segunda-feira, 12 de abril de 2021

Morte em Timor, por Ruy Cinatti

Morte em Timor

Sobre Timor um fogo fino paira,
alastra, crepita quando da terra se aproxima
e crescente, envolvente, cerca os montes
e coroa se afirma.

Meus olhos sentem a beleza rubra
ululante de cães pela noite fora,
a paciência da floresta destruída
catana na raiz e depois cinza.

Minha incompreensão em vão procura
ressuscitar as crenças vãs de outrora,
os bosques sagrados onde o frio habita
no temor que as mãos prende e petrifica.

Minha imaginação em vão procura
deter com astros e outras mãos a sina
insidiosa qual a morte de homem
ancorado na árvore que sobre a terra se persigna.

E vejo um monte de palha
ardendo do cimo ao mar que ondula e se derrama nas praias
e contra o denso fumo que circunda,
avanço, resoluto, archote em vida,
proclamando a verdade do cântico,
a dança terreal que me fascina.


Ruy Cinatti, in “Obra Poética”

Sem comentários:

Enviar um comentário