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domingo, 26 de janeiro de 2020

Devaneios cruzadísticos │Clarice Lispector

"Um Sopro de Vida" é o título de uma obra de Clarice Lispector, pedido com a resolução do passatempo referente ao mês de Janeiro de 2020, evocando o primeiro centenário do nascimento desta escritora brasileira.


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Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Fernando Semana; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Julieta; Juse; Madobar; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

A todos agradeço.

Premiado: Baby, Funchal
Prémio Porto Editora

Até ao próximo!

domingo, 19 de janeiro de 2020

O milagre da cada dia

Hoje, se fosse vivo, Eugénio de Andrade, um dos meus amados poetas, faria 97 anos. 




Os Amantes sem Dinheiro

Tinham o rosto aberto a quem passava
Tinham lendas e mitos
E frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
De mãos dadas com a água
E um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
O milagre de cada dia
Escorrendo pelos telhados,
E olhos de oiro
Onde ardiam
Os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
E silêncio
À roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
Um pássaro nascia dos seus dedos
E deslumbrado penetrava nos espaços.



Eugénio de Andrade │Os Amantes sem Dinheiro

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Nasceu há 100 anos

Germana Tânger (16 de Janeiro de 1920 — 22 de Janeiro de 2018), actriz, encenadora, declamadora e divulgadora de poesia portuguesa, declama, de cor, “Aniversário“, de Álvaro de Campos, no programa Câmara Clara, da RTP2, em 15 de Junho de 2008.




ANIVERSÁRIO

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino.
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa.
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


15-10-1929
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). - 284.
1ª publ. in Presença, nº 27. Coimbra: Jun.-Jul. 1930.

sábado, 11 de janeiro de 2020

Um declaração de amor


Declaração de Amor 

[…] Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter subtilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo. 

Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope. 

Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E este desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança de língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida. 

Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega. 

Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida. 


Clarice Lispector, em A Descoberta do Mundo (Livro de crónicas) 
11 de Maio de 1968

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Devaneios cruzadísticos │Clarice Lispector

Este é primeiro dia do centenário do nascimento da escritora brasileira Clarice Lispector, considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX. É uma forte razão para o AlegriaBreve lhe dedicar o primeiro passatempo do ano de 2020.


Nasceu na Ucrânia no dia 10 de Dezembro de 1920 e morreu no Brasil (Rio de Janeiro), no dia 9 de Dezembro de 1977. Foi escritora e jornalista. De origem judaica, Clarice Lispector chegou ao Brasil quando tinha 1 ano e dois meses de idade, com a família, para fugir à perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa de 1918-1921. Mais tarde, naturalizou-se brasileira.

Sempre que questionada acerca da sua nacionalidade, Clarice afirmava não ter nenhuma ligação com a Ucrânia "Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo" A sua verdadeira pátria foi o Brasil.

Em Agosto de 1944, Clarice Lispector, a caminho de Nápoles em Itália, passou por Lisboa, onde permaneceu por uma semana e meia, convivendo com alguns intelectuais, em particular a poeta Natércia Freire, com a qual estabeleceria uma longa amizade.

Uma passagem breve e, todavia, suficiente para Clarice reafirmar a seguinte Declaração de Amor: "Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa...."

Em 1943, havia-se casado com Maury Gurgel Valente, um diplomata de carreira, o que lhe permitiu permanecer, por algum tempo, em países da Europa. Como esposa do diplomata, Clarice esteve em Itália, onde serviu durante a Segunda Guerra Mundial, como assistente voluntária junto ao corpo de enfermagem da Força Expedicionária Brasileira. Esteve, ainda, em Inglaterra, Estados Unidos da América e Suíça. 

Teve dois filhos, o Pedro nascido em Berna, na Suíça, e o Paulo nascido em Washington, nos Estados Unidos. O Pedro teve, na sua adolescência, problemas de atenção e agitação, diagnosticados como esquizofrenia. Clarice sentia-se de certa forma culpada pela doença do filho, e teve dificuldades em lidar com esta situação. 

Em 1959, separou-se do marido, que ficou na Europa, tendo ela voltado para o Rio de Janeiro com os seus filhos, onde ficou a morar para sempre. 

Faleceu no dia 9 de Dezembro de de 1977, um dia antes de seu 57° aniversário. Ainda na manhã de seu falecimento, mesmo sob sedativos, Clarice ditava frases para sua amiga Olga Borelli.

Solucionado o problema, poderá encontrar, no final, o título de uma obra (4 palavras nas horizontais), da escritora brasileira Clarice Lispector (1920 – 1977).


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HORIZONTAIS: 1 – Inquietas; Sujidades. 2 – Unas; Magala [gíria]. 3 – Incluí; Baixa; Estilo musical em que a letra é dita rápida e ritmadamente. 4 – Uno; Som; Quando. 5 – Bom senso; Poeta e cantor ambulante entre os Gregos antigos. 6 – Mancha; Obra. 7 – Lista; Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de vento. 8 – Preposição que designa causa; Desgastar; Símbolo de rádio. 9 – Estima; Instrumento com que se encurvam as calhas das linhas férreas; Experimentar. 10 – Golpe fundo na face; Profissão. 11 – Zonas; Rijos. 

VERTICAIS: 1 – Restituí; Arma branca, de lâmina curta e larga, com dois gumes. 2 – Alegre [figurado]; Título dos descendentes de Mafoma (Maomé). 3 – Adivinhas; Acordo; Ice. 4 – Aquelas; Pisas; Passe. 5Com+o [contracção]; Raspas. 6 – Venda; Avezei. 7 – Adoentado [regionalismo]; Símbolo de amerício. 8 – Andar; Detestar; Divisa. 9 – Fogo; Cântico; Notar. 10 – Estreitas; Retiro. 11 – Mines; Espécie de sereia dos rios e dos lagos, na mitologia dos Índios do Brasil [plural].


A sortear: Prémio (livro) Porto Editora

Clique  Aqui para abrir e imprimir o PDF.


Aceito respostas até dia 25 de Janeiro, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 


Vemo-nos por aqui?