quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Vergílio Ferreira nasceu há 100 anos


«[…]  A minha biografia começa aqui — na rampa.
Nasci a 28 de Janeiro de 19..., às três horas da tarde de uma sexta-feira, dizia minha mãe. É a hora de Cristo, dizia minha mulher. Sorrio, encolho os ombros — também o cansaço é verdade. Nasceram três irmãos antes de mim, mas foram morrendo pela infância fora. Nessa altura eram ainda vivos todos três, suponho. Era o começo do Verão, talvez, minha mãe e a mãe dela subiam a rampa para a missa de domingo. E um momento, minha mãe hesitou com uma inesperada tontura. Parou, apoiou-se a minha avó:
- Não sei o que tenho, minha mãe.
Ela varou-a de iluminação e alarme:
- Não me digas! Não me digas que já arranjaste outra desgraça.
A «desgraça» era eu. […]»

(Vergílio Ferreira, in Alegria Breve, 13)

sábado, 23 de janeiro de 2016

O caminho fica longe


Aleluia! Ontem, ao entrar na Bertrand, tive uma grande surpresa: a oportunidade, há muito ansiada, de comprar o único romance do escritor Vergílio Ferreira que faltava na minha biblioteca: "O Caminho Fica Longe ". Estava esgotado, a sua compra só era possível nos alfarrabistas mas a um preço proibitivo.

Aconteceu, finalmente, graças à iniciativas da editora A Quetzal que, sob o impulso sábio de Francisco José Viegas, vem publicando, há um punhado de anos, a obra completa de Vergílio Ferreira, sobretudo através de reedições.

"O Caminho Fica Longe" foi o primeiro romance de Vergílio Ferreira, escrito em 1939, publicado em 1943. Juntamente  com "Onde Tudo Foi Morrendo" e "Vagão J", integra a trilogia neo-realista que inaugura o obra romanesca de Vergílio Ferreira. 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Devaneios Cruzadísticos-Vergílio Ferreira

"Onde Tudo Foi Morrendo" é o título do romance do escritor português Vergílio Ferreira (1916-1996), conforme pedido com a resolução do passatempo do mês de Janeiro.

Aqui fica uma modestíssima homenagem ao escritor, cujo primeiro centenário sobre a data do seu nascimento se comemora no presente ano.

Esta é a solução completa do problema:


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Respostas de: Aleme; Anjerod; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita; Baby; Caba; Corsário; Elvira Silva; Fumega; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; João Marques Nabais; João Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bernardo; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Mister Miguel; Olidino; Osair Kiesling; Raquel Atalaya; Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva e Virgílio Atalaya.

Obrigado a todos. Vemo-nos por aqui. Até breve! 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Os campos d´Atalaia

Trago os tordos na cabeça desde os campos
d’Atalaia para pôr neste poema —
o vento deixava-nos à porta
ora uma luz rasteira ora um esfarelado
chiar de carros de feno,
dos ramos altos
a tarde caía nos cabelos,
vivíamos sem pressa rente aos lábios.

Eugénio de Andrade, in “O Peso da Sombra”

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

É o mar que me acorda?

Despertar

É um pássaro, é uma rosa,
é o mar que me acorda?
Pássaro ou rosa ou mar,
tudo é ardor, tudo é amor.
Acordar é ser rosa na rosa,
canto na ave, água no mar.

Eugénio de Andrade, in “Coração do Dia”

domingo, 10 de janeiro de 2016

Orca, nome poroso da sede

Aqui está. Orca, sem sombra de dúvida, é uma das matrizes que formaram o poeta. O peso da sombra não o desmente.

Agora os nomes que martelam o sono,
turvos ou roídos da poeira:
Póvoa, Castelo Novo, Alpedrinha,
Orca, Atalaia, nomes porosos
da sede, onde a semente do homem
é triste mesmo quando brilha.

Eugénio de Andrade, in "O Peso da Sombra"

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A vida é feita de pequenos nadas

Bucólica

A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;

De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;

De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.

Miguel Torga

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Palavras, quem as escuta?

As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


Eugénio de Andrade, in "Coração do Dia"

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Uma nova estrela


«[…] Nessa noite, depois da Lua ter desaparecido atrás das montanhas, Melchior subiu ao terraço e viu que havia no céu a Oriente, uma nova estrela. 

A cidade dormia, escura e silenciosa, enrolada em ruelas e confusas escadas. Na grande avenida dos templos já ninguém caminhava. Só de longe em longe se ouvia, vindo das muralhas, o grito de ronda dos soldados. 

E sobre o mundo do sono, sobre a sombra intrincada dos sonhos onde os homens se perdiam tacteando, como num labirinto espesso, húmido e movediço, a estrela acendia, jovem, trémula e deslumbrada, a sua alegria.
 
E Melchior deixou o seu palácio nessa noite.»


Sophia de Mello Breyner Andresen, Os Três Reis do Oriente, in "Contos Exemplares"

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Nas dobras do teu manto


PIETÁ

Vejo-te ainda, Mãe, de olhar parado,
Da pedra e da tristeza, no teu canto,
Comigo ao colo, morto e nu, gelado,
Embrulhado nas dobras do teu manto.

Sobre o golpe sem fundo do meu lado
Ia caindo o rio do teu pranto;
E o meu corpo pasmava, amortalhado,
De um rio amargo que adoçava tanto.

Depois, a noite de uma outra vida
Veio descendo lenta, apetecida
Pela terra-polar de que me fiz;

Mas o teu pranto, pela noite além,
Seiva do mundo, ia caindo, Mãe,
Na sepultura fria da raiz.

Miguel Torga, em Diário I (Lisboa, Cadeia do Aljube, Natal de 1939)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Devaneios cruzadísticos - Vergílio Ferreira

No ano que hoje começa, comemora-se o 1º centenário do nascimento do escritor Vergílio Ferreira, um dos maiores vultos da Literatura Portuguesa da segunda metade do século XX.

Vergílio Ferreira nasceu a 28 de Janeiro de 1916, em Melo, concelho de Gouveia, na região da Serra da Estrela. No próximo dia 28 farão exactamente 100 anos que o escritor nasceu.

«Entre uma infinidade de hipóteses de não teres nascido, saiu-te a sorte de teres nascido. Se te tivesse saído a "sorte grande", haveria gente que se admiraria de isso te ter acontecido. Tu mesmo dirias talvez que parecia um "sonho", que era inacreditáve1, que ainda não tinhas caído em ti do assombro», escreveu ele em “Pensar, 178”. O milagre da vida. «A vida. Tão pouco e tão tanto», escreveu em "Espaço do Invisível 5".

Em 1940, terminou em Coimbra a sua licenciatura em Filologia Clássica. Foi Professor toda a vida, até ao fim. Primeiro, no Liceu de Faro, depois, em Évora e, por último, no Liceu Passos Manuel em Lisboa.

A 1 de Março de 1996, a meio da tarde, morreu em Lisboa, no seu escritório, a escrever “Cartas a Sandra”, ele que um dia dissera: “Já prometi que entraria no Paraíso a escrever. E vou cumprir“. Está sepultado em Melo, sua terra natal, “virado para a serra”, como sempre desejou.

Deixou uma obra vasta que vai desde o Neo-Realismo até ao Existencialismo, género literário onde se sentiu mais à vontade.

Escreveu sobre a vida e a morte. A certeza da morte coloca-nos diante de nós mesmos e obriga-nos a fazer perguntas: Quem somos? Quem queremos ser enquanto estamos vivos?

Um dia, um jornalista, que foi seu aluno no Liceu Passos Manuel, perguntou-lhe:

« Professor, explique-me como é possível alguém, sobretudo se for jovem, gostar de um livro (referia-se a “Até ao Fim”) que fala basicamente da morte e que a aborda no âmbito da família, de uma forma muito profunda e, às vezes, até cruel?»

Vergílio Ferreira respondeu: «É exactamente pela mesma razão que um fósforo só se vê aceso contra um fundo de escuridão».

Vergílio Ferreira é o patrono do blogue “AlegriaBreve”, foi (e é) a sua fonte inspiradora. Seria muito injusto que, neste dia, no dia 1 de Janeiro de 2016, no ano em que se comemora o primeiro centenário do seu nascimento, não lhe fosse prestada esta humilde homenagem.

Deste modo, o desafio deste mês é resolver este passatempo de Palavras-Cruzadas e, no final, descobrir o título (quatro palavras, todas na horizontal) de um dos seus romances.


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HORIZONTAIS: 1 – Desperta; No qual. 2 – A totalidade de pessoas; Alternativa; Interjeição que exprime surpresa. 3 – Aquiesceste; Andar. 4 – Neste lugar; Nesse momento; Estrangulamento numa cavidade. 5 – Libertais. 6 – Aconteceu; Pequena argola. 7 – Prudente. 8 – Combinem; Érbio [s. q.]; Sopro. 9 – Tronco; Expirando. 10 – Dignidade militar entre os Turcos; Símbolo da resistividade eléctrica; Moeda de ouro de 20 francos. 11 – Área; Surgira.

VERTICAIS: 1 – Injuria; Idóneo. 2 – Cabeça [Brasil]; Alento [fig.]. 3 – Composição poética lírica de assunto elevado, própria para ser cantada; Pequeno barco de fundo chato, empregado na pesca do bacalhau; Prefixo que exprime a ideia de privação. 4 – Giro; A mesma coisa. 5 – Vede; Paixão. 6 – Contracção de a + os; Fora de moda [coloq.]; Grande quantidade de pessoas. 7 – Prestável; Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de ar. 8 – Levante; Tornei a ler. 9 – Descalço; Devasta [fig.]; Simples. 10 – Antigo senhor feudal, no Japão, que dominava o governo; Somar. 11 – Vento de leste [pl.]; Furiosa.

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Aceito respostas até dia 20 de Janeiro, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes.

Até breve!