Por esta hora, estava dentro do comboio numa viagem do Fundão até Lisboa. Ao encontro da revolução, sem o saber. Ao tempo, cumpria o serviço militar obrigatório em Angola (1972-1974), mas estava no Continente em férias. No Fundão, em casa dos meus pais. Na véspera tomara a decisão, amanhã vou até Lisboa, para estar uns dias com o meu irmão. E, assim, tomei o comboio na estação do Fundão às 7h30m.
Em Castelo Branco, o comboio esteve parado quase 1 hora sem se saber o que se passava. O mais provável seria uma avaria. Não, há uma revolução em Lisboa, correu célere a notícia entre os passageiros. O comboio lá arrancou em direção a Lisboa. Chegou a Santa Apolónia, por volta das 13 horas.
Não havia autocarros, nem eléctricos, nem táxis. Tive de ir a pé até Santos ao encontro do meu irmão. Passei pelo Terreiro do Paço, mas, naquela hora, já não estava o Salgueiro Maia.
Com o meu irmão, viemos até à Baixa, até ao Rossio, onde assisti às primeiras manifestações em liberdade. Estive na Praça Camões, passei ao lado do Largo do Carmo, onde tudo se consumou. Tenho muita pena.
Ouvi os primeiros gritos de ordem. "O povo unido jamais será vencido", "Nem mais um soldado para o Ultramar". No meio daquele grande entusiasmo, nos dias seguintes, amigos ainda me disseram, já não voltas a Angola. "Nem mais um soldado para o Ultramar". Não, terminadas as férias, voltei a Angola para me juntar aos meus camaradas de guerra, então estacionados em Cabinda.
No dia 20 de Novembro de 1974, regressámos ao Continente. Vínhamos quase todos. Apenas uma perda, por acidente de viatura.
Para a história fica este vídeo com as fotografias que tirei nos dias 25 e 26 e Abril, em Lisboa.
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