Na Ericeira, era conhecido como o Ermitão. Depois de abandonar o Convento de Santa Cruz, Mateus Álvares refugiou-se numa gruta em São Julião, onde viveu durante anos. Era magro, ruivo e parecido com D. Sebastião.
Mateus Álvares nasceu na Praia da Vitória e era filho de um pedreiro. Ingressou na vida religiosa, indo posteriormente para o Continente, primeiro em Óbidos e depois no Convento de Santa Cruz, em Sintra. Contudo, Mateus Álvares não se ambientou à vida conventual, fugindo e refugiando-se numa gruta em S. Julião, 3 kms a sul da Ericeira.
Foi no contexto do domínio espanhol, que os portugueses fizeram nascer a lenda que “ num dia de nevoeiro apareceria D. Sebastião na Ericeira”. Era a forma de manter viva a esperança pela independência.
Mateus Álvares era considerado um homem bonito e alourado e como apareceu na altura do desastre de Alcácer Quibir, passou a ser visto pelo povo como o regressado D. Sebastião.
A população afirmava que D. Sebastião tinha envelhecido por causa das privações que tinha passado na batalha e por ter-se enclausurado na gruta.
Assim, de palavra em palavra, Mateus Álvares virou D. Sebastião, sobretudo após ser interrogado sobre a veracidade da história e de nunca ter negado que era o Rei português. Nascia, assim, a lenda do Rei da Ericeira.
Depois de reclamar o trono casou com Ana Susana, filha de um lavrador, e coroou-a com a tiara roubada de uma imagem religiosa. Exigia beija-mão, gostava de ser tratado como Rei e reuniu um exército pequeno, desorganizado e mal armado à sua volta. A ambição levou-o à morte: apesar de os seus militares amadores terem ganho pequenas batalhas contra o ocupante espanhol, o inimigo acabou por capturar Mateus Álvares e entregá-lo ao Rei Filipe II.
O falso D. Sebastião disse momentos antes de ser esquartejado de forma a que os seus membros ficassem expostos em local onde a população pudesse ver: “Estais livres portugueses! Olhai bem para mim – não sou D. Sebastião, mas sou um homem bom, um bom português que vos libertou do jugo castelhano. Agora sois livres, escolhei e proclamai Rei quem quiserdes!”.
Foi enforcado a 13 de junho de 1585, com ele morreram o seu sogro e a maior parte dos homens de sua confiança no “Alto da Forca”, que ainda hoje existe na Ericeira. Filipe II acabou por dar carta geral de perdão aos “rústicos do concelho de Sintra”. Terminava, assim, a história de Mateus Álvares, o terceirense que foi Rei.
A aventura do Rei da Ericeira foi rápida, mas deixou marcas nas populações locais em redor de Sintra. Foi o D. Sebastião que mais apoiantes obteve e o que melhor soube dinamizar o povo. Com o seu grito de esperança, deu novo ânimo ao espírito nacionalista.
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