"Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros", escreveu o poeta Ruy Belo, neste belo poema:
Algumas Proposições com Pássaros e Árvores
Os
pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
Ruy
Belo
A proximidade entre pássaros e árvores é tão grande que o poeta acaba por ver os pássaros como prolongamentos das árvores. E vendo os pássaros como as pessoas e as árvores como o amor, a interpretação parece ser semelhante: as pessoas nascem do amor. Muito bom!
Anos mais tarde, o poeta Nuno Júdice homenageia o seu confrade, escrevendo este poema, igualmente bonito:
Variações com Pássaros
E Versos de Ruy Belo
Eu queria
olhar os pássaros
pelas
proposições de ruy belo: vê-los
nos
galhos das árvores, como frutos
De verão.
E queria colhê-los,
como se
cada asa fosse um verso,
para
fazer este poema voar
“ com uma
referência ao coração”.
Assim,
poderia contar as pulsações
do poema
como quem conta as sílabas;
e ver as
palavras juntarem-se
como os
pássaros do outono, varejando
com a
“inúmera mão” do poeta
natureza
e filosofia, folhas
e aves
caindo da sua música.
E
estenderia os olhos dos pássaros
nesta
folha, abertos como a alma das árvores
no
outono, para lhes roubar o amor
que os
pássaros levam para lá do horizonte
para onde
as nuvens os empurram. Contá-los-ia
pelos
dedos de ruy belo, nessa forma
complicada
que “não se dá bem na poesia”.
Depois,
devolvo aos pássaros os seus
olhos, e
ao poeta os seus versos; mas guardo
o amor
que sobrou sob os ramos das árvores
de onde
os pássaros partiram, deixando vazio
o lugar
em que os amantes se encontram,
vendo
“que pássaros emanam das árvores”
quando o
seu silêncio enche o campo.
E nestes
pássaros de ruy belo também
“ eu
passo e muda-se-me o coração”.
Nuno
Júdice, in Geometria Variável
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