terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Eduardo Lourenço

"O Esplendor do Caos" é o nome de uma obra do professor e filósofo português Eduardo Lourenço (1923-2020), pedido com a resolução do passatempo de palavras - cruzadas, referente ao mês de Janeiro de 2021.


Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Julieta; Juse; Madobar; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; Par de Pares; Raquel Atalaya; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

Grato a todos.
Até ao próximo!

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

O Tempo das Cerejas em Eugénio de Andrade

O amigo mais íntimo do Sol nasceu no inverno, no dia 19 de janeiro. Na Beira Baixa, da neve e das tangerinas que ele não se cansou de exaltar nos seus poemas, assim como as cerejas, um fruto metafórico por excelência. Com gostos bem definidos, como devem ser os de quem reflete a vida e as suas possibilidades, afirmou que é fácil ser poeta; ou então impossível.

Num país como o nosso em que todos se julgam tocados pela lira e pela graça de colher “todo o oiro do dia / na haste mais alta da melancolia”, esta afirmação não é inocente; e mostra muito da postura de Eugénio de Andrade. Ou Branco ou Preto Conhecido como pouco afável, por não cultivar a diplomacia que já no seu tempo se alimentava de autógrafos para a venda de livros, manteve-se fiel a si próprio, e cultivou amizades das que perduram por toda uma vida, até à morte.

Escreveu sobre os seus amigos, uns mais famosos que outros, mas todos com uma inquietação que os aproximava na partilha do seu tempo.

Jorge de Sena, que, sempre igual a si próprio, confessou um dia que foi ele quem lhe arranjou o metódico emprego de funcionário público no Porto, onde Eugénio de Andrade trabalhou toda a vida; trabalho que cansaria facilmente os que não sabem guardar e cuidar, silenciosamente, a Poesia dentro de si. Mas também Sophia e Agustina; e Ruy Belo com quem partilhou a dura condição de um país que não reconhece o amor, mesmo quando toma a forma de um poema.

Para quem ainda tem de Eugénio de Andrade a ideia de um poeta superficial, apenas da natureza e do olhar, recomendo o poema “À memória de Ruy Belo”; para sentir a mistura explosiva de ternura e de ódio que perpassa todo o texto; escrito após a morte do amigo. Mas Eugénio de Andrade ainda consegue ser mais radical e político nos poemas que dedica a Pier Paolo Pasolini ou a essa morte também cruel que foi a de Luís Miguel Nava.

De Sophia, escreveu: “Sempre que penso nela vejo o mar, muito nítido e azul ao fundo. Encontrei-a em tantos sítios!, mas escolho um dia único, não sei se na Granja ou em Cascais, na Foz ou em Corfu, para a trazer aqui, uma luz fina acentuando-lhe a claridade dos olhos e dos cabelos".

Foi sempre muito jovem, de carácter irrepreensível e segura de si, mas também distante, como se tivesse chegado doutro país e não tivera tempo de se adaptar àquele em que vivia.”

No entanto, o testemunho mais comovente vai para os amigos de Coimbra, onde viveu enquanto jovem, cultivando a música, a poesia e o amor, cito: “as discussões eram intermináveis, só possíveis quando a juventude é excessiva, e não nos cabe nas mãos tal ardor. Havia também as lições de matemática (com poemas de Neruda e Maiakovki à mistura) com o Joaquim Namorado, três vezes por semana. Às nove batia-lhe à porta e às vezes ficava o resto do dia na cidade. Dava então um salto ao consultório do Miguel Torga ou procurava o Eduardo Lourenço ou o Carlos de Oliveira. Eram os meus amigos de Coimbra. Deixo ainda da memória desse tempo, um fragmento de um poema que Eugénio de Andrade dedica ao recentemente desaparecido Eduardo Lourenço: “Ali nos encontrámos certo dia,/ éramos jovens e mais jovem que nós/ era a poesia que nos acompanhava./ Hölderlin, Keats, Pessanha e o Pessoa/ eram então – e não serão ainda? – / Os nossos amigos…

Um testemunho como uma espécie de regresso ao passado. Ao tempo das cerejas. Onde ainda tudo era possível.

Elsa Ligeiro, in Jornal do Fundão, de 19 de Janeiro de 2021

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Eugénio de Andrade na morte de Miguel Torga

Não sei 


Não sei porque diabo escolheste
janeiro para morrer: a terra
está tão fria.

É muito tarde para as lentas
narrativas do coração,
o vento continua
a tarefa das folhas:
cobre o chão de esquecimento.

Eu sei:tu querias durar.
Pelo menos durar tanto como o tronco
da oliveira que teu avô
tinha no quintal.Paciência,
querido,também Mozart morreu.

Só a morte é imortal.


Eugénio de Andrade │O Sal da Língua

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

O Amor em João de Deus

AMOR

Não vês como eu sigo
Teus passos, não vês?
O cão do mendigo
Não é mais amigo
Do dono talvez!

Ao pé de uma fonte
No fundo de um vale,
No alto de um monte
Do vasto horizonte,
Sem ti estou mal!

Sem ti, olho e canso
De olhar, e que vi?
Os olhos que lanço,
Acharem descanso,
Só acham em ti!

Os ventos que empolam
A face do mar,
E as ondas que rolam
Na praia, consolam
Tamanho pesar?

As formas estranhas
De nuvens que vão
Roçando as montanhas
Em ondas tamanhas
Distraem-me? Não!

A pomba que abraça
No ar o seu par,
E a nuvem que passa,
Não tem essa graça
Que tens a andar!

Parece o pezinho,
De lindo que é,
Ligeiro e levinho
O de um passarinho
Voando de pé!

O rosto, há em torno
Da pálida oval,
Daquele contorno
Tão puro, o adorno
Da auréola imortal!

Não sei que luz vaga,
Mas íntima luz,
Que nunca se apaga,
Me inunda, me alaga,
Se os olhos lhe pus!

Eu amo-te, e sigo
Teus passos, bem vês!
O cão do mendigo
Não é mais amigo
Do dono talvez!

João de Deus, in 'Campo de Flores'
(São Bartolomeu de Messines, 8 de Março de 1830 — Lisboa, 11 de Janeiro de 1896)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Inês morreu e nem se defendeu


Inês morreu e nem se defendeu
da morte com as asas das andorinha
pois diminuta era a morte que esperava
aquela que de amor morria cada dia
aquela ovelha mansa que até mesmo cansa
olhar vestir de si o dia-a-dia
aquele colo claro sob o qual se erguia
o rosto envolto em loura cabeleira
Pedro distante soube tudo num instante
que tudo terminou e mais do que a Inês
o frio ferro matou a ele.
Nunca havia chorado é a primeira vez que chora
agora quando a terra já encerra
aquele monumento de beleza
que pode Pedro achar em toda a natureza
que pode Pedro esperar senão ouvir chorar
as próprias pedras já que da beleza
se comovam talvez uma vez que os humanos
corações consentiram na morte da inocente Inês
E Pedro pouco diz só diz talvez
Satanás excedeu o seu poder em mim
deixem-me só na morte só na vida
a morte é sem nenhuma dúvida a melhor jogada
que o sangue limpe agora as minhas mãos
cheias de nada
ó vida ó madrugada coisas do princípio vida
começada logo terminada.

excerto de "A Margem da Alegria",
in "A Margem da Alegria", Editorial Presença, 1998;
in "Todos os Poemas", de Ruy Belo, Círculo de Leitores, p. 444

Imagem:
Drama de Inês de Castro (c. 1901-04), Columbano Bordalo Pinheiro.
Museu Militar de Lisboa.

(*) — Inês de Castro foi morta a 7 de Janeiro de 1355.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Eduardo Lourenço

Eduardo Lourenço morreu no dia 1 de Dezembro findo, em Lisboa, aos 97 anos.  O AlegriaBreve não podia deixar de, de uma forma humilde e singela, lhe prestar a devida homenagem. 

Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da Cultura portuguesa.

Nascido em S. Pedro de Rio Seco, concelho de Almeida, distrito da Guarda, a 23 de Maio de 1923, lecionou em diversas universidades, de Coimbra a Brasília, passando por Hamburgo, Heidelberg, Montpellier, Grenoble e Nice. Colaborador de longa data da Fundação Calouste Gulbenkian, foi seu administrador não executivo entre 2002 e 2012. De 2016 a 2020 foi Conselheiro de Estado, por nomeação presidencial.

Autor de mais de 40 títulos, possuiu desde sempre “um olhar inquietante sobre a realidade”, como destacaram os seus pares. 

O Labirinto da Saudade” é, porventura, a sua obra mais citada. Aproximou-se da modernidade na obra de Fernando Pessoa, através dos livros “Pessoa Revisitado” (1973), “Infinito Pessoa” (1975), “Pessoa, Rei da Nossa Baviera” (1986). Abrange muitos outros textos fundamentais, uns publicados, outros inéditos, e ainda outros cortados pela censura. Revelam a atenção e o interesse de Eduardo Lourenço, a partir de 1949, pela obra conhecida, na altura, de Fernando Pessoa.

Recebeu, ao longo da sua vida, numerosas distinções, entre as quais o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon (1988), o Prémio Camões (1996), o Prémio Pessoa (2011) e o Prémio da Academia Francesa (2016). 

Entre outras condecorações, foi agraciado com as Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago da Espada da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem da Liberdade. Foi ainda nomeado Officier de la Légion d’Honneur e consagrado Doutor Honoris Causa pelas Universidades do Rio de Janeiro (1995), Universidade de Coimbra (1996), Universidade Nova de Lisboa (1998) e Universidade de Bolonha (2006).

Foi amigo e manteve correspondência com grandes nomes da literatura portuguesa, caso de Jorge de Sena e Vergílio Ferreira.

Homem de enorme cultura, e todavia humilde, um dia confessou: «Sei que adquiri uma vasta sabedoria que não me serve para nada».

Convido os meus amigos a resolver este problema e, no final, encontrar o nome (4 palavras nas horizontais) de uma obra do professor e filósofo português Eduardo Lourenço (1923 – 2020).


HORIZONTAIS: 1 – Fluxo de humores; Sossego. 2 – Dura; Consegue. 3 – Interjeição que exprime alívio; Designação oriental de cada uma das celas utilizadas por alguns anacoretas [antiquado]; Julga. 4 – Peso indiano (de 141 a 330 quilogramas); Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de baga; Instrumento com que se encurvam as calhas das linhas férreas. 5 – Árvore-da-judeia; Mais. 6 – Fulgor. 7 – Seduza [figurado]; Sujeito. 8 – Rede Nacional de Assistência [sigla]; Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de novo; Sujeita. 9 – Contracção de de+o; Unidade de medida de brilho, de símbolo sb, equivalente a uma candela por centímetro quadrado; Aqueles. 10 – Confusão; Vales. 11 – Chefes [figurado]; Fim [figurado].

VERTICAIS: 1 – Rapto; Íngreme. 2 – Vinho bom [figurado]. 3 – Indivisível; Roça; Aqui. 4 – Apenas; Árvore do arquipélago da Malásia, de cuja resina se extrai um veneno; Parte. 5 – Lérias [figurado]. 6 – Destilo; Vede. 7 – Dinheiro [coloquial]. 8 – Falda; Convindo; Muito. 9 – Vaticina; Máxima; Como. 10 – Composto binário de hidrogénio e outro elemento. 11 – Efemina; Povo [figurado].

Clique Aqui para abrir e imprimir o PDF.



Aceito respostas até dia 25 de Janeiro, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?