suas
canas; e espreitei-lhe a boca, onde se viam
ainda as feridas do anzol. O seu cheiro
atraía as aves e os cães, e segui os homens descalços até
à taberna onde se sentaram, limpando a planta dos pés do
líquen divino que se lhes agarrava, bebendo aguardente
para esquecerem as manchas que se espalhavam pelos
seus corpos, como doença de que o álcool os não
curava. Outrora, tinham sabido as orações rituais, e
a sua língua servia-lhes de mezinha contra o silêncio
que escorria por entre as constelações, quando olhavam
o céu e se lembravam desse deus que se prendera
às sus redes. Mas a refeição não os deixava pensar;
e comiam com as mãos, para não perder tempo, espreitando
o horizonte em busca de um sinal, para se levantarem
e correrem para o cais. Quantos dias passaram, sem que nada
aparecesse, ou quando surgia algo, logo se dissipava,
como sombra, ou miragem, ou simples refracção de luz
sob a palma da mão que lhes servia de óculo. Um grito nascia-lhes
dessa infecção que os roía por dentro e lhes comia a pele
da alma, até ao interior do ser. Punham-se de pé, subiam para
cima da mesa, e tentavam ver ainda mais longe, como se
o seu sonho pudesse contaminar os limites da Terra. “ A que
Deus roubaste esse grito?” perguntava-me a mulher. E eles
fugiam-lhe, deixando-me só com ela, ao balcão, para que
eu suportasse sozinho o seu olhar manchado pela solidão
das noites. Eu puxava-lhe as pálpebras para cima, como se
abrisse a flor inicial, e descobria nas formas dessas manchas
um continente iluminado pelo desejo. A minha boca colava-se
aos seus lábios, e nesse extremo da descoberta eu via os
seus olhos fecharem-se, deixando-me na terra de ninguém,
às portas do país que nunca habitarei. “ porque ficaste
comigo?” pergunta-me ela. E eu deixo-a, sem lhe responder,
vendo o tempo passar no espelho dos rios, como um pássaro
que se perdeu nas últimas migrações, e procura o rumo. Levo
comigo a sua imagem, e todas as noites, ao adormecer, ela
sai de dentro da minha cabeça, e junta-se a todas essas que
fazem parte do ossuário de memórias que inundo com o
incenso da melancolia, para que regressem à vida. No entanto
a sombra da árvore , entrando pela janela, estende-se sobre
todo o quarto, e um ruído de vento limpa-me o espírito,
deixando-me vazio como as grandes colinas da noite, onde
as vinhas estéreis prosseguem o seu trabalho, semeando
nas valas da treva o sémen da sua lepra. Hei-de beber
esse licor amargo, até chegar ao sabor de rosas que só
se encontra no fim do copo, por entre as borras da bebida;
e cuspirei um perfume nupcial sobre a mesa do amor, onde
a mulher continua sentada, à minha espera, para me ensinar
a vida com o seu gesto de névoa.

Nuno Júdice│ As coisas mais simples

sexta-feira, 9 de março de 2018

José Régio e o irmão charadista

Acabadinho de ler...

[…] Lá foi (para o Brasil), teria uns dezassete ou dezoito anos. E nunca mais o vimos, embora nunca deixasse de nos escrever…Ora, o Antonino! Faleceu quase repentinamente, com sessenta e poucos anos de idade, no quarto da pensão em que vivia, tendo vivido sempre mais ou menos solitário. Tão violento fora em criança e jovem, dedicava-se agora a diversões pacíficas: a pesca e o charadismo. […] 

José Régio │Confissão Dum Homem Religioso

Será que o Antonino deixou rasto em alguma tertúlia charadista brasileira Será que colaborou em alguma tertúlia charadista portuguesa? E o próprio Régio terá sido tentado? Vou tentar saber. 

quinta-feira, 1 de março de 2018

Devaneios cruzadísticos │Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade é considerado um dos principais poetas da segunda geração do Modernismo brasileiro, considerado por muitos o mais influente poeta brasileiro do século XX.

Drummond nasceu em 1902 na cidade mineira de Itabira, tendo começado a sua carreira de escritor como colaborador do “Diário de Minas”, que aglutinava os adeptos do movimento modernista mineiro. A sua estreia literária aconteceu em 1930 com o livro “Alguma Poesia”. 

Da sua vasta obra literária, destacam-se as seguintes: “Brejo das Almas” (1934), “Elegia” (1938), “Sentimento do Mundo” (1940), “José” (1942), “A Rosa do Povo” (1945), “Claro Enigma” (1951), “Lição de Coisas” (1962), , "Boitempo" (1968), “Corpo” (1984), “Amar se Aprende Amando” (1985), “O Avesso das Coisas” (1988). Drummond também traduziu obras de Balzac, Marcel Proust, García Lorca e Molière. E vários de seus livros foram traduzidos para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco e checo.

Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro em 17 de Agosto de 1987, dez dias após a morte de sua filha única, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.

Não posso deixar de recordar aqui o meu primeiro contacto com o universo criador do grande escritor brasileiro, aquele de quem José Saramago disse que teria merecido, mais que ele, ter ganho o Prémio Nobel da Literatura.

Foi nos anos 80 que tive esse privilégio através do "Jornal do Fundão", o jornal da minha terra, no qual Drummond publicava uma crónica, em exclusivo para Portugal. Conheci então a sua prosa, um espaço de palavras luminosas. A poesia só veio mais tarde.

É com enorme prazer que convido os meus amigos a resolver este passatempo de Palavras Cruzadas e, no final, encontrar o título (2 palavras nas horizontais) de um poema do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987).


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HORIZONTAIS: 1 – Sujeita; Irregular. 2 – Preposição que designa fim; Remates. 3 – Muda; Novilho de um ano. 4 – Arado de varredouro, chamado também labrego [regionalismo]; Iço. 5 – Estime; Lavro. 6 – Luto; Segura; Poeira. 7 – Elos; Associação da Imprensa Diária [sigla]. 8 – Fedor; Sem fim. 9 – Maça; Curar. 10 – Prejudicava; Cara [popular]. 11 – Terna; Pumba!. 

VERTICAIS: 1 – Tempero; Fila. 2 – Cama; Assentimento. 3 – Dinheiro [coloquial]; Destino. 4 – Levante; Mexer [antiquado]. 5 – Banquete; Partícula. 6 – Símbolo do sódio; Rogais; Aquelas. 7 – Escava; Elevação da voz [plural]. 8 – Mão-cheia [regionalismo]; Dano. 9 – Alvoroço; Agrada. 10 – Vivacidade [Angola]; Ladrão. 11 – Sufixo nominal que ocorre em adjectivos derivados de substantivos e exprime a ideia de quantidade; Regras.

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Aceito respostas até dia 20 de Março, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes.

Vemo-nos por aqui?