Morte em Timor
Sobre Timor um fogo fino paira,
alastra, crepita quando da terra se aproxima
e crescente, envolvente, cerca os montes
e coroa se afirma.
Meus olhos sentem a beleza rubra
ululante de cães pela noite fora,
a paciência da floresta destruída
catana na raiz e depois cinza.
Minha incompreensão em vão procura
ressuscitar as crenças vãs de outrora,
os bosques sagrados onde o frio habita
no temor que as mãos prende e petrifica.
Minha imaginação em vão procura
deter com astros e outras mãos a sina
insidiosa qual a morte de homem
ancorado na árvore que sobre a terra se persigna.
E vejo um monte de palha
ardendo do cimo ao mar que ondula e se derrama nas praias
e contra o denso fumo que circunda,
avanço, resoluto, archote em vida,
proclamando a verdade do cântico,
a dança terreal que me fascina.
Ruy Cinatti, in “Obra Poética”
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