segunda-feira, 14 de maio de 2012

O Teu Rosto Será o Último, de João Ricardo Pedro


Claro que eu, desde o primeiro segundo, não tive quaisquer dúvidas quanto ao nome da aldeia do concelho do Fundão, com nome de mamífero: ORCA. Nasci nesta aldeia no longínquo ano de 1947.

Li o livro de supetão, que está recheio de referências a locais que eu reconheci. A narrativa oscila entre o meio rural (a pequena aldeia com nome de mamífero) e a cidade (o autor fala em Queluz, mas o que está lá bem retratado é outra freguesia do concelho de Sintra, cujo nome tem o nome de um profeta). Agora é a minha vez de deixar aqui um enigma.

A leitura foi compulsiva, cheguei ao fim exausto. E sem respostas. A narrativa assenta numa história de três gerações. Simples. Porém, o autor, sabiamente, entrecruza a história principal com outras narrativas incompletas (porque morreu Celestino? Porque é que Duarte achava que o Índio viria a ser um grande artista? Porque é que o barbeiro Alcino tremia das mãos? etc...).

Mas a vida é assim mesmo, incompleta. Histórias dentro de histórias, como se fossem muitos livros num só.

O que me intriga é como João Ricardo Pedro, logo no primeiro romance, ousou escrever tão bem, com uma imaginação tão extraordinária. A leitura de "Metamorfose," de Kafka, ainda adolescente, deixou sequelas.

Que grande primeiro romance!!!

Apetece-me dizer como Saramago disse a Gonçalo M.Tavares. João Ricardo Pedro “não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 39 anos: dá vontade de lhe bater!

4 comentários:

  1. o meu pai também nasceu nessa aldeia em 1950... quando, no outro dia, uma amiga me perguntava se sabia qual é que era a aldeia com nome de mamífero ali para os lados da Gardunha a minha resposta foi logo "Orca", mas depois disse que também podia ser "Zebras"... Como não li o livro, é-me difícil dizer a qual das aldeias se refere o autor...

    desculpe a invasão...

    Sofia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sofia, a aldeia com nome de mamífero, encalacrada na vertente sul da serra da Gardunha (nas palavras do livro) é, sem sombra de dúvida, a ORCA. O autor nunca o disse expressamente nas várias entrevistas que deu, mas já disse que quis homenagear os avós. De facto, os avós maternos são naturais da Orca, assim como a mãe. Por curiosidade, diga-se ainda que esses avós e a mãe, quando esta tinha 4 ou 5 anos, foram viver para uma aldeia próxima: S. Miguel d´Acha, donde são naturais, desta vez, o pai e os avós paternos. É aqui que os pais têm casa e onde o escritor passava férias quando era adolescente. Mas, a aldeia com nome de mamífero, e onde se desenrola grande parte da narrativa, é ORCA.
      De todo o modo, tudo isto é secundário. O importante aqui é que estamos perante um bom livro: ganhou o prémio Leya 2011; foi o livro mais vendido na Feira do Livro de Lisboa em 2012; tem-se mantido no top da venda dos livros.
      Sofia, não houve invasão nenhuma. Os livros são, justamente, para ser lidos e discutidos…

      Eliminar
  2. Obrigado pelo comentário. Se me permite, hoje, o Monte Abraão não faz parte da cidade de Queluz. O Monte Abraão foi desanexado de Queluz, passando a constituir uma freguesia autónoma em 12 de Julho de 1997. Também se pode dizer que, à data da escrita do livro (2010 ou 2011), já o Monte Abraão estava, portanto, “desligado” de Queluz. Por conhecimento pessoal (morei no Monte Abraão durante 25 anos), os factos relatados no livro situam-se no Monte Abraão e não em Queluz. Por que motivo o autor o faz, não sei.Esta e muitas outras perguntas gostaria eu de fazer ao escritor. Pode ser que algum dia aconteça..

    ResponderEliminar