sábado, 26 de janeiro de 2019

Devaneios cruzadísticos │Sophia de Mello Breyner

"A Menina do Mar" é o título de uma obra da poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner, pedido com a resolução do passatempo referente ao mês de Janeiro de 2019.


(na capa uma ilustração de Sarah Afonso)


1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
1
C
A
S
O
S

P
U
S
E
R
2
O
B
E
R
A

A
S
I

A
3
M
O

A
P
U
R
E

I
S
4
U
N
A

A
M
E

A
Ç
O
5
M
O
F
O

A
D
I
T
A
S
6


I
R
A

E
R
A


7
M
E
N
I
N
A

O
C
A
S
8
E
C
A

E
T
A

A
B
A
9
D
O

M
I
O
L
O

A
I
10
R

M
A
R

A
V
E
N
A
11
A
V
I
S
A

R
E
L
E
S

Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita; Baby; Caba; Candy; Corsário; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Fernando Semana; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Bentes; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Lulopes; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lurdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

Premiado: SOCRISPIM, Viana do Castelo
Prémio Porto Editora

Até ao próximo!

domingo, 20 de janeiro de 2019

O Quarto do Filho


Hoje, à tarde, na RtpMemória, tive a oportunidade de rever “O Quarto do Filho”, um filme de Nanni Moretti. Impressionante. Retrato implacável. O dia fatídico. O acidente. A dor. A revolta. A culpa. A desorganização da família. A discussão entre o casal. A mulher que acha que o marido não quer falar do assunto.  O nervosismo que se instala em cada um (a cena da filha que, por nada, discute com o árbitro num jogo de basquetebol). A não aceitação de ajuda de terceiros, mesmo a do padre na missa do sétimo dia. “Mas que frase aquela, sem sentido!” - diz ele. “Não sabemos a que horas vem o ladrão, se soubéssemos, trancávamos todas as portas” - dissera o padre, citando o Evangelho. E no entanto o pai não aceita de modo nenhum. É uma revolta muito grande. Por fim, uma carta redentora. Todos agarram aquela oportunidade com força. Para tanto, a família viaja de carro, toda da noite, para ajudar a ex-namorada do filho. No carro todos dormem, à excepção do casal. Diz ele para a mulher: “Mantemo-nos acordados um ao outro”. 
E eu? E nós? Será que, um dia, chegará a tal carta redentora?

sábado, 19 de janeiro de 2019

Poema de Eugénio para Sophia


Não sei porque floriram no meu rosto
os olhos e os rostos que há em ti.
Floriram por acaso, ao sol de agosto
sem mesmo haver agosto ou sol em mim.
Não sei porque floriram: se o orvalho as queima...
(Ponho as mãos nos olhos para os proteger!)
Tão estranho! florirem no meu rosto
olhos e rostos que não posso ver.

Fevereiro de 1946

Eugénio de Andrade
(19 de Janeiro de 1923 — 13 de Junho de 2005)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Quando beberes vinho, fá-lo com moderação e Alegria


O vinho na Bíblia

A primeira personagem bíblica a produzir vinho é Noé. Após o Dilúvio, a sua primeira ação foi plantar uma vinha para produzir o vinho que haveria de beber. Infelizmente, ele inebria-se gravemente, o que conduz a toda uma história a ler em Génesis 9,18-27. Já as filhas de Lot vão embebedar o seu pai para dormir com ele (Génesis 19,30-38). O vinho é, pois, símbolo da perda de controlo de si.

Está também associado à sexualidade. O Cântico dos Cânticos serve-se da imagem do vinho para evocar o amor e o prazer (5,1). O Apocalipse fala do vinho para evocar a prostituição e a sedução da idolatria (14,8).

Não é surpreendente ver que o vinho é o sinal da alegria: «Vai, come o teu pão com alegria e bebe com prazer o teu vinho, porque a Deus agradam as tuas obras» (Qohélet 9,7).

Além disso, é símbolo da vida, que contribui para a plenitude da existência (Provérbios 31,6 e Ben Sirá 31,27: «O vinho é como a vida para os homens,se o beberes moderadamente. Que vida é a do homem a quem falta o vinho? Ele foi criado para alegria dos homens»). Ao contrário, a ausência de vinho evoca a morte, o luto ou a provação (Sofonias 1,13).

Os homens que querem consagrar-se completamente a Deus, denominados “nazireus”, privam-se de beber vinho: «O homem ou mulher, que cumprir um voto de nazirato para se consagrar ao Senhor, há de abster-se de vinho e de bebida inebriante» (Números 6,2-3).

Nesta palavra atribuída a Jesus encontra-se múltiplos símbolos associados ao vinho: a alegria, a provação, vida/morte, a aliança e o banquete com Deus

Ele é também o símbolo da bênção de Deus (Génesis 27,28) e é utilizado para simbolizar a aliança entre Deus e o seu povo. Oferece-se vinho a Deus sobre o altar aquando dos sacrifícios (Êxodo 29,40).

O vinho é igualmente importante para evocar o banquete com Deus no final dos tempos: «No monte Sião,o Senhor do universo prepara para todos os povos um banquete de carnes gordas, acompanhadas de vinhos velhos, carnes gordas e saborosas, vinhos velhos e bem tratados» (Isaías 25,6).

No Novo Testamento, o vinho é usado aquando das festas, como nas bodas de Caná (João 2). O vinho novo que é preciso colocar em odres novos é uma imagem do Evangelho, da Boa Nova a proclamar (Marcos 2,22).

Jesus e os seus discípulos são acusados de serem glutões e bebedores de vinho, enquanto que João Batista (um nazireu) não bebia (Mateus 11,19).

Por fim, na última refeição, ao lado do pão está a taça de vinho: «Depois, tomou o cálice, deu graças e entregou-lho. Todos beberam dele. E Ele disse-lhes: “Isto é o meu sangue da aliança, que vai ser derramado por todos. Em verdade vos digo: não voltarei a beber do fruto da videira até ao dia em que o beba, novo, no Reino de Deus”» (Marcos 14, 23-25). Nesta palavra atribuída a Jesus encontra-se múltiplos símbolos associados ao vinho: a alegria, a provação, vida/morte, a aliança e o banquete com Deus.

Da próxima vez que beber vinho, faça-o na alegria e na moderação. Depois, erga um copo pensando na aliança com Deus e no banquete que nos espera no Reino de Deus.

Sébastian Doane
In Interbible
Trad.: Rui Jorge Martins

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Sophia e o mar



Quando eu morrer

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar

De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.


Sophia de Mello Breyner

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O caminho de Sophia


O Caminho da Manhã 

Vais pela estrada que é de terra amarela e quase sem nenhuma sombra. As cigarras cantarão o silêncio de bronze. À tua direita irá primeiro um muro caiado que desenha a curva da estrada. Depois encontrarás as figueiras transparentes e enroladas; mas os seus ramos não dão nenhuma sombra. E assim irás sempre em frente com a pesada mão do Sol pousada nos teus ombros, mas conduzida por uma luz levíssima e fresca. Até chegares às muralhas antigas da cidade que estão em ruínas. Passa debaixo da porta e vai pelas pequenas ruas estreitas, direitas e brancas, até encontrares em frente do mar uma grande praça quadrada e clara que tem no centro uma estátua. Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma alta parede amarela. Aí deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o visível se vê até ao fim. E olha bem o branco, o puro branco, o branco de cal onde a luz cai a direito. Também ali entre a cidade e a água não encontrarás nenhuma sombra; abriga-te por isso no sopro corrido e fresco do mar. Entra no mercado e vira à tua direita e ao terceiro homem que encontrares em frente da terceira banca de pedra compra peixes. Os peixes são azuis e brilhantes e escuros com malhas pretas. E o homem há-de pedir-te que vejas como as suas guelras são encarnadas e que vejas bem como o seu azul é profundo e como eles cheiram realmente, realmente a mar. Depois verás peixes pretos e vermelhos e cor de rosa e cor de prata. E verás os polvos cor de pedra e as conchas, os búzios e as espadas do mar. E a luz se tornará líquida e o próprio ar salgado e um caranguejo irá correndo sobre uma mesa de pedra. À tua direita então verás uma escada: sobe depressa mas sem tocar no velho cego que desce devagar. E ao cimo da escada está uma mulher de meia idade com rugas finas e leves na cara. E tem ao pescoço uma medalha de ouro com o retrato do filho que morreu. Pede-lhe que te dê um ramo de louro, um ramo de orégãos, um ramo de salsa e um ramo de hortelã. Mais adiante compra figos pretos: mas os figos não são pretos mas azuis e dentro são cor de rosa e de todos eles corre uma lágrima de mel. Depois vai de vendedor em vendedor e enche os teus cestos de frutos, hortaliças, ervas, orvalhos e limões. Depois desce a escada, sai do mercado e caminha para o centro da cidade. Agora aí verás que ao longo das paredes nasceu uma serpente de sombra azul, estreita e comprida. Caminha rente às casas. Num dos teus ombros pousará a mão da sombra, no outro a mão do Sol. 
Caminha até encontrares uma igreja alta e quadrada. Lá dentro ficarás ajoelhada na penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos. Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível. 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Cesário Verde aos olhos de Sophia

Cesário Verde

Quis dizer o mais claro e o mais corrente
Em fala chã e em lúcida esquadria
Ser e dizer na justa luz do dia
Falar claro falar limpo falar rente
Porém nas roucas ruas da cidade
A nítida pupila se alucina
Cães se miram no vidro de retina
E ele vai naufragando como um barco
Amou vinhas e searas e campinas
Horizontes honestos e lavados
Mas bebeu a cidade a longos tragos
Deambulou por praças por esquinas
Fugiu da peste e da melancolia
Livre se quis e não servo dos fados
Diurno se quis - porém a luzidia
Noite assombrou os olhos dilatados
Reflectindo o tremor da luz nas margens
Entre ruelas vê-se ao fundo o rio
Ele o viu com seus olhos de navio
Atentos à surpresa das imagens

Sophia de Mello Breyner, in "Ilhas"

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

"A Estrela" de Sophia

A Estrela

Eu caminhei na noite
Entre silêncio e frio
Só uma estrela secreta me guiava.

Grandes perigos na noite me apareceram
Da minha estrela julguei que eu a julgara
Verdadeira sendo ela só reflexo
De uma cidade a néon enfeitada.

A minha solidão me pareceu coroa
Sinal de perfeição em minha fronte
Mas vi quando no vento me humilhava
Que a coroa que eu levava era de um ferro
Tão pesado que toda me dobrava.

Do frio das montanhas eu pensei
«Minha pureza me cerca e me rodeia»
Porém meu pensamento apodreceu
E a pureza das coisas cintilava
E eu vi que a limpidez não era eu.

E a fraqueza da carne e a miragem do espírito
Em monstruosa voz se transformaram
Disse às pedras do monte que falassem
Mas elas como pedras se calaram
Sozinha me vi delirante e perdida
E uma estrela serena me espantava.

E eu caminhei na noite minha sombra
De desmedidos gestos me cercava
Silêncio e medo
Nos confins desolados caminhavam
Então eu vi chegar ao meu encontro
Aqueles que uma estrela iluminava.

E assim eles disseram: «Vem connosco
Se também vens seguindo aquela estrela»
Então soube que a estrela que eu seguia
Era real e não imaginada.

Grandes noites redondas nos cercaram
Grandes brumas miragens nos mostraram
Grandes silêncios de ecos vagabundos
Em direcções distantes nos chamaram
E a sombra dos três homens sobre a terra
Ao lado dos meus passos caminhava
E eu espantada vi que aquela estrela
Para a cidade dos homens nos guiava.

E a estrela do céu parou em cima
de uma rua sem cor e sem beleza
Onde a luz tinha a cor que tem a cinza
Longe do verde azul da natureza.

Ali não vi as coisas que eu amava
Nem o brilho do sol nem o da água.

Ao lado do hospital e da prisão
Entre o agiota e o templo profanado
Onde a rua é mais triste e mais sozinha
E onde tudo parece abandonado
Um lugar pela estrela foi marcado.

Nesse lugar pensei: «Quanto deserto
Atravessei para encontrar aquilo
Que morava entre os homens e tão perto.

Sophia de Mello Breyner Andresen | "Livro sexto", 1962

domingo, 6 de janeiro de 2019

Sophia e a alfarrobeira


As férias algarvias de Sophia de Mello Breyner relembradas pelo neto, o jornalista Pedro Sousa Tavares, no seguinte texto, hoje publicado no jornal "O Observador".

"Há muito que deixei aquela praia
De grandes areais e grandes vagas
Mas sou eu ainda quem na brisa respira
E é por mim que espera cintilando a maré vaza"

Sophia de Mello Breyner Andresen, "Há Muito"


O levante é sempre uma dádiva com os dias contados. Três, seis ou nove, assim o mediam os antigos, quando as contas ainda batiam certas. Pelo meio - na maior parte do tempo, para não mentir - é a nortada, sua némesis, quem dita as regras, levantando areia e guarda-sóis, tornando geladas as noites e, única virtude que se lhe reconhece, expulsando melgas e mosquitos para outras paragens.

Nas noites de nortada, Sophia deixava-se ficar até tarde a cismar no seu "escritório", um mezanino por cima da sala, na casa da Meia Praia, que os netos sempre encararam como o seu santuário privado, ainda que nunca o tivesse reivindicado como tal. Acendia os seus cigarros slim, que invariavelmente esquecia no cinzeiro depois da primeira passa, bebericava o seu chá, que parecia durar para sempre e nunca parar de fumegar e, com a portada de vidro entreaberta, passava horas a ouvir o vento a silvar entre os pinheiros.

Lembro-me disso porque, tendo-lhe herdado os genes noctívagos, ocupava muitas das mesmas horas imediatamente em baixo do mezanino, sentado na mesa de jantar, levando sucessivas abadas no xadrez do meu tio Xavier até às raras e triunfais ocasiões em que, geralmente apanhando-o já meio a dormir, descortinava um erro que me permitia recompor o meu score para um mais digno 1-10 ou 1-11. 

Entre os nossos silêncios de jogadores, e o seu silêncio de poeta, era capaz de jurar que o vento que entrava pela janela lhe falava ao ouvido e que ela, num murmúrio, tão leve que talvez fosse apenas imaginado, lhe respondia. 

- Mãe, vá-se deitar -, suplicava às tantas o meu tio, quando nós próprios claudicávamos ao sono. 

- Vou já, Xavier. 

Muitas vezes nunca ia. Adormecia ali mesmo. Embalada pelo vento. 

Nos dias de levante a Meia Praia transformava-se na melhor praia do mundo. O mar, por norma parado como um lago, enchia-se de vida, proporcionando-nos épicas sessões de carreirinhas e obrigando o nadador-salvador a abandonar o seu posto habitual - uma cadeira à sombra, onde, imagino maldosamente, se recompunha, a sono solto, das aventuras nocturnas da véspera - para impor a ordem possível entre multidões de crianças e adolescentes eufóricos. A temperatura da água subia, dia após dia, até ir bem para lá dos 20 graus, facto que alguém - já não me lembro quem - atestava cientificamente com um daqueles termómetros em forma de peixe que se usavam nas banheiras dos bebés. E o vento de sul envolvia-nos num abraço, transformando a água que nos escorria pela cara num caldo morno com sabor a sal e algas. 

Não era apenas nesses dias que Sophia lá ia. Mas as memórias que guardo dela na Meia Praia estão invariavelmente ligadas ao esplendor dessas manhãs e tardes de levante, que muitas vezes duravam até anoitecer. Talvez por estarem arquivadas na mesma pasta destinada às boas recordações. 

Nunca aparecia antes das duas, três horas. Não por se levantar tarde - coisa que raramente fazia, apesar dos longos serões - mas por preferir evitar as horas de maior calor. Havia sempre alguém a oferecer-se para a ir buscar a casa mas, muitas vezes, dispensava a oferta, preferindo fazer a pé o trajecto de meio quilómetro até ao areal. Por vezes apanhava boleias improváveis. Num ano, já bem na casa dos setenta, arranjou uma empregada que guiava uma scooter e passou as férias a deslocar-se para a Meia Praia sentada de lado atrás da condutora, à amazona, com uma alcofa numa mão e uma sombrinha japonesa na outra. 

Chegava à praia sempre elegante, com longas túnicas ou vestidos de tecidos leves, chapéu de palha na cabeça. Pousava a alcofa, estendia a esteira, também de palha. Já de fato de banho, ainda segurando a sombrinha, que só largava à beira-mar, avançava decidida até à primeira onda, mergulhando de cabeça. Lembro-me de ver, orgulhoso, o olhar embasbacado de duas turistas inglesas que assistiram a um desses rituais. 

Era uma excelente nadadora, de gestos estilizados, como uma atleta olímpica. Lá em casa, cumpria religiosamente as suas sessões de bruços de fim de tarde na piscina ladeada por uma alfarrobeira, em cujos ramos pousava as coisas antes de entrar na água. Vê-la a nadar, de braçada certa e uma respiração cadenciada (que também usava para se acalmar quando alguma coisa a irritava), era um momento tão solene que conseguia a proeza de nos manter a nós, netos, a uma invulgar e respeitosa distância da água. 

A alfarrobeira, que adorava, nunca deixou de ser um pesadelo logístico para todos os mestres-de-obras e técnicos de manutenção que passaram pela casa. As suas raízes levantam o chão de tijolo vermelho e já furaram as paredes da piscina duas ou três vezes. As suas folhas e frutos sujam a água e entopem os filtros. Os apelos para a deitarmos abaixo sucederam-se ao longo dos anos. Mas isso sempre esteve fora de questão: aquela árvore, por estranho que esta afirmação possa parecer, também é ela.