sexta-feira, 8 de abril de 2016

Lisboa, nos passos de Camilo Castelo Branco

Itinerários de Lisboa-Departamento de Acção Cultural-Câmara Municipal de Lisboa. Dia 31 de Março do ano de 2016. Hoje, o roteiro segue os passos do escritor Camilo Castelo Branco na cidade de Lisboa. A reunião dos peregrinos foi junto à entrada do Convento de São Pedro de Alcântara, pelas 10 horas.  O desafio é grande! Afinal, que sinais temos de Camilo na cidade de Lisboa, para além de sabermos que nasceu nesta cidade no dia 16 de março de 1825? A guia, que nos irá acompanhar nesta peregrinação, muito terá de se esforçar. 

1ª estação À porta do Convento de São Pedro de Alcântara. A guia aproveita para falar dos primeiros anos de vida do escritor. 2 anos (perda da mãe), 10 anos (perda do pai). Vai para Vilarinho de Samardã (Vila Real) para junto de sua tia Carolina. Casamento aos 16 anos com Joaquina Pereira, em Ribeira de Pena, Salvador. Foi viver para Friúme. Tiveram uma filha, a Rosa Pereira. Universidade do Porto. Rapto de Patricia Barros. Cadeia. Abandona Patricia de quem tem uma filha, de nome Bernardina, que casa com um emigrante brasileiro rico. Camilo vem para casa da irmã, em Covas do Douro.

2ª estação Instituto Nacional do Vinho. Camilo no Porto. Vida boémia. Entrada em tertúlias que tinham lugar, muitas vezes, em Conventos. É então que conhece, em 1850, a Soror Isabel Vaz Mourão. Para fugir ao escândalo vem para Lisboa onde troca correspondência com Maria da Felicidade (Soror Dolores), isto acontece nos anos de 1849-1850. Inicia a sua colaboração com os Jornais. Volta ao Porto. No Teatro São João abre a cabeça a um critico, à bengalada. “Não escrevo com imaginação, escrevo com memórias”. Disse ele um dia. Foi o primeiro escritor da língua portuguesa a viver exclusivamente dos seus escritos literários.


3ª estação  O grupo entra depois em pleno Bairro Alto em direcção à Rua da Rosa, para ver a casa em que Camilo nasceu. A placa lá está a assinalar o evento. Mas está tão lá no alto, ao nível do 2º andar, que mal de vê!


4ª estação Palácio Correio Mor (Calçada do Combro). Foi sede dos Correios. Hoje é uma leiloeira. Aqui para falar da faceta de leiloeiro. Camilo, a dada altura da sua vida, com uma dívida enorme para pagar ao seu editor, vendeu parte da sua biblioteca, recorrendo ao leilão de livros.


5ª estação Largo Barão Quintela. Por trás do grupo, reunido à volta da guia, a estátua do Eça de Queirós. Tempo para falar das polémicas entre os escritores. É curioso o comentário de Camilo ao romance " A Relíquia" do Eça. Camilo fez uma anotação nada simpática. Escreveu ele: “Este livro tem duas partes: a primeira, é uma porcaria; a segunda: uma maçada. Uma xaropada hiperbólica, inenarrável……falta de bom senso e bom gosto.”. Crítica injusta, porque não disse que o livro está muitíssimo bem escrito. Entre os dois escritores, havia uma diferença de apenas 20 anos de idades, mas eram muito diferentes e não gostavam um do outro.


6ª estação Teatro da Trindade, para falar do 3º Centenário de Camões e da colaboração de Camilo. Escreveu o prefácio ao livro "Camões" de Almeida Garrett. Para falar ainda do convívio do Camilo no café Café Guichard, no Porto, com o seu grande amigo José Augusto Pinto Magalhães e da história deste com Francisca. Esta história deu o romance da escritora Agustina (Fanny Owen), um filme do realizador Manoel de Oliveira (Francisca) e, ainda, uma peça de teatro que passou neste teatro.


7ª estação Escadinhas do Duque para lembrar uma escola (nº 30 ou 31) que Camilo frequentou, em que teve Sátiro Salazar como mestre. E, ainda, na Trav da Oliveira ao Carmo, onde numa casa, que não sabemos qual, morreu a mãe de Camilo. Quem foi a mãe? De seu nome Jacinta que teve dois filhos do pai de Camilo, homem também com vida algo atribulada. Pouco se sabe acerca da mãe de Camilo e os biógrafos de Camilo divergem. O próprio Camilo oscila em vários nomes quando fala da mãe.


8ª estação Largo do Rossio para falar do Rei D, Pedro V (neto do Rei que dá nome a esta praça) que visitou 2 vezes Camilo na Cadeia da Relação no Porto, e, ainda, de D. Pedro II, Imperador do Brasil, que visitou duas vezes também Camilo: a primeira, no Porto; a segunda, numa altura em que já não era imperador, numa casa em Lisboa, na Rua Capelo, porquanto Camilo viera à capital dois anos antes de morrer a uma consulta médica.


9ª estação Rua dos Douradores, não, não é para falar de alguma ligação entre Camilo e Bernardo Soares. Não podia. Pessoa tinha 2 anos de idade quando Camilo morreu. Para falar de uma casa, não sabemos qual, onde o pai de Camilo morreu, deixando-o órfão aos 10 anos.


10ª estação Igreja de São Cristovão e Lar de Recolhimento São Cristovão, para falar da passagem por este Lar de Ana Plácido e do filho Manuel. Isto por volta de 1861. Estiveram aqui 2 anos, saíram em 1863. Ana Plácido e o filho estavam a atravessar grandes dificuldades financeiras. Este Manuel morreu, inesperadamente em 1877 com apenas 19 anos de idade. Esta morte deixou Camilo muito abalado. Do casal Camilo e Ana Plácido nasceram Nuno (um pouco atontado) e Jorge (louco). O titulo de 1º Visconde Simão Botelho para Camilo (concedido pelo Rei D. Luís) e de 1º Visconde de São Miguel de Seide para o Jorge, este que teve direito a uma pensão de 1 conto de réis. Camilo, muito criticado por causa do titulo, parece que o fito dele seria tão só a obtenção deste rendimento para o filho que não tinha condições para se governar.


A nossa peregrinação chegou ao fim. Camilo Castelo Branco deixou-nos uma grande obra (escreveu 137 títulos e 60.000 páginas!), mas foi um homem infeliz. Ele não acreditava em nada. Pode viver-se sem pão para comer, pode-se viver pobre. Todavia, não se pode é viver sem que se acredite em alguma coisa. E Camilo não acreditava em nada. Foi o seu drama!

1 comentário:

  1. Joaquim, óptima iniciativa. Acho que estamos todos a passar por momentos de busca muito interessantes.

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