sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Devaneios cruzadísticos │Nuno Júdice

"A Fonte da Vida" é o título de uma obra do poeta Nuno Júdice, pedido com a resolução do passatempo referente ao mês de Outubro de 2018.


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Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita; Baby; Caba; Corsário; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Fernando Semana; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Bentes; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Lulopes; Mafirevi; Magno; Magriço; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lurdes; My Lord; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar e Virgílio Atalaya.

Até ao próximo!

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Um poema de núpcias

Epitalâmio Litoral

Este foi o mar que teve a cor de jasmins desmaiados na
manhã do poema. Separei as suas pétalas, onda a onda, até
encontrar o centro da divisão: um núcleo de pólen sugado
pelas abelhas, ávidas do seu sabor de sílabas doces. Colei-me
às suas asas, para também eu beber essa poeira húmida
de sexo, que o vento espalha na praia onde um deus
morto deu à costa. Juntei-me à multidão de pescadores
que o rodearam, furando-lhe a pele ácida com as suas
canas; e espreitei-lhe a boca, onde se viam
ainda as feridas do anzol. O seu cheiro
atraía as aves e os cães, e segui os homens descalços até
à taberna onde se sentaram, limpando a planta dos pés do
líquen divino que se lhes agarrava, bebendo aguardente
para esquecerem as manchas que se espalhavam pelos
seus corpos, como doença de que o álcool os não
curava. Outrora, tinham sabido as orações rituais, e
a sua língua servia-lhes de mezinha contra o silêncio
que escorria por entre as constelações, quando olhavam
o céu e se lembravam desse deus que se prendera
às sus redes. Mas a refeição não os deixava pensar;
e comiam com as mãos, para não perder tempo, espreitando
o horizonte em busca de um sinal, para se levantarem
e correrem para o cais. Quantos dias passaram, sem que nada
aparecesse, ou quando surgia algo, logo se dissipava,
como sombra, ou miragem, ou simples refracção de luz
sob a palma da mão que lhes servia de óculo. Um grito nascia-lhes
dessa infecção que os roía por dentro e lhes comia a pele
da alma, até ao interior do ser. Punham-se de pé, subiam para
cima da mesa, e tentavam ver ainda mais longe, como se
o seu sonho pudesse contaminar os limites da Terra. “ A que
Deus roubaste esse grito?” perguntava-me a mulher. E eles
fugiam-lhe, deixando-me só com ela, ao balcão, para que
eu suportasse sozinho o seu olhar manchado pela solidão
das noites. Eu puxava-lhe as pálpebras para cima, como se
abrisse a flor inicial, e descobria nas formas dessas manchas
um continente iluminado pelo desejo. A minha boca colava-se
aos seus lábios, e nesse extremo da descoberta eu via os
seus olhos fecharem-se, deixando-me na terra de ninguém,
às portas do país que nunca habitarei. “ porque ficaste
comigo?” pergunta-me ela. E eu deixo-a, sem lhe responder,
vendo o tempo passar no espelho dos rios, como um pássaro
que se perdeu nas últimas migrações, e procura o rumo. Levo
comigo a sua imagem, e todas as noites, ao adormecer, ela
sai de dentro da minha cabeça, e junta-se a todas essas que
fazem parte do ossuário de memórias que inundo com o
incenso da melancolia, para que regressem à vida. No entanto
a sombra da árvore , entrando pela janela, estende-se sobre
todo o quarto, e um ruído de vento limpa-me o espírito,
deixando-me vazio como as grandes colinas da noite, onde
as vinhas estéreis prosseguem o seu trabalho, semeando
nas valas da treva o sémen da sua lepra. Hei-de beber
esse licor amargo, até chegar ao sabor de rosas que só
se encontra no fim do copo, por entre as borras da bebida;
e cuspirei um perfume nupcial sobre a mesa do amor, onde
a mulher continua sentada, à minha espera, para me ensinar
a vida com o seu gesto de névoa.

Nuno Júdice│ As coisas mais simples

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

António Ramos Rosa - aniversário

Parque dos Poetas de Oeiras
Escultura de Francisco Simões

Hoje celebramos o dia de aniversário de António Ramos Rosa (17-10-1924), onde quer que esteja a sua "presença" e a sua palavra estarão sempre entre nós!


Este homem que pensou
com uma pedra na mão
transformá-la num pão
transformá-la num beijo


Este homem que parou
no meio da sua vida
e se sentiu mais leve
que a sua própria sombra

António Ramos Rosa


sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Em tempo de vindimas...

A Vindima de Eros

E de novo este céu desenrola a sua matéria
de outono. Com a precisão do vindimador, agarro
as suas vides e corto os cachos de névoa que
caem sobre a terra. Ponho-os no carro do poema,
levo-os para a adega abandonada do sonho
para os transformar num vinho de palavras
feitas com as sílabas mais líquidas, as que se
podem beber pela taça da estrofe. E um fumo
da antiga inspiração evola-se da cuba
dos mistérios. As raparigas descalças, com
os seus aventais de sol, sobem para o lagar
e pisam as uvas. O cheiro do sumo sobe
até ao fundo da sua cabeça, e antes que fiquem
tontas começam a contar as memórias perecíveis,
as que nasceram de uma fuga nocturna
pelos campos impunes do estio. Espero
que acabem o seu trabalho, e vejo-as sair com
as pernas roxas até aos joelhos, e as saias subidas
até às coxas. Os seus olhos rodam como
as velas de um moinho ébrio de vento; e
abrem os braços à luz, como se desejassem
que ela limpasse os seus corpos da espuma
que os envolve. E canto esses corpos, como
se elas me pedissem que transformasse
o mosto dos seus lábios no vermelho puro
da madrugada. Assim, uma levada de versos
recitados nos rituais da origem inunda
os seus seios e restitui-lhes a brancura inicial,
enquanto me obrigam a beber os líquidos
que os seus pés destilaram. E apenas lhes peço,
quando vestem as suas túnicas de nuvem,
que atravessem de novo as videiras decepadas
e abracem os vindimadores, beijando-os,
para que eles provem o vinho novo dos seus lábios.

Nuno Júdice, in A Convergência dos Ventos, 2015

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Os filhos de Álvaro de Campos

Os filhos de Álvaro de Campos, segundo Eduardo Lourenço, são os poetas Nuno Júdice e Ruy Belo. Aqui estão eles, dialogando sobre pássaros.


Variações com Pássaros

e Versos de Ruy Belo



Eu queria olhar os pássaros

pelas proposições de ruy belo: vê-los

nos galhos das árvores, como frutos

De verão. E queria colhê-los,

como se cada asa fosse um verso,

para fazer este poema voar

“ com uma referência ao coração”.


Assim, poderia contar as pulsações

do poema como quem conta as sílabas;

e ver as palavras juntarem-se

como os pássaros do outono, varejando

com a “inúmera mão” do poeta

natureza e filosofia, folhas

e aves caindo da sua música.


E estenderia os olhos dos pássaros

nesta folha, abertos como a alma das árvores

no outono, para lhes roubar o amor

que os pássaros levam para lá do horizonte

para onde as nuvens os empurram. Contá-los-ia

pelos dedos de ruy belo, nessa forma

complicada que “não se dá bem na poesia”.


Depois, devolvo aos pássaros os seus

olhos, e ao poeta os seus versos; mas guardo

o amor que sobrou sob os ramos das árvores

de onde os pássaros partiram, deixando vazio

o lugar em que os amantes se encontram,

vendo “que pássaros emanam das árvores”

quando o seu silêncio enche o campo.


E nestes pássaros de ruy belo também

“ eu passo e muda-se-me o coração”.


Nuno Júdice, in Geometria Variável

domingo, 7 de outubro de 2018

Exercício com palavras

Exercício

Pego num pedaço de silêncio. Parto-o ao meio,
e vejo saírem de dentro dele as palavras que
ficaram por dizer. Umas, meto-as num frasco
com o álcool da memória, para que se
transformem num licor de remorso; outras,
guardo-as na cabeça para as dizer, um dia,
a quem me perguntou o que significavam.
Mas o silêncio de onde as palavras saíram
volta a espalhar-se sobre elas. Bebo o licor
do remorso; e tiro da cabeça as outras palavras
que lá ficaram, até o ruído desaparecer, e só
o silêncio ficar, inteiro, sem nada por dentro.

Nuno Júdice

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Devaneios cruzadísticos │Nuno Júdice

Nuno Júdice nasceu na Mexilhoeira Grande, Portimão, Algarve, em 1949.  Formou-se em Filologia Românica pela Universidade Clássica de Lisboa. É professor associado da Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou em 1989 com uma tese sobre Literatura Medieval.

Entre 1997 e 2004 desempenhou as funções de Conselheiro Cultural e Director do Instituto Camões em Paris. É autor de estudos sobre teoria da literatura e literatura portuguesa. Entre outras, publicou as edições de Sonetos de Antero de Quental, do Cancioneiro de D. Dinis e Os Infortúnios Trágicos da Constante Florinda de Gaspar Pires Rebelo.

O seu primeiro livro de poesia - A Noção de Poema - data de 1972.

Recebeu os mais importantes prémios de poesia portuguesa: Pen Clube, em 1985, Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus, em 1990, e o Prémio da Associação Portuguesa de Escritores, em 1994.

O romance Por Todos os Séculos recebeu o Prémio Bordalo da Casa da Imprensa e O Anjo da Tempestade o Prémio Fernando Namora da Sociedade Estoril-Sol.

Tem livros traduzidos em várias línguas, destacando-se Espanha, onde tem uma antologia na colecção «Visor» de poesia, e França, onde está publicado na colecção Poésie/Galimard. 

Dirigiu, até 1999, a revista Tabacaria da Casa Fernando Pessoa (na opinião do consagrado Eduardo Lourenço, os poetas Nuno Júdice e Ruy Belo são "dois filhos de Álvaro de Campos"). Em 2009 assumiu a direcção da revista Colóquio-Letras da Fundação Calouste Gulbenkian.

Em 2013, Nuno Júdice foi distinguido com o XXII Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana (Espanha); em 2014 , com o Prémio de Poesia Poetas del Mundo Latino Victor Sandoval (México); em 2015, com o prémio Argana de Poesia, da Maison de la Poésie de Marrocos e o Prémio Literário Fundação Inês de Castro - Tributo de Consagração; e em 2016, com o Prémio Internacional de Poesia Europa in Versi/Prémio Carreira (Itália) e o Prémio El Ojo Crítico Iberoamericano de Radio Nacional de Espanha.

Fonte: Sinopse │" O Mito de Europa", de Nuno Júdice

O convite é, meus amigos, resolver este problema de palavras cruzadas e, no final, encontrar o título de uma obra (4 palavras nas horizontais) da autoria do ensaísta e poeta português Nuno Júdice (Portimão, 1949).


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HORIZONTAIS: 1 – Estimulo; Agoura. 2 – Toca; Arco. 3 – Indício; Cingir; Notei. 4 – Nascente; Buscas. 5 – Avezo. 6De + a [contracção]; Sufixo nominal, de origem grega, que exprime a ideia de descendência; Difícil. 7 – Melancia [Angola, Moçambique]. 8 – Dinheiro [coloquial]; Testemunha. 9 – Lutécio [símbolo químico]; Estimas; Andar. 10 – Energia; Falha. 11 – Lugar elevado; Entusiasmo [figurado]. 

VERTICAIS: 1 – Oculto [figurado]; Reserva. 2 – Tinjo; Funesto. 3 – O [arcaico]; Animal comestível [Moçambique]; Preposição que designa modo. 4 – Continua; Melindrai. 5 – Ameaças. 6 – Actínio [símbolo químico]; Partida; Interjeição usada para interromper. 7 – Pessoa que faz parte da acção de uma narrativa. 8 – Patife; História. 9 – Na moda [coloquial]; Agarras; Mais [antiquado]. 10 – Branqueja; Furto. 11 – Penteia; Espantar.


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Este problema respeita as regras gramaticais da acentuação gráfica.

Aceito respostas até dia 25 de Outubro, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?