sexta-feira, 13 de junho de 2014

O verdadeiro Santo António


Hoje, é Dia de Santo António, data da sua morte em Pádua, no ano de 1231. Santo António de Lisboa ou Santo António de Pádua? Entre nós, apetece dizer que há dois Santos: Um, verdadeiro, que faz parte da História, Doutor da Igreja que viveu na viragem dos séculos XII e XIII; outro, mito popular, casamenteiro. 

Falemos de História. O Santo António nasceu em Lisboa, não sendo conhecida a data exacta do seu nascimento, sendo apontado, como mais provável, o ano de 1195. O local do nascimento também não é conhecido. Todavia, em Lisboa, há um lugar que se tornou local de romaria, por se acreditar que tenha sido aquele o quartinho do seu nascimento. Ali, muito perto da Sé. Naquele lugar “segundo a tradição”, como lá está escrito em latim, mas não mais do que isso. O Papa João Paulo II, numa das suas vindas a Portugal, esteve lá. 

Os pais seriam remediados, pois, só assim, se justifica ter o Santo estudado. Primeiro, na Sé de Lisboa, onde terá aprendido as primeira letras e teve as primeiras aulas de Latim. Depois foi para o Convento de São Vicente de Fora, dos Regrantes de Santo Agostinho. Esteve aqui entre 1211 e 1212. Quando aconteceu a reconstrução do Convento, foi construída uma capela no local onde se julga ter sido a cela do Santo. 

Com 15 anos, foi para Coimbra, para entrar Ordem de Santa Cruz de Coimbra. Ao tempo, ainda não havia Universidade, e este Convento é era o principal centro de estudos em Portugal. 

Em 1220, não se sabendo bem porquê, o Santo deixou a Ordem dos Regrantes de Santa Cruz, e foi para o Conventinho, no arrabalde de Coimbra, a meia légua do centro da cidade. Tornou-se franciscano, renunciou à riqueza e à soberba dos frades de Santa Cruz. Tornou-se irmão franciscano. No lugar do Conventinho (antes um humilde eremitério) está hoje a Igreja de Santo António dos Olivais. 

Foi neste tempo que passou a chamar-se António, em honra de Santo Antão (Antonius em latim), um asceta. O nome de baptismo, Fernando Martins, ficou para trás. Um despojamento total dos bens materiais, incluindo o nome. Esteve aqui pouco tempo, apenas 6 meses. 

Daqui partiu para uma viagem formidável, da qual nunca mais voltou. Não é certo que tenha passado por Marrocos, como alguns defendem. Certo, é que chegou a Itália, tendo estado presente no Concílio de São Francisco de Assis, não lhe sendo conhecida nenhuma intervenção. Depois, foi designado para um eremitério em Montepaolo, na província da Romagna, onde passou cerca de quinze meses. Depois, foi viver para Forli, perto de Bolonha. 

Um dia, faltou o pregador e foi-lhe pedido para que fosse ele a falar. Protestou, mas obedeceu. No final, todos estavam assombrados. Uma linguagem cheia de imagens, um conjunto encadeado de ideias, tudo assente numa sólida formação. Para a História, ficaram os sermões, que são ainda um precioso documento de estudo da época. Num sermão, que ficou célebre, disse para os que o ouviam (não tenho as palavras exactas, mas dá para perceber a ideia): 

“Vós que ostentais túnicas vermelhas que nos dizem pintadas com cores do Oriente, é mentira!, são vermelhas, sim,  pintadas com o sangue dos pobres!”.

Que falta fazem hoje pregadores assim!

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