segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Eugénio e Pascoaes


"...Eu trazia a Vida Etéria, e, a propósito da Elegia do Amor, perguntei-lhe se ela correspondia a qualquer vivência directa. Pascoaes, com uma grande simplicidade e um sorriso infantil, respondeu-me:
—Não, Eugénio, «nada daquilo aconteceu, a não ser na minha imaginação...»
Lembrei-lhe uma frase de Keats. Durante o resto da tarde falou-me da sua Cartilha, a obra inedita que mais acarinhava.
Levei-o a casa e demos o último abraço. «Até breve e até sempre.»
Até sempre.
Agora Pascoaes está morto. Poderá algum de nós ressuscitá-lo?"

Eugénio de Andrade in IMAGEM DE [Teixeira de] PASCOAES from Os Afluentes do Silêncio. Images from Eugénio de Andrade (1987) por Arnaldo Saraiva.

sábado, 26 de dezembro de 2020

Devaneios cruzadísticos │ Cruzeiro Seixas

"O Que a Luz Oculta" é o nome de um álbum, editado em 2000, com poemas e desenhos do poeta e pintor português Cruzeiro Seixas (1920-2020), pedido com a resolução do passatempo de palavras -cruzadas, referente ao mês de Dezembro de 2020.


Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Elvira Silva; Fernando Semana; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Julieta; Juse; Madobar; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; Par de Pares; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

Grato a todos.
Até ao próximo!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Poema de Natal

Meu Menino Jesus,

Neste dia de Natal, em que vens para nos dar a Vida,
concede-me o dom do espanto perante a fragilidade do Teu nascimento,
o dom da humildade diante da Tua pequenez;
o dom da gratidão para que nunca me esqueça que vens por mim,
o dom da confiança para saber que contigo tudo é possível.

Meu Menino Jesus,
Neste dia de Natal, ajuda-me a ser como Maria, que Te confiou a vida,
a ser como José, que nos mostrou a grandeza de uma vida discreta,
a ser como o Anjo, que falou de Ti aos que estavam na escuridão;
a ser como os pastores que partiram ao Teu encontro e anunciaram a Tua chegada.

Ana Catarina André

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Lembrando José Régio

José Régio morreu no dia 22 de dezembro de 1969, na sua casa , em Vila do Conde

‘Testamento do Poeta’

Todo esse vosso esforço é vão, amigos:
Não sou dos que se aceita... a não ser mortos.
Demais, já desisti de quaisquer portos;
Não peço a vossa esmola de mendigos.

O mesmo vos direi, sonhos antigos
De amor! olhos nos meus outrora absortos!
Corpos já hoje inchados, velhos, tortos,
Que fostes o melhor dos meus pascigos!

E o mesmo digo a tudo e a todos, - hoje
Que tudo e todos vejo reduzidos,
E ao meu próprio Deus nego, e o ar me foge.

Para reaver, porém, todo o Universo,
E amar! e crer! e achar meus mil sentidos!....
Basta-me o gesto de contar um verso.

José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'

José Régio - pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira – foi escritor, poeta, dramaturgo, ensaísta, cronista, crítico, memorialista, epistológrafo e historiador da literatura portuguesa, para além de editor e diretor da influente revista literária “Presença''.
Foi ainda professor - durante mais de 30 anos -, desenhador, pintor e um grande conhecedor e colecionador de arte sacra e popular.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Celebrar ainda Bernardo Santareno


A TEIMOSIA

Queríamos ter feito mais para celebrar o centenário do nascimento de Bernardo Santareno, por muitos considerado o maior dramaturgo português do século XX e cujo percurso está fortemente ligado ao D. Maria II. A pandemia frustrou-nos esse desejo, mas não quisemos fechar o ano sem assinalar a data e aproveitar para regressar à obra essencial de Santareno. Será no próximo sábado, dia 19, pelas 10h30. É de manhã porque é quando podemos estar abertos e se podemos estar abertos então vamos, teimosamente, aproveitar. Será uma leitura, dirigida por Rui Mendes (que há quase 40 anos estava em cena no D. Maria II na estreia d’O Judeu), de uma selecção de textos recolhidos com a colaboração de Rui Pina Coelho e Teresa Faria. A ler estarão Catarina Couto Sousa, Cláudio Castro, Cirila Bossuet, João Grosso, Lúcia Maria e o próprio Rui Mendes. Durante uma hora e pouco, serão lidos fragmentos de várias obras de Santareno, sob o título mais 2020 que poderíamos ter encontrado: “a teimosia, às vezes heróica, de existir”. 
A entrada é livre mediante a lotação da sala. Os bilhetes começam a ser distribuídos na bilheteira uma hora antes da leitura. É vir levantar o bilhete, ir tomar o pequeno-almoço na Confeitaria Nacional, e depois vir celebrar Santareno no Teatro, que também é Nacional. Sejam teimosos, vá!

Tiago Rodrigues, Director do Teatro Nacional D. Maria II

domingo, 6 de dezembro de 2020

Raul Brandão-uma carta de amor



Raul Brandão (12 de Março de 1867 - 5 de Dezembro de 1930)

"Querida: estamos sozinhos à mesa nesta noite infinita em que a chuva cai lá fora com um ruido monótono de chôro. Estamos sós nesta noite de saudade e nunca foi maior a nossa companhia, porque cada vez me sinto mais perto dos mortos. Rodeiam-nos, chegam-se para mim e sentam-se ao nosso lume. São legião... Mais perto, que eu faço uma labareda que nos aqueça a todos. A velha mesa da consoada foi-se despovoando com o tempo, mas hoje estão aqui sentadas todas as figuras que conheço desde que me conheço... Tu, toda branca, e que mesmo através do túmulo me transmites sonho; tu, mais longe, mais apagada e sumida; e tu, que vens de volta, e encostas os teus cabelos brancos aos meus cabelos brancos, para me dizeres baixinho: — Menino!—Pois ainda me chamas menino?! — Outro acolá sorri e outro tenta falar... Dois vivos e tantos mortos sentados à roda desta mesa que veio de meu pai, foi de meu avô e pertenceu já a outras gerações desconhecidas, mas que estão aqui também comigo, escutando e sorrindo, enquanto as pinhas se transformam em flores maravilhosas e as vides que plantei se reduzem a cinza!... Nunca estive tão acompanhado como hoje nesta ceia religiosa de fantasmas, numa comunhão de saudade e de lágrimas, e sentindo que cada Natal volvido mais me aproxima dos mortos. Aumenta o silêncio húmido que nos isola do mundo... Dá-me as tuas mãos, querida, e deixa arder o lume, enquanto eu falo baixinho diante da legião que nos escuta, acompanhado pelo ruído de lágrimas que se ouve lá fora. 

Um dia destes temos que nos separar, e é natural que seja eu, que sou mais velho, o primeiro a partir... Antes, porém, quero dizer-te que te devo o melhor da vida. Foste tu que me desvendaste o amor que eu desconhecia. A bondade e a ternura, que eu desconhecia. Não exerci talvez nenhuma influência na tua alma — tu apaziguaste-me. O amor era em mim um simples impulso: criaste-o, e pouco a pouco essa força nas tuas mãos se transformou em sentimento religioso. 

Olha para os meus cabelos todos brancos... Julgava que o amor ia diminuindo com o tempo — e o meu amor não cessa de aumentar até à morte e para alem da morte. «Na ocasião em que escrevo estas linhas — diz Alfieri nas Memórias — na idade em que já desapareceram de todo as ilusões, sinto que a amo cada vez mais, à medida que o tempo destrói o brilho da sua passageira beleza. Ela tornou melhor, elevou e pacificou o meu coração — e eu ouso dizer a mesma coisa do seu, que sustento e fortifico.» 

É certo: cada ano que passa é um laço que nos prende e quanto melhor conheço a tua alma, mais me purifico ao seu contacto. Não só fazes parte do meu ser, mas da minha consciência. Chego às vezes a supor que tu és a minha consciência. Por isso esta separação vai ser dolorosa, ainda que eu creia que nos tornaremos a encontrar noutro mundo melhor. Não decerto para vivermos as horas que passamos juntos à beira do lume, penetrados um do outro e unidos pelo silêncio, mas numa vida superior que antevejo e numa paz mais profunda. Ainda assim tenho pena. Tenho pena das horas monótonas que correm — do tempo que passa — da brasa que se extingue... 

Foste o fio que ligou a minha vida desordenada. Há em mim um ser desconhecido que me leva, se não estou de sobreaviso, a acções que detesto. Uma palavra tua me detém. Tenho passado o tempo a comentar-me e poucas almas me interessam como a minha. O que eu amo sobretudo é o diálogo com esse ser esfarrapado. Dêem-me um buraco e papéis e condenem-me à solidão perpétua. É-me indiferente... Isto é, um erro — e tu fizeste-mo sentir. Sem mo dizeres — compreendi que a nossa vida é, principalmente, a vida dos outros... Melhor: compreendi que a ternura era o melhor da vida. O resto não vale nada. Não é por a esmola da velha do Evangelho ser dada com sacrifício que é mais aceita no céu que o oiro do rico — é por ser dada com ternura. O importante é a comunicação de alma para alma. A mão que aperta a nossa mão, o olhar húmido que procura o nosso olhar, o sorriso que nos acolhe, desvendam-nos o mundo. Às vezes é um nada que nos faz reflectir, é um momento, é uma figura que nos entra pela porta dentro e de quem nos sentimos logo irmãos... 

Ainda não há muito que passei uma tarde no lagar, com os homens que assentavam os dornões, e achei um grande encanto àquela lide rude. Cheirava a mosto, e o cheiro pareceu-me mais penetrante que das outras vezes. É a quadra do ano em que caem as primeiras chuvas. Sente-se que vem aí o desabar imenso, nas noites que não têem fim —e aquela voz séria que nos faz reflectir. Há já um pique de frio, que sabe bem, e os ratos e as doninhas começam a levar para os buracos as primeiras folhas amarelecidas que caem das árvores. Tudo adivinha o inverno. A porta da adega comunica com a cozinha térrea da nossa pequena lavoura. Debruçada sobre o lar, a mulher deitava um feixe de sarmentos da poda sobre as brasas, e a fogueira lambia as paredes negras que relusem, iluminava os potes de ferro e o berço do filho ao lado do lume, a quem ela ia falando em-quanto fazia o caldo... Este pequeno quadro de interior humilde — o homem que trabalha comigo na mesma vinha, o moço que o ajuda, a mulher e o berço, fizeram cismar... Aproximo-me cada vez mais — outro inverno, ou a ideia da morte? — da vida de todos os dias. Esta época do ano é a que melhor se harmoniza com a minha alma um pouco cansada e triste — já resignada diante do fim. É agora que eu acho mais sabor à vida — quando a sinto fugir-me. Cheira a folhas apodrecidas. As sombras mais frias, à espera de outras sombras geladas e eternas, trespassam-me de humidade. Anuncia-se o grande inverno no pio das aves, na cor das folhas que se arrepiam com a lufada do vento e caem uma a uma com um ruído tão leve como os passos da Morte... 

O sentimento da vida humilde inspiraste-mo tu; este e outros de apaziguamento e verdade. Ligaste-me mais aos vivos e aos mortos. Aos que estão sentados ao nosso lado nesta noite sagrada e à legião infinita que tem sofrido no mundo, cumprindo a vida, aos desgraçados e aos humildes, aos pobres de pedir que caminham como dantes pela estrada. A chuva cai fora, com o ruído manso de quem se resigna e aceita a dor... Cheguemo-nos mais para o lar, que eu faço arder uma fogueira que nos aqueça a todos — toros de carvalho duros como ferro que dão uma luz mortiça e um calor persistente; o pinheiro que arde, estala, flameja, numa grande labareda fugaz; as vides que plantei e já me aquecem há dois invernos e as pinhas que gosto de atirar uma a uma ao lume e que se transformam em maravilhosas flores de ouro, cujas pétalas só duram um instante... Cheguem-se todos os que no mundo me deram um bocadinho de ternura! 

Tu, primeiro, de quem herdei a sensibilidade e esta paixão pelas árvores e pela água, e de quem sinto as mãos pousadas sobre a cabeça, trespassando-me de ternura; tu, tão velhinha, que me quizeste como a um filho, e vós todas de quem confundo as cabeças brancas. Sinto na mão um dedo nodoso que já não existe e a que a minha mão ainda se apega. Sinto as mãos que toquei durante a vida. Muitas já desapareceram, mas estão aqui entre as minhas — as mãos de meu pai, as mãos de minha mãe, as mãos pequeninas das crianças. Não a mão material — mas as mãos espirituais. As mãos quando a gente as aperta e as tem entre as suas dão-nos o ser inteiro pelo contacto. Destruídas pela morte fica a ternura que nos transmitiram. 

Um momento, um só momento, um momento e lágrimas, um único momento para lhes fazer sentir também a minha ternura, redobrada pelos anos, aumentada pela saudade, amplificada pelo conhecimento da vida e da dor!...”

in 'Memórias (Dezembro 1924)' 


Imagem: 
Retrato de Raul Brandão e de sua esposa D. Angelina Brandão, 1928
Columbano Bordalo Pinheiro

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Nasceu há 100 anos



CRUZEIRO SEIXAS, artista plástico e poeta surrealista

Hei-de lembrar eternamente a hora exacta
em que morrerei
entre venenosas flores.
Correrei sustido junto ao mar
que dizes
é o meu reflexo
E os teus olhos são jardins abertos
que rego amorosamente
e abandono aos cavalos cornudos
do dia-a-dia.
Sinto o naufrágio de todos os leitos
e beijo os manequins dados à costa.
Beijarei ainda o alto espaldar da cadeira
e no prato de prata essa estrela aberta ao meio
cirurgicamente como um fruto
na última sala
do meu ex-coração.
Tudo o que faço inscreve-se
na curva perfeitíssima da memória;
que importa a sede das pedras
no espaço forrado a veludo?
Cresce a vaga ______ curva-se o país de labaredas
e uma estátua de água assobia
enterrando uma palavra encontrada sem fôlego
junto ao sol.
Agora está grávido o Vento
e na sua fuga
arrasta as cidades.

Cruzeiro Seixas, in “Obra Poética - I”, Porto Editora, 2020, pp. 13-14
.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Na morte de Eduardo Lourenço


«Há dias em que madrugamos e julgamos que vamos apanhar Deus. Em vão: Deus levanta-se sempre mais cedo!...», escreveu um dia Eduardo Lourenço, com aquele inconfundível matiz de humor que por vezes punha nos mais fundos confrontos com a gravidade da vida. Hoje, bem cedo, partiu, pôs-se a caminho da reintegração na plenitude ontológica, para ser acolhido anterianamente «Na mão de Deus, na Sua mão direita»…

Aí, no resplendor da Transcendência eterna, a graça do resgate pacificará agora a radicalidade interrogativa do pensamento de Eduardo Lourenço e o seu confronto inquieto com o sentido do trágico, ponderado em autores que particularmente o atraíram e vivido na perspetivação do seu próprio destino.

Aí encontrará feliz desenlace o processo existencial e fenomenológico em que terrenamente se cumpriu Eduardo Lourenço, tão tocado pelo abalo metafísico do encontro com Kierkegaard e com F. Pessoa, em ordem à edificação de uma sabedoria trágica da vida – que ultimamente mais lhe pareceria conciliável com a adesão a Cristo, Mediador amoroso que podia ver, entre Gomes Leal e René Girard, como o grande Reparador. 

Aí, junto ao Senhor do Tempo e da Vida, alcançará sentido último o fecundo labor cultural e cívico em que durante décadas Eduardo Lourenço ajudou à construção do Mundo através de um raro movimento entre aos mais amplos horizontes da filosofia da História humana ou da renovadora mitografia do ser lusíada e a atenção lúcida à circunstância nacional e internacional, o discurso compreensivo e crítico sobre os problemas culturais e sociais emergentes no mundo contemporâneo, a palavra interventiva no contexto político.

Aí, junto à fonte da Beleza conhecerá toda a harmonia todo o fulgor a poética da digressão ensaística e a alta qualidade literária, algo wagneriana, da escrita de Eduardo Lourenço, tal como conhecerá toda a harmonia o tom cativante do magistério oral em que irradiava a sua qualificada condição de filósofo e a sua insuspensa questionação dos acontecimentos coetâneos. 

Aí, no seio divino da Verdade e do Bem, alcançará justa compensação o denodo com que Eduardo Lourenço sempre se comprometeu com a «obrigação de suportar a liberdade humana» em todos os domínios e sempre sustentou, com desassombro e brilho, que a sua demanda de Conhecimento se queria coerente com o horizonte da «vivência mesma da Verdade» e que nela obedecia, «por temperamento e por formação espiritual», à «única motivação radical» que «finalmente é como decisão de ordem “religiosa" e mesmo "mística" [...] que melhor se compreenderá» («Segundo Prólogo sobre o Espírito de Heterodoxia»).

Custa menos, assim, despedirmo-nos de Eduardo Lourenço, em nome do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura – que se orgulha de lhe haver atribuído, após voto unânime do respetivo Júri, o Prémio Árvore da Vida 2020. É-nos grato recordar, aliás, a admiração com que Eduardo Lourenço então evocou a figura do patrono desse Prémio, o emérito Padre Manuel Antunes, e assinalou algumas afinidades de espírito entre ambos.

José Carlos Seabra Pereira
Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

Devaneios cruzadísticos │ Cruzeiro Seixas

Cruzeiro Seixas, um dos protagonistas mais importantes do movimento surrealista em Portugal, deixou-nos no dia 8 de Novembro findo, com quase 100 anos. Celebraria depois de amanhã, quinta-feira, dia 3 de Dezembro de 2020, justamente 100 anos!

A sua morte foi anunciada pela Fundação Cupertino de Miranda, que guarda o espólio visual e literário do artista, em Vila Nova de Famalicão, onde pode ser visitado.

Nasceu na Amadora, no dia 3 de Dezembro de 1920. A sua obra é facilmente identificada, pela sua marca pessoal e intransmissível, pelo carácter distintivo que imprime em todas as suas peças. 

Frequentou a Escola António Arroio, em Lisboa, onde fez amizade com Mário Cesariny, Marcelino Vespeira, Júlio Pomar e Fernando Azevedo. 

Em meados da década de 1940 aproximou-se do neo-realismo, de que se afastou quando aderiu aos princípios do surrealismo. Juntamente com Mário Cesariny, António Maria Lisboa, Carlos Calvet, Pedro Oom e Mário-Henrique Leiria, entre outros, integrou o Grupo Surrealista de Lisboa, resultante da cisão do recém-formado movimento surrealista português.

Em 1951 fixou-se em Angola, desenvolvendo actividade no Museu de Luanda. Data desse tempo o início da sua produção poética. Realizou as primeiras exposições individuais, que levantaram um acalorado movimento de opinião. Regressou a Portugal em 1964, tendo recebido uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian em 1967.

Figura controversa, dele disse Mário Cesariny, seu amigo muito especial: «O Cruzeiro Seixas é como se tivesse o cérebro dividido, Metade é todo luz, faz coisas muito belas. A outra metade é uma confusão total, não se percebe nada. Quando aquilo se baralha, é de fugir».

Viveu os últimos tempos da sua vida na Casa do Artista, em Lisboa. Ironicamente, a designação de artista aborrecia-o. Julgava-se antes um «Homem que faz desenhos e pinta». Morreu a 8 de Novembro de 2020 no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. 

O AlegriaBreve preparou-se para o homenagear em vida, na comemoração do centenário do seu nascimento, mas ele achou melhor partir, para assim ficar mais perto do Sol.

Convido os meus amigos a resolver este problema e, no final, encontrar o nome (5 palavras nas horizontais) de um álbum, editado em 2000, com poemas e desenhos do poeta e pintor português Cruzeiro Seixas (1920 – 2020).


HORIZONTAIS: 1 – Una; Come à pressa [popular]. 2 – Demónio [regionalismo]; Palavra que, no dialecto provençal, significava sim. 3 – Desgasta; Indigno; Embora. 4 – Sacrifica; Percebei. 5 – Abreviatura de opus; Bandear-se. 6 – Entre nós; Acontecer; Difícil; Como. 7 – Comoções [figurado]; Afastado. 8 – Estafa; Salvo. 9 – Iça; Somai; Vela. 10 – Piedade; Cala. 11 – Brilho no olhar de alguém enfurecido [figurado]; Ocidente.

VERTICAIS: 1 – Continuar; Abatida. 2 – Interjeição que exprime espanto [Brasil]; Partidas. 3 – Sepultura [Moçambique]; Liga. 4 – Paga; Julga; Alternativa. 5 – Índigo; Símbolo da resistividade eléctrica; Interjeição que exprime enfado [Angola]. 6 – Épocas; Designação de um asceta mendicante na Índia. 7 – Simpatia [figurado]; Uno; Seguro. 8 – Dente queixal [regionalismo]; Fim [figurado]; Até. 9 – Nome da vigésima segunda letra do alfabeto grego; Tiras. 10 – Bendizes; Interjeição que exprime dor. 11 – Ajustes; Zuna.

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Aceito respostas até dia 25 de Dezembro, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?