A RTP-Memória passa actualmente episódios da série “Horizontes da Memória”, da autoria do Prof. José Hermano Saraiva. Sempre que posso, vejo. O Prof. Hermano Saraiva é uma figura controversa, a que não é alheia a circunstância de ter sido Ministro antes do 25 de Abril. Por outro lado, foi muito criticado pelos seus confrades, por, às vezes, ter uma interpretação da História fora do cânone oficial. Aqui, devo dizer que ele, sempre que tinha uma versão diferente, deixava o aviso. Era só a sua opinião. Não podemos condenar ninguém por pensar pela sua cabeça. Cabe a nós aceitar ou não. E até pode ser um estímulo para irmos saber quem tem razão.
No programa de hoje o Prof. falou do Navio Gil Eanes. O nome é uma justa homenagem ao navegador Gil Eanes, natural do Algarve. Ficou na História por ter sido o primeiro a navegar para além do Cabo Bojador em 1434. O primeiro navio era alemão e veio à posse de Portugal em 1916, a título indemnizatório. A segunda “versão” do navio é de 1955. O antigo foi substituído por uma nova embarcação, homónima, construída de raiz nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Ao longo da sua existência, o navio teve múltiplas funções, mas ficou mais conhecido como o navio-hospital português. O escritor Bernardo Santareno foi lá médico. O navio efectuou a sua última viagem à Terra Nova em 1973, ano em que também fez uma viagem diplomática ao Brasil com o recém-nomeado embaixador de Portugal em Brasília de então, o Prof. José Hermano Saraiva. Depois, ainda em 1975, o navio trouxe retornados de Luanda para Lisboa. Após esta última viagem perdeu as suas funções, ficando acostado no porto de Lisboa até ser vendido como sucata para abate em 1977. E, em consequência disso, o Gil Eanes entrou na Doca da Sucata de Alhos Vedros, para ser desmantelado.
O programa de hoje foi filmado em Setembro de 1997, dentro do navio acostado na Doca da Sucata de Alhos Vedros, quando faltavam, justamente, 2 dias para se iniciar o seu desmantelamento. É, então, que o Prof. lança um apelo emotivo para salvar o navio do camartelo. Quando o programa chegou ao fim, não deixei de me sorrir, não acreditando que o navio, que mais parecia um monte de ruínas, se tivesse salvado.
Só por curiosidade vim directo à NET só para confirmar o triste fim. Não, o navio não morreu ali. Como vem dito na Wikipédia “A comunidade vianense mobilizou-se para o resgatar, concebendo um projecto para ser exposto no porto de mar de Viana do Castelo, como tributo ao passado marítimo da cidade, tornando-se numa das suas atracções turísticas. Hoje, O Gil Eanes está ancorado no porto de pesca de Viana do Castelo, tem a função de espaço museológico e Pousada da Juventude”.
Como também vem ali referido, foi graças ao apelo do Prof. José Hermano Saraiva que o navio Gil Eanes foi salvo do camartelo. Mais vale tarde do que nunca!