Miguel Torga começou a escrever o seu Diário no dia 3 de Janeiro de 1932. Depois, foi uma longa caminhada diaristica, distribuídos por 16 livrinhos, da Editora Coimbra. Inconfundíveis. O último escrito aconteceu em 10 de Dezembro de 1993.
A morte de Fernando Pessoa, em 30 de Novembro de 1935, não passou despercebida a Miguel Torga. No dia 3 de Dezembro de 1935, Torga escreveu:
«Morreu Fernando Pessoa. Mal acabei de ler a notícia no jornal, fechei a porta do consultório e meti-me pelos montes a cabo. Fui chorar com os pinheiros e com as fragas a morte do nosso maior poeta de hoje, que Portugal viu passar num caixão para a eternidade sem ao menos perguntar quem era».
É verdade. No funeral de Pessoa não estiveram mais que 30 amigos. O génio veio depois. O poeta nasceu depois de ele morrer, porque foi depois de ele morrer que nasceu a apreciação do poeta. Tal como ele dissera de Cesário Verde.
«Morreu Fernando Pessoa. Mal acabei de ler a notícia no jornal, fechei a porta do consultório e meti-me pelos montes a cabo. Fui chorar com os pinheiros e com as fragas a morte do nosso maior poeta de hoje, que Portugal viu passar num caixão para a eternidade sem ao menos perguntar quem era».
É verdade. No funeral de Pessoa não estiveram mais que 30 amigos. O génio veio depois. O poeta nasceu depois de ele morrer, porque foi depois de ele morrer que nasceu a apreciação do poeta. Tal como ele dissera de Cesário Verde.
Já conhecia este texto de Torga, há muito tempo. O que eu não sabia era que Pessoa e Torga se relacionaram por carta. Pessoa tem com ele longas e acesas querelas, nas quais o chama sempre pelo seu nome verdadeiro de Adolfo (Correia da) Rocha. Pessoa terá aconselhado Torga em algum pormenor, não tendo este apreciado o gesto e respondido à letra. Em carta de 28/6/1930, dirigida a Gaspar Simões (curiosamente um amigo comum), Pessoa tenta explicar uma daquelas querelas:
«Recebi uma carta do Adolfo Rocha. A carta é de alguém que se ofendeu na quarta dimensão. Não é bem áspera, nem é propriamente insolente, mas intima-me a explicar a minha carta anterior, diz que a minha opinião é a mais desinteressante que ele recebeu a respeito do livro dele, explica, em diversos ângulos obtusos, que os intelectuais são ridículos e que a era dos Mestres já passou. Achei pois melhor não responder. Que diabo responderia? Em primeiro lugar é indecente aceitar intimações em matéria extrajudicial. Em segundo lugar, eu não pretendera entrar num concurso de opiniões interessantes. Em terceiro lugar, eu só poderia responder desdobrando em raciocínios as imagens de que, na minha pressa, o sr. engenheiro Álvaro de Campos se servira em meu nome. Desisti».
Querelas de pequena monta, que não causaram qualquer dano na amizade que se havia estabelecido entre os dois. Torga registou a morte do amigo, reconhecendo ser o nosso maior porta de hoje. Torga teve o mérito de ver o génio de Pessoa muito tempo antes dos outros.
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