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sábado, 26 de outubro de 2024

Devaneios cruzadísticos │ António Ramos Rosa

"O que não pode ser dito" é o título de uma obra do poeta português António Ramos Rosa (1924-2013), pedido com a resolução do passatempo de Palavras Cruzadas, referente ao mês de Outubro de 2024.

Para os meus amigos

Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.

António Ramos RosaViagem Através de uma Nebulosa

Recebi respostas de: Alabi; Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Caba; Candy; Donanfer II, El-Danny; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Juse; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Odemi; Olidino; Paulo Freixinho; PAR DE PARES; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Sepol; Seven; Socrispim; Somar; TRIO SUL-MINAS (Crispim, Loanco e O. K.), Virgílio Atalaya e Zabeli.

Obrigado a todos. Até breve!

domingo, 6 de outubro de 2024

Devaneios...


Hoje, em um dos devaneios sem propósito nem dignidade que constituem grande parte da substância espiritual da minha vida, imaginei-me liberto para sempre da Rua dos Douradores, do patrão Vasques, do guarda-livros Moreira, dos empregados todos, do moço, do garoto e do gato. Senti em sonho a minha libertação, como se mares do Sul me houvessem oferecido ilhas maravilhosas por descobrir. Seria então o repouso, a arte conseguida, o cumprimento intelectual do meu ser

Mas de repente, e no próprio imaginar, que fazia num café no feriado modesto do meio-dia, uma impressão de desagrado me assaltou o sonho: senti que teria pena. Sim, digo-o como se o dissesse, circunstaciadamente: teria pena. O patrão Vasques, o guarda-livros Moreira, o caixa Borges, os bons rapazes todos, o garoto alegre que leva as cartas ao correio, o moço de todos os fretes, o gato meigo — tudo isso se tornou parte da minha vida; não poderia deixar tudo isso sem chorar, sem compreender que, por mau que me parecesse, era parte de mim que ficava com eles todos, que o separar-me deles era uma metade e semelhança da morte.

Aliás, se amanhã me apartasse deles todos, e despisse este trajo da Rua dos Douradores, a que outra coisa me chegaria - porque a outra me haveria de chegar?, de que outro trajo me vestiria - porque de outro me haveria de vestir?

Todos temos o patrão Vasques, para uns visível, para outros invisível. Para mim chama-se realmente Vasques, e é um homem sadio, agradável, de vez em quando brusco mas sem lado de dentro, interesseiro mas no fundo justo, com uma justiça que falta a muitos grandes génios e a muitas maravilhas humanas da civilização, direita e esquerda. Para outros será a vaidade, a ânsia de maior riqueza, a glória, a imortalidade... Prefiro o Vasques homem meu patrão, que é mais tratável, nas horas difíceis, que todos os patrões abstractos do mundo.

Considerando que eu ganhava pouco, disse-me o outro dia um amigo, sócio de uma firma que é próspera por negócios com todo o Estado: «você é explorado, Borges». Recordou-me isso de que o sou; mas como na vida temos todos que ser explorados, pergunto se valerá menos a pena ser explorado pelo Vasques das fazendas do que pela vaidade, pela glória, pelo despeito, pela inveja ou pelo impossível.

Há os que Deus mesmo explora, e são profetas e santos na vacuidade do mundo.

E recolho-me, como ao lar que os outros têm, à casa alheia, escritório amplo, da Rua dos Douradores. Achego-me à minha secretária como a um baluarte contra a vida. Tenho ternura, ternura até às lágrimas, pelos meus livros de outros em que escrituro, pelo tinteiro velho de que me sirvo, pelas costas dobradas do Sérgio, que faz guias de remessa um pouco para além de mim. Tenho amor a isto, talvez porque não tenha mais nada que amar - ou talvez, também, porque nada valha o amor de uma alma, e, se temos por sentimento que o dar, tanto vale dá-lo ao pequeno aspecto do meu tinteiro como a grande indiferença das estrelas.

Bernardo Soares, in Livro do Desassossego

terça-feira, 1 de outubro de 2024

Devaneios cruzadísticos │ António Ramos Rosa

Neste mês de Outubro, ocorre o 1º centenário do nascimento do poeta António Ramos Rosa, um dos grandes poetas portugueses, também reconhecido pela sua pintura e críticas literárias. Nasceu em Faro no dia 17 de Outubro de 1924 e faleceu em Lisboa, no dia 23 de Setembro de 2013.


Parque dos Poetas em Oeiras
Escultura de Francisco Simões 

Estudou em Faro, não tendo acabado o ensino secundário por questões de saúde. Em 1958 publicou no jornal «A Voz de Loulé» o poema "Os dias, sem matéria". No mesmo ano, saiu o seu primeiro livro «O Grito Claro», n.º 1 da colecção de poesia «A Palavra», editada em Faro e dirigida pelo seu amigo e também poeta Casimiro de Brito. Ainda nesse ano iniciou a publicação da revista «Cadernos do Meio-Dia», que em 1960 encerrou a edição por ordem da polícia política.

Abandonou a vida de funcionário de escritório para ser trabalhador das palavras a tempo inteiro. Límpidas, meticulosas, depuradas "com uma certa força nua" - dizia António Ramos Rosa - que encontrou na poesia a sua matéria vital, espaço de resistência e sobrevivência.

No princípio, eram os poemas de expressão mais lírica, empenhados nas questões políticas e sociais, aproximados a uma estética neorrealista. Depois, António Ramos Rosa entrou numa segunda consciência poética, de descoberta e contemplação da natureza, a reflectir o mundo, a desenhá-lo nas palavras que amava e trabalhava em apurado rigor e ardor.

Com mais de quatro décadas de títulos publicados, António Ramos Rosa foi certamente um dos mais importantes poetas portugueses.

O seu prestígio ultrapassou as fronteiras portuguesas e, nos anos 80, foi reconhecido como "poeta europeu da década". Entre vários prémios e galardões, ganhou o Prémio Pessoa em 1988.

Este mês, convido os meus amigos a solucionar este passatempo de Palavras-Cruzadas e encontrar, no final, o título (6 palavras nas Horizontais) de uma obra do poeta português António Ramos Rosa (1924-2013).

HORIZONTAIS: 1 – Vindimas; Defender [figurado]. 2 – Achas; Assento [popular]. 3 – Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de igual; Idade [plural]; Como. 4 – Recusa; Símbolo de actínio; Que é formado por duas partes. 5 – Causa; Distancia. 6 – Tem o direito de; Terreiro. 7 – Estrado alcatifado debaixo de dossel; Adivinha. 8 – Fúteis [figurado]; Simples; Pessoa. 9 – Terras [figurado]; Exposto; Apenas. 10 - Símbolo de ástato; Astuta. 11 – Murchas; Palavreado.
 
VERTICAIS: 1 – Borga [regionalismo]; Entendes. 2 – Incólume; Embrulho. 3 – Interjeição usada para interromper; Cheiras. 4 – Amarra; Somais; Entre nós. 5 – Sorte; Preposição que designa lugar; Bates. 
6 – Esconderijo [regionalismo]; Índigo. 7 – Passes; Responsável; Prestável. 8 – Aquelas; Tecido branco de linho inglês, usado no Brasil, para fatos de homem; Cântico. 9 – Amas; Porte. 10 – Humilhada [figurado]; Símbolo de einsténio. 11 – Círculo em forma de moeda, nos escudos [Heráldica]; Mudança.

Clique Aqui para abrir e imprimir o PDF com o passatempo.

Produções AlegriaBreve http://alegriabreve47.blogspot.pt/ 

O problema não segue, ainda, o novo Acordo Ortográfico


Aceito respostas até dia 25 de Outubro, inclusive, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?