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segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Eugénio e Pascoaes


"...Eu trazia a Vida Etéria, e, a propósito da Elegia do Amor, perguntei-lhe se ela correspondia a qualquer vivência directa. Pascoaes, com uma grande simplicidade e um sorriso infantil, respondeu-me:
—Não, Eugénio, «nada daquilo aconteceu, a não ser na minha imaginação...»
Lembrei-lhe uma frase de Keats. Durante o resto da tarde falou-me da sua Cartilha, a obra inedita que mais acarinhava.
Levei-o a casa e demos o último abraço. «Até breve e até sempre.»
Até sempre.
Agora Pascoaes está morto. Poderá algum de nós ressuscitá-lo?"

Eugénio de Andrade in IMAGEM DE [Teixeira de] PASCOAES from Os Afluentes do Silêncio. Images from Eugénio de Andrade (1987) por Arnaldo Saraiva.

sábado, 26 de dezembro de 2020

Devaneios cruzadísticos │ Cruzeiro Seixas

"O Que a Luz Oculta" é o nome de um álbum, editado em 2000, com poemas e desenhos do poeta e pintor português Cruzeiro Seixas (1920-2020), pedido com a resolução do passatempo de palavras -cruzadas, referente ao mês de Dezembro de 2020.


Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Elvira Silva; Fernando Semana; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Julieta; Juse; Madobar; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; Par de Pares; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

Grato a todos.
Até ao próximo!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Poema de Natal

Meu Menino Jesus,

Neste dia de Natal, em que vens para nos dar a Vida,
concede-me o dom do espanto perante a fragilidade do Teu nascimento,
o dom da humildade diante da Tua pequenez;
o dom da gratidão para que nunca me esqueça que vens por mim,
o dom da confiança para saber que contigo tudo é possível.

Meu Menino Jesus,
Neste dia de Natal, ajuda-me a ser como Maria, que Te confiou a vida,
a ser como José, que nos mostrou a grandeza de uma vida discreta,
a ser como o Anjo, que falou de Ti aos que estavam na escuridão;
a ser como os pastores que partiram ao Teu encontro e anunciaram a Tua chegada.

Ana Catarina André

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Lembrando José Régio

José Régio morreu no dia 22 de dezembro de 1969, na sua casa , em Vila do Conde

‘Testamento do Poeta’

Todo esse vosso esforço é vão, amigos:
Não sou dos que se aceita... a não ser mortos.
Demais, já desisti de quaisquer portos;
Não peço a vossa esmola de mendigos.

O mesmo vos direi, sonhos antigos
De amor! olhos nos meus outrora absortos!
Corpos já hoje inchados, velhos, tortos,
Que fostes o melhor dos meus pascigos!

E o mesmo digo a tudo e a todos, - hoje
Que tudo e todos vejo reduzidos,
E ao meu próprio Deus nego, e o ar me foge.

Para reaver, porém, todo o Universo,
E amar! e crer! e achar meus mil sentidos!....
Basta-me o gesto de contar um verso.

José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'

José Régio - pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira – foi escritor, poeta, dramaturgo, ensaísta, cronista, crítico, memorialista, epistológrafo e historiador da literatura portuguesa, para além de editor e diretor da influente revista literária “Presença''.
Foi ainda professor - durante mais de 30 anos -, desenhador, pintor e um grande conhecedor e colecionador de arte sacra e popular.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Celebrar ainda Bernardo Santareno


A TEIMOSIA

Queríamos ter feito mais para celebrar o centenário do nascimento de Bernardo Santareno, por muitos considerado o maior dramaturgo português do século XX e cujo percurso está fortemente ligado ao D. Maria II. A pandemia frustrou-nos esse desejo, mas não quisemos fechar o ano sem assinalar a data e aproveitar para regressar à obra essencial de Santareno. Será no próximo sábado, dia 19, pelas 10h30. É de manhã porque é quando podemos estar abertos e se podemos estar abertos então vamos, teimosamente, aproveitar. Será uma leitura, dirigida por Rui Mendes (que há quase 40 anos estava em cena no D. Maria II na estreia d’O Judeu), de uma selecção de textos recolhidos com a colaboração de Rui Pina Coelho e Teresa Faria. A ler estarão Catarina Couto Sousa, Cláudio Castro, Cirila Bossuet, João Grosso, Lúcia Maria e o próprio Rui Mendes. Durante uma hora e pouco, serão lidos fragmentos de várias obras de Santareno, sob o título mais 2020 que poderíamos ter encontrado: “a teimosia, às vezes heróica, de existir”. 
A entrada é livre mediante a lotação da sala. Os bilhetes começam a ser distribuídos na bilheteira uma hora antes da leitura. É vir levantar o bilhete, ir tomar o pequeno-almoço na Confeitaria Nacional, e depois vir celebrar Santareno no Teatro, que também é Nacional. Sejam teimosos, vá!

Tiago Rodrigues, Director do Teatro Nacional D. Maria II

domingo, 6 de dezembro de 2020

Raul Brandão-uma carta de amor



Raul Brandão (12 de Março de 1867 - 5 de Dezembro de 1930)

"Querida: estamos sozinhos à mesa nesta noite infinita em que a chuva cai lá fora com um ruido monótono de chôro. Estamos sós nesta noite de saudade e nunca foi maior a nossa companhia, porque cada vez me sinto mais perto dos mortos. Rodeiam-nos, chegam-se para mim e sentam-se ao nosso lume. São legião... Mais perto, que eu faço uma labareda que nos aqueça a todos. A velha mesa da consoada foi-se despovoando com o tempo, mas hoje estão aqui sentadas todas as figuras que conheço desde que me conheço... Tu, toda branca, e que mesmo através do túmulo me transmites sonho; tu, mais longe, mais apagada e sumida; e tu, que vens de volta, e encostas os teus cabelos brancos aos meus cabelos brancos, para me dizeres baixinho: — Menino!—Pois ainda me chamas menino?! — Outro acolá sorri e outro tenta falar... Dois vivos e tantos mortos sentados à roda desta mesa que veio de meu pai, foi de meu avô e pertenceu já a outras gerações desconhecidas, mas que estão aqui também comigo, escutando e sorrindo, enquanto as pinhas se transformam em flores maravilhosas e as vides que plantei se reduzem a cinza!... Nunca estive tão acompanhado como hoje nesta ceia religiosa de fantasmas, numa comunhão de saudade e de lágrimas, e sentindo que cada Natal volvido mais me aproxima dos mortos. Aumenta o silêncio húmido que nos isola do mundo... Dá-me as tuas mãos, querida, e deixa arder o lume, enquanto eu falo baixinho diante da legião que nos escuta, acompanhado pelo ruído de lágrimas que se ouve lá fora. 

Um dia destes temos que nos separar, e é natural que seja eu, que sou mais velho, o primeiro a partir... Antes, porém, quero dizer-te que te devo o melhor da vida. Foste tu que me desvendaste o amor que eu desconhecia. A bondade e a ternura, que eu desconhecia. Não exerci talvez nenhuma influência na tua alma — tu apaziguaste-me. O amor era em mim um simples impulso: criaste-o, e pouco a pouco essa força nas tuas mãos se transformou em sentimento religioso. 

Olha para os meus cabelos todos brancos... Julgava que o amor ia diminuindo com o tempo — e o meu amor não cessa de aumentar até à morte e para alem da morte. «Na ocasião em que escrevo estas linhas — diz Alfieri nas Memórias — na idade em que já desapareceram de todo as ilusões, sinto que a amo cada vez mais, à medida que o tempo destrói o brilho da sua passageira beleza. Ela tornou melhor, elevou e pacificou o meu coração — e eu ouso dizer a mesma coisa do seu, que sustento e fortifico.» 

É certo: cada ano que passa é um laço que nos prende e quanto melhor conheço a tua alma, mais me purifico ao seu contacto. Não só fazes parte do meu ser, mas da minha consciência. Chego às vezes a supor que tu és a minha consciência. Por isso esta separação vai ser dolorosa, ainda que eu creia que nos tornaremos a encontrar noutro mundo melhor. Não decerto para vivermos as horas que passamos juntos à beira do lume, penetrados um do outro e unidos pelo silêncio, mas numa vida superior que antevejo e numa paz mais profunda. Ainda assim tenho pena. Tenho pena das horas monótonas que correm — do tempo que passa — da brasa que se extingue... 

Foste o fio que ligou a minha vida desordenada. Há em mim um ser desconhecido que me leva, se não estou de sobreaviso, a acções que detesto. Uma palavra tua me detém. Tenho passado o tempo a comentar-me e poucas almas me interessam como a minha. O que eu amo sobretudo é o diálogo com esse ser esfarrapado. Dêem-me um buraco e papéis e condenem-me à solidão perpétua. É-me indiferente... Isto é, um erro — e tu fizeste-mo sentir. Sem mo dizeres — compreendi que a nossa vida é, principalmente, a vida dos outros... Melhor: compreendi que a ternura era o melhor da vida. O resto não vale nada. Não é por a esmola da velha do Evangelho ser dada com sacrifício que é mais aceita no céu que o oiro do rico — é por ser dada com ternura. O importante é a comunicação de alma para alma. A mão que aperta a nossa mão, o olhar húmido que procura o nosso olhar, o sorriso que nos acolhe, desvendam-nos o mundo. Às vezes é um nada que nos faz reflectir, é um momento, é uma figura que nos entra pela porta dentro e de quem nos sentimos logo irmãos... 

Ainda não há muito que passei uma tarde no lagar, com os homens que assentavam os dornões, e achei um grande encanto àquela lide rude. Cheirava a mosto, e o cheiro pareceu-me mais penetrante que das outras vezes. É a quadra do ano em que caem as primeiras chuvas. Sente-se que vem aí o desabar imenso, nas noites que não têem fim —e aquela voz séria que nos faz reflectir. Há já um pique de frio, que sabe bem, e os ratos e as doninhas começam a levar para os buracos as primeiras folhas amarelecidas que caem das árvores. Tudo adivinha o inverno. A porta da adega comunica com a cozinha térrea da nossa pequena lavoura. Debruçada sobre o lar, a mulher deitava um feixe de sarmentos da poda sobre as brasas, e a fogueira lambia as paredes negras que relusem, iluminava os potes de ferro e o berço do filho ao lado do lume, a quem ela ia falando em-quanto fazia o caldo... Este pequeno quadro de interior humilde — o homem que trabalha comigo na mesma vinha, o moço que o ajuda, a mulher e o berço, fizeram cismar... Aproximo-me cada vez mais — outro inverno, ou a ideia da morte? — da vida de todos os dias. Esta época do ano é a que melhor se harmoniza com a minha alma um pouco cansada e triste — já resignada diante do fim. É agora que eu acho mais sabor à vida — quando a sinto fugir-me. Cheira a folhas apodrecidas. As sombras mais frias, à espera de outras sombras geladas e eternas, trespassam-me de humidade. Anuncia-se o grande inverno no pio das aves, na cor das folhas que se arrepiam com a lufada do vento e caem uma a uma com um ruído tão leve como os passos da Morte... 

O sentimento da vida humilde inspiraste-mo tu; este e outros de apaziguamento e verdade. Ligaste-me mais aos vivos e aos mortos. Aos que estão sentados ao nosso lado nesta noite sagrada e à legião infinita que tem sofrido no mundo, cumprindo a vida, aos desgraçados e aos humildes, aos pobres de pedir que caminham como dantes pela estrada. A chuva cai fora, com o ruído manso de quem se resigna e aceita a dor... Cheguemo-nos mais para o lar, que eu faço arder uma fogueira que nos aqueça a todos — toros de carvalho duros como ferro que dão uma luz mortiça e um calor persistente; o pinheiro que arde, estala, flameja, numa grande labareda fugaz; as vides que plantei e já me aquecem há dois invernos e as pinhas que gosto de atirar uma a uma ao lume e que se transformam em maravilhosas flores de ouro, cujas pétalas só duram um instante... Cheguem-se todos os que no mundo me deram um bocadinho de ternura! 

Tu, primeiro, de quem herdei a sensibilidade e esta paixão pelas árvores e pela água, e de quem sinto as mãos pousadas sobre a cabeça, trespassando-me de ternura; tu, tão velhinha, que me quizeste como a um filho, e vós todas de quem confundo as cabeças brancas. Sinto na mão um dedo nodoso que já não existe e a que a minha mão ainda se apega. Sinto as mãos que toquei durante a vida. Muitas já desapareceram, mas estão aqui entre as minhas — as mãos de meu pai, as mãos de minha mãe, as mãos pequeninas das crianças. Não a mão material — mas as mãos espirituais. As mãos quando a gente as aperta e as tem entre as suas dão-nos o ser inteiro pelo contacto. Destruídas pela morte fica a ternura que nos transmitiram. 

Um momento, um só momento, um momento e lágrimas, um único momento para lhes fazer sentir também a minha ternura, redobrada pelos anos, aumentada pela saudade, amplificada pelo conhecimento da vida e da dor!...”

in 'Memórias (Dezembro 1924)' 


Imagem: 
Retrato de Raul Brandão e de sua esposa D. Angelina Brandão, 1928
Columbano Bordalo Pinheiro

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Nasceu há 100 anos



CRUZEIRO SEIXAS, artista plástico e poeta surrealista

Hei-de lembrar eternamente a hora exacta
em que morrerei
entre venenosas flores.
Correrei sustido junto ao mar
que dizes
é o meu reflexo
E os teus olhos são jardins abertos
que rego amorosamente
e abandono aos cavalos cornudos
do dia-a-dia.
Sinto o naufrágio de todos os leitos
e beijo os manequins dados à costa.
Beijarei ainda o alto espaldar da cadeira
e no prato de prata essa estrela aberta ao meio
cirurgicamente como um fruto
na última sala
do meu ex-coração.
Tudo o que faço inscreve-se
na curva perfeitíssima da memória;
que importa a sede das pedras
no espaço forrado a veludo?
Cresce a vaga ______ curva-se o país de labaredas
e uma estátua de água assobia
enterrando uma palavra encontrada sem fôlego
junto ao sol.
Agora está grávido o Vento
e na sua fuga
arrasta as cidades.

Cruzeiro Seixas, in “Obra Poética - I”, Porto Editora, 2020, pp. 13-14
.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Na morte de Eduardo Lourenço


«Há dias em que madrugamos e julgamos que vamos apanhar Deus. Em vão: Deus levanta-se sempre mais cedo!...», escreveu um dia Eduardo Lourenço, com aquele inconfundível matiz de humor que por vezes punha nos mais fundos confrontos com a gravidade da vida. Hoje, bem cedo, partiu, pôs-se a caminho da reintegração na plenitude ontológica, para ser acolhido anterianamente «Na mão de Deus, na Sua mão direita»…

Aí, no resplendor da Transcendência eterna, a graça do resgate pacificará agora a radicalidade interrogativa do pensamento de Eduardo Lourenço e o seu confronto inquieto com o sentido do trágico, ponderado em autores que particularmente o atraíram e vivido na perspetivação do seu próprio destino.

Aí encontrará feliz desenlace o processo existencial e fenomenológico em que terrenamente se cumpriu Eduardo Lourenço, tão tocado pelo abalo metafísico do encontro com Kierkegaard e com F. Pessoa, em ordem à edificação de uma sabedoria trágica da vida – que ultimamente mais lhe pareceria conciliável com a adesão a Cristo, Mediador amoroso que podia ver, entre Gomes Leal e René Girard, como o grande Reparador. 

Aí, junto ao Senhor do Tempo e da Vida, alcançará sentido último o fecundo labor cultural e cívico em que durante décadas Eduardo Lourenço ajudou à construção do Mundo através de um raro movimento entre aos mais amplos horizontes da filosofia da História humana ou da renovadora mitografia do ser lusíada e a atenção lúcida à circunstância nacional e internacional, o discurso compreensivo e crítico sobre os problemas culturais e sociais emergentes no mundo contemporâneo, a palavra interventiva no contexto político.

Aí, junto à fonte da Beleza conhecerá toda a harmonia todo o fulgor a poética da digressão ensaística e a alta qualidade literária, algo wagneriana, da escrita de Eduardo Lourenço, tal como conhecerá toda a harmonia o tom cativante do magistério oral em que irradiava a sua qualificada condição de filósofo e a sua insuspensa questionação dos acontecimentos coetâneos. 

Aí, no seio divino da Verdade e do Bem, alcançará justa compensação o denodo com que Eduardo Lourenço sempre se comprometeu com a «obrigação de suportar a liberdade humana» em todos os domínios e sempre sustentou, com desassombro e brilho, que a sua demanda de Conhecimento se queria coerente com o horizonte da «vivência mesma da Verdade» e que nela obedecia, «por temperamento e por formação espiritual», à «única motivação radical» que «finalmente é como decisão de ordem “religiosa" e mesmo "mística" [...] que melhor se compreenderá» («Segundo Prólogo sobre o Espírito de Heterodoxia»).

Custa menos, assim, despedirmo-nos de Eduardo Lourenço, em nome do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura – que se orgulha de lhe haver atribuído, após voto unânime do respetivo Júri, o Prémio Árvore da Vida 2020. É-nos grato recordar, aliás, a admiração com que Eduardo Lourenço então evocou a figura do patrono desse Prémio, o emérito Padre Manuel Antunes, e assinalou algumas afinidades de espírito entre ambos.

José Carlos Seabra Pereira
Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

Devaneios cruzadísticos │ Cruzeiro Seixas

Cruzeiro Seixas, um dos protagonistas mais importantes do movimento surrealista em Portugal, deixou-nos no dia 8 de Novembro findo, com quase 100 anos. Celebraria depois de amanhã, quinta-feira, dia 3 de Dezembro de 2020, justamente 100 anos!

A sua morte foi anunciada pela Fundação Cupertino de Miranda, que guarda o espólio visual e literário do artista, em Vila Nova de Famalicão, onde pode ser visitado.

Nasceu na Amadora, no dia 3 de Dezembro de 1920. A sua obra é facilmente identificada, pela sua marca pessoal e intransmissível, pelo carácter distintivo que imprime em todas as suas peças. 

Frequentou a Escola António Arroio, em Lisboa, onde fez amizade com Mário Cesariny, Marcelino Vespeira, Júlio Pomar e Fernando Azevedo. 

Em meados da década de 1940 aproximou-se do neo-realismo, de que se afastou quando aderiu aos princípios do surrealismo. Juntamente com Mário Cesariny, António Maria Lisboa, Carlos Calvet, Pedro Oom e Mário-Henrique Leiria, entre outros, integrou o Grupo Surrealista de Lisboa, resultante da cisão do recém-formado movimento surrealista português.

Em 1951 fixou-se em Angola, desenvolvendo actividade no Museu de Luanda. Data desse tempo o início da sua produção poética. Realizou as primeiras exposições individuais, que levantaram um acalorado movimento de opinião. Regressou a Portugal em 1964, tendo recebido uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian em 1967.

Figura controversa, dele disse Mário Cesariny, seu amigo muito especial: «O Cruzeiro Seixas é como se tivesse o cérebro dividido, Metade é todo luz, faz coisas muito belas. A outra metade é uma confusão total, não se percebe nada. Quando aquilo se baralha, é de fugir».

Viveu os últimos tempos da sua vida na Casa do Artista, em Lisboa. Ironicamente, a designação de artista aborrecia-o. Julgava-se antes um «Homem que faz desenhos e pinta». Morreu a 8 de Novembro de 2020 no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. 

O AlegriaBreve preparou-se para o homenagear em vida, na comemoração do centenário do seu nascimento, mas ele achou melhor partir, para assim ficar mais perto do Sol.

Convido os meus amigos a resolver este problema e, no final, encontrar o nome (5 palavras nas horizontais) de um álbum, editado em 2000, com poemas e desenhos do poeta e pintor português Cruzeiro Seixas (1920 – 2020).


HORIZONTAIS: 1 – Una; Come à pressa [popular]. 2 – Demónio [regionalismo]; Palavra que, no dialecto provençal, significava sim. 3 – Desgasta; Indigno; Embora. 4 – Sacrifica; Percebei. 5 – Abreviatura de opus; Bandear-se. 6 – Entre nós; Acontecer; Difícil; Como. 7 – Comoções [figurado]; Afastado. 8 – Estafa; Salvo. 9 – Iça; Somai; Vela. 10 – Piedade; Cala. 11 – Brilho no olhar de alguém enfurecido [figurado]; Ocidente.

VERTICAIS: 1 – Continuar; Abatida. 2 – Interjeição que exprime espanto [Brasil]; Partidas. 3 – Sepultura [Moçambique]; Liga. 4 – Paga; Julga; Alternativa. 5 – Índigo; Símbolo da resistividade eléctrica; Interjeição que exprime enfado [Angola]. 6 – Épocas; Designação de um asceta mendicante na Índia. 7 – Simpatia [figurado]; Uno; Seguro. 8 – Dente queixal [regionalismo]; Fim [figurado]; Até. 9 – Nome da vigésima segunda letra do alfabeto grego; Tiras. 10 – Bendizes; Interjeição que exprime dor. 11 – Ajustes; Zuna.

Clique Aqui para abrir e imprimir o PDF.



Aceito respostas até dia 25 de Dezembro, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?

sábado, 28 de novembro de 2020

Viva a Infopédia!

O meu pai lia a enciclopédia como se de uma narrativa se tratasse. Quero dizer, lia alfabeticamente coisa depois de coisa, meio a aprender sobre tudo com a única regra da ordem do alfabeto, interessado em qualquer assunto, qualquer detalhe. Assim, durante todos os anos em que o pude conhecer. Eu achava que havia uma dimensão alarve nas enciclopédias, algo de uma magnífica gula pelo conhecimento.






Sou escritor porque me fascinei cedo pelas palavras e pela sua plasticidade, podendo ser levadas a dizerem até o seu contrário. Para surpreender o meu pai, julgo que me convenci da Literatura muito porque ela parece caducar continuamente as definições, obrigando a definições novas, a novos conhecimentos. A Literatura aumenta o que se sabe, aumenta muito o que se sabe e espera de uma mesma palavra.

Cumprimentar os leitores da Infopédia é, de algum modo, cumprimentar essa vasta multidão que procura manter-se atempada com o que se sabe de algo num dado momento. Fico a pensar no meu pai, que já não viu este projecto, e em como se haveria de maravilhar com sua impressionante informação, dotando cada um de nós de uma potencial erudição que nos deve tanto enriquecer quanto humildar.

O Agostinho da Silva contava de uma senhora que dizia que a escola perfeita haveria de ser aquela que tivesse sempre a porta aberta para que lá fôssemos perguntar aquilo que precisássemos de saber. Penso agora, a Infopédia é um pouco essa escola.

Usei sempre a palavra como sustento. O que o mundo não me pôde dar, a palavra inscreveu no espírito, e muito do que faltaria deixou de faltar. A importância da palavra, para mim, foi absoluta, elementar forma de sobrevivência.

Conto sobre isso no meu novo livro, Contra mim, um périplo pela minha infância que não pretende exercer a saudade, antes redescobrir como me comprometi irremediavelmente com a escrita e como posso partir dessa memória para um certo renascimento urgente depois de tanta clausura no susto da pandemia. O meu livro é uma tentativa de ter futuro, encontrar a resistência pela maravilha de relembrar como em criança ficaram definidos os principais desejos, as principais vontades.

Valter Hugo Mãe

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Devaneios cruzadísticos │Bernardo Santareno

"A Morte na Raiz" é o nome de uma obra do escritor português Bernardo Santareno (1920-2020), pedido com a resolução do passatempo referente ao mês de Novembro de 2020.


Recebi respostas de: 
Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Elvira Silva; Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Julieta; Juse; Madobar; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; Par de Pares; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

Grato a todos.
Até ao próximo!

terça-feira, 24 de novembro de 2020

O que nos doe de verdade

No fim de contas são poucas as palavras

que nos doem de verdade, e muito poucas
as que conseguem alegrar a alma.
E são também muito poucas as pessoas
que nos fazem bater o coração, e menos
ainda com o correr do tempo.
No fim de contas, são pouquíssimas as coisas
que na verdade importam nesta vida:
poder amar alguém e ser amado,
não morrer depois dos nossos filhos.

Amalia Bautista

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Cem anos de Bernardo Santareno



Entre “A promessa” e “O punho”: Cem anos de Bernardo Santareno

Nascido a 18 de novembro de 1920, Bernardo Santareno, pseudónimo literário de António Martinho do Rosário, tornou-se figura proeminente da dramaturgia, na dupla e incindível dimensão de texto literário e de texto espetacular (palco, encenação, interpretação por atores).

Também autor dos livros de poemas “A Morte na Raiz”, 1954, “Romances do Mar”, 1955, e “Os Olhos da Víbora”, 1957 (além de “Nos Mares do Fim do Mundo”, 1959, livro de crónicas decorrente da sua experiência como médico em barcos da frota bacalhoeira), Santareno foi sobretudo dra­maturgo com mais notória reflexão sobre as condições de realização teatral da sua obra (e com insólita intromissão do caso autoral no texto e na realização cénica: “Português, Escritor, Quarenta e Cinco Anos de Idade”, 1974).

Partindo do título premonitório “A Promessa”(1957), o escritor escalabitano cumpriu com alta qualidade estético‑literária os desígnios interventivos da adoção do modelo brechtiano (induzir pelo narrado e mostrado do histórico em cena, em atitude de distanciamento desalienante contra os engodos da adesão emocional, uma consciência crítica e um empenho revolucionário no presente).

Por outro lado, preservou as suas peças dos riscos de redução a um lance datado de militância — na medida em que, por vezes convocando o capital antropológico de antigas fábulas míticas, proporciona à sua dramaturgia implicações trágicas e cruzamentos do sociológico com o me­tafísico.

A súmula interpretativa de Luiz Francisco Rebello — «religiosidade e superstição, misticismo e erotismo, são os polos entrecruzados de um excruciante jogo dialético entre o bem e o mal, que se relativiza e e torna cada vez mais concreto à medida que a obra progride e evolui no sentido de uma crescente consciencialização social» — alude aos matizes de dois ciclos na congruente desenvolução do teatro de Bernardo Santareno.

Primeiro, “Teatro (A Promessa, O Bailarino, A Excomungada)”, 1957, “O Lugre”e “O Crime da Aldeia Velha”, 1959, “António Marinheiro (o Édipo de Alfama)”, “O Duelo e O Pecado de João Agonia”, 1961; depois, “O Judeu”, 1966, “O Inferno”, 1967, “A Traição do Padre Martinho”, 1969, “Três Quadros de Revista”, 1975, a tetralogia “Os Marginais e a Revolução”, 1979, e, em defesa da reforma agrária coletivista, “O Punho”, 1980.

O epicentro deste livro está porventura em “O Judeu”:obra‑prima de atualização interventiva através da fábula histórica em torno do destino de António José da Silva, vítima da Inquisição no século XVIII, servindo‑se, nesse tempo de exílios políticos que foram os anos 60, da voz narrativa de outro perseguido, o exilado e “estrangeirado” Cavaleiro de Oliveira, e do processo de teatro dentro do teatro, mediante a inserção de trechos da obra dramática do próprio herói perseguido. 
Faleceu em Lisboa a 29 de agosto de 1980.

José Carlos Seabra Pereira
Diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

D. Leonor: A mais Perfeita Rainha


17 de Novembro de 1525: Morre D.Leonor de Lencastre, rainha de Portugal.

D. Leonor de Lencastre, D. Leonor de Portugal ou ainda Leonor de Viseu, nasceu a 2 de Maio de 1458, em Beja. Filha de D. Fernando, Duque de Viseu e de D. Beatriz era irmã de D. Manuel e D. Diogo.
A 22 de Janeiro de 1470, torna-se Rainha de Portugal, pelo seu casamento com D. João II, o qual era seu primo direito e segundo, pelo lado paterno, e o mesmo pelo lado materno. De facto, tanto o rei como a rainha eram netos, cada qual, de dois filhos diferentes de D. João I e de D. Filipa de Lancastre. Deste casamento nasceram dois filhos, um que nasceu morto e D. Afonso que faleceu aos 16 anos num acidente a cavalo em 1491.

A Rainha D. Leonor foi grande protectora e impulsionadora das artes e letras em Portugal, tendo mandado imprimir algumas obras, nomeadamente: “O livro de Marco pólo – O livro de nicolau veneto – carta de um genoves mercador”, “Os actos dos apóstolos”, “Bosco Deleitoso”, “O espelho de Cristina”.Também protegeu Gil Vicente, que em várias obras a apelidou de “Rainha Velha”. Algumas das obras de Gil Vicente, como O Auto da Visitação, o Auto Pastoril Castelhano, o Auto dos Reis Magos, o Auto de S. Martinho, o Velho Óbidos, Um Sermão, o Auto da Índia – o processo de Vasco Abul, o Auto dos quatro tempos, o Auto da Sibila Cassandra, o Auto da Fama, o Auto da Alma, A Barca do Inferno, A Barca do Purgatório, A Barca da Glória, foram dedicadas à Rainha D. Leonor ou encomendadas por esta.

Em 1476, ficou como regente do reino, por D. João II ter de se ausentar em defesa do seu pai em Castela.

Como Rainha de Portugal, era detentora de terras como: Sintra, Torres Vedras, Óbidos, Alvaiázere, Alenquer, Aldeia Galega, Aldeia Gavinha, Silves, Faro, bem como Caldas da Rainha, que fundou. Tinha também direito a certos rendimentos: parte do açúcar produzido na ilha da Madeira, certos impostos pagos pelos judeus de Lisboa e pelas alfândegas do reino.

D. Leonor fundou os conventos da Madre de Deus e da Anunciada e a igreja de Nossa Senhora da Merceana, Igreja de Santo Elói, no Porto, o Convento de S. Bento, de Xabregas.
Esteve na origem da fundação do hospital termal das Caldas da Rainha, destinado a todos os que necessitassem de tratamento, sem distinção de classes sociais. Junto ao Hospital mandou construir também a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo.

Ainda hoje as Caldas da Rainha mantêm como armas, o brasão da Rainha D. Leonor, ladeado à esquerda pelo seu próprio emblema (o camaroeiro) e, à direita, pelo emblema de D. João II (o pelicano).
A rainha D. Leonor teve ainda a ideia de fundar uma instituição, reunindo pessoas de boa vontade que ficariam encarregues de prestar assistência a quem precisava, ou seja, os mais pobres. Em 1498, sendo já viúva, ficou regente do Reino quando o seu irmão, D. Manuel I, se ausentou para Espanha. Uma das medidas que tomou como regente foi fundar as Misericórdias de Lisboa. Ao conjunto das regras definidas para o funcionamento desta instituição chamou-se Compromisso, porque as pessoas que aderiram se comprometiam a segui-las. Essas regras inspiravam-se em princípios fundamentais do cristianismo: amor ao próximo e entreajuda.

D. Leonor de Lencastre, destacava-se, pela formosura, inteligência e, sobretudo, pelo que sofreu e pelo bem que espalhou, Dona Leonor, a “Rainha dos sofredores”. Tinha a fisionomia suavíssima, marcada pelos olhos azuis e cabelos louros, herdados de sua bisavó, Dona Filipa de Lencastre.

A Rainha faleceu no dia 17 de Novembro de 1525 no Paço de Enxabregas. Quis ficar sepultada no Convento da Madre de Deus, numa campa rasa, num lugar de passagem, para que todos a pisassem, gesto de humildade que comoveu o Reino. Foi uma Rainha muito devota, tendo desejado e concretizado passar a viuvez num ambiente de piedade e por isso o seu biógrafo Frei Jorge de S. Paulo chama-lhe “A mais Perfeita Rainha que nasceu no Reino de Portugal”.


Fonte: Nós e História
Pintura: José Malhoa

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Quando cortaram a água a Eça de Queiroz

Certo dia cortaram a água a Eça de Queiroz, desagradado Eça escreveu ao Presidente da Companhia das Águas:

"Ilus. e Ex.mo Senhor Carlos Pinto Coelho
digno director da Companhia das Águas e
digno membro do Partido Legitimista:
Dois factos igualmente graves e igualmente importantes, para mim, me levam a dirigir a V. Exa. estas humildes regras: o primeiro é a tomada de Cuenca e as últimas vitórias das forças Carlistas sobre as tropas Republicanas, em Espanha: o segundo é a falta de água na minha cozinha e no meu quarto de banho.
Abundam os Carlistas e escassearam as águas, eis uma coincidência histórica que deve comover duplamente uma alma sobre a qual pesa, como na de V. Exa., a responsabilidade da canalização e a do direito divino.
Se eu tiver fortuna de exacerbar até às lágrimas a justa comoção de V. Exa., que eu interponha o meu contador, Exmo. Senhor, que eu interponha nas relações de sensibilidade de V. Exa., com o Mundo externo; e que essas lágrimas benditas de industrial e de político caiam na minha bandeira!
E, pago este tributo aos nossos afectos, falemos um pouco, se V. Exa. o permite, dos nossos contratos. Em virtude do meu escrito, devidamente firmado por V. Exa., e por mim, temos nós – um para com o outro – um certo número de direitos e encargos. Eu obriguei-me, para com V. Exa., a pagar a despesa de uma encanação, e aluguer de um contador e o preço da água que consumisse.
V. Exa. fornecia, eu pagava. Faltamos, evidentemente, à fé deste contrato; eu, se não pagar, V. Exa., se não fornecer.
Se eu não pagar, faz isto: corta-me a canalização.
Quando V. Exa. não fornecer, o que hei-de fazer, Exmo. Senhor? É evidente que para que o nosso contrato não seja inteiramente leonino, eu preciso, no análogo àquele em que V. Exa. me cortaria a canalização, de cortar alguma coisa a V. Exa.
Oh! E hei-de cortar-lha!…
Eu não peço indemnizações pela perda que estou sofrendo, eu não peço contas, eu não peço explicações, eu chego a nem sequer pedir água. Não quero pôr a Companhia em dificuldades, não quero causar-lhe desgostos nem prejuízos…
Quero apenas esta pequena desafronta, bem simples e bem razoável, perante o direito e a justiça distribuída: – quero cortar uma coisa a V. Exa.!
Rogo-lhe, Exmo. Senhor, a especial fineza de me dizer, imediatamente, peremptoriamente, sem evasivas nem tergiversações, qual é a coisa que, no mais santo uso do meu pleno direito, eu posso cortar a V. Exa.
Tenho a honra de ser
De V. Exa. com muita consideração
e com algumas tesouras."

Será que Eça usou as tesouras?


Fonte: Estóriasdahistória

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

No dia em que Saramago nasceu

“Contei noutro lugar como e porquê me chamo Saramago. Que esse Saramago não era um apelido do lado paterno, mas sim a alcunha por que a família era conhecida na aldeia. Que indo o meu pai a declarar no Registo Civil da Golegã o nascimento do seu segundo filho, sucedeu que o funcionário (chamava-se ele Silvino) estava bêbado (por despeito, disso o acusaria sempre meu pai), e que, sob os efeitos do álcool e sem que ninguém se tivesse apercebido da onomástica fraude, decidiu, por sua conta e risco, acrescentar Saramago ao lacónico José de Sousa que meu pai pretendia que eu fosse. E que, desta maneira, finalmente, graças a uma intervenção por todas as mostras divina, refiro-me, claro está, a Baco, deus do vinho e daqueles que se excedem a bebê-lo, não precisei de inventar um pseudónimo para, futuro havendo, assinar os meus livros. Sorte, grande sorte minha, foi não ter nascido em qualquer das famílias da Azinhaga que, naquele tempo e por muitos anos mais, tiveram de arrastar as obscenas alcunhas de Pichatada, Curroto e Caralhana.

Entrei na vida marcado com este apelido de Saramago sem que a família o suspeitasse, e foi só aos sete anos, quando, para me matricular na instrução primária, foi necessário apresentar certidão de nascimento, que a verdade saiu nua do poço burocrático, com grande indignação de meu pai, a quem, desde que se tinha mudado para Lisboa, a alcunha desgostava. Mas o pior de tudo foi quando, chamando-se ele unicamente José de Sousa, como ver se podia nos seus papéis, a Lei, severa, desconfiada, quis saber por que bulas tinha ele então um filho cujo nome completo era José de Sousa Saramago. Assim intimado, e para que tudo ficasse no próprio, no são e no honesto, meu pai não teve outro remédio que proceder a uma nova inscrição do seu nome, passando a chamar-se, ele também, José de Sousa Saramago. Suponho que deverá ter sido este o único caso, na história da humanidade, em que foi o filho a dar o nome ao pai. Não nos serviu de muito, nem a nós nem a ela, porque meu pai, firme nas suas antipatias, sempre quis e conseguiu que o tratassem unicamente por Sousa.”

— JOSÉ (de Sousa) SARAMAGO (Azinhaga, Golegã, 16 de Novembro de 1922 — Tías, Lanzarote, 18 de Junho de 2010), escritor português, Prémio Nobel da Literatura em 1998, in “As Pequenas Memórias”, Editorial Caminho, 2006, p. 48-49.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Hoje é dia de São Martinho

Lenda de São Martinho

Conta a lenda que num dia chuvoso e de frio intenso, o cavaleiro Gaulês Martinho, montado no seu cavalo, encontra um mendigo cheio de frio. Martinho desmontou e cortando com a sua espada a capa que levava, deu ao mendigo uma metade.

Continuando a cavalgar encontrou mais à frente outro mendigo, também a tiritar de frio. Deu-lhe a metade restante da capa que o cobria e ficou, assim, sem nada que o protegesse da intempérie.

Diz a lenda que nesse momento a chuva parou e o Sol passou a brilhar, durante três dias. É esta a história do “Verão de São Martinho”.

Martinho, nasceu em 316, filho de um comandante romano. Seguiu as pisadas do pai, tornando-se soldado do Império Romano.

Saiu do exército Romano e converteu-se ao cristianismo. Conhecido pelos seus milagres, acabou por ser ordenado Bispo de Tours.

Faleceu e foi sepultado em Tours, a 11 de Novembro de 397, o dia de São Martinho.

São Martinho
São Martinho de jimforest CC BY-NC-ND 2.0

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

A tua boca adormeceu

Mestre Cruzeiro Seixas faleceu este domingo no Hospital Santa Maria, Lisboa, anunciou a Fundação Cupertino de Miranda. Tinha 99 anos, Paz a sua ALMA.

A tua boca adormeceu

A tua boca adormeceu
parece um cais muito antigo
à volta da minha boca.

Mas as palavras querem voltar à terra
ao fogo do silêncio que sustém as pontes
perdidas na sua própria sombra.

E há um cão de pedra como um fruto
que nos cobre com o seu uivo
enquanto pássaros de ouro com mãos de marfim
transplantam as árvores transparentes
para o ponto mais fundo do mar.

As lágrimas que não chorei
arrependidas
fazem transbordar a eterna agonia do mar
como um lençol fúnebre
com que tivesse alguém coberto o rosto metafórico
dos cinco continentes que em nós existem.

Assim é ao mesmo tempo
que sou eu e não o sou
aquele relógio das horas de ouro
que além flutua.

Artur do Cruzeiro Seixas, in 'Homenagem à Realidade'

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Com os (meus) mortos

Com os Mortos

Os que amei, onde estão? Idos, dispersos,
arrastados no giro dos tufões,
Levados, como em sonho, entre visões,
Na fuga, no ruir dos universos...

E eu mesmo, com os pés também imersos
Na corrente e à mercê dos turbilhões,
Só vejo espuma lívida, em cachões,
E entre ela, aqui e ali, vultos submersos...

Mas se paro um momento, se consigo
Fechar os olhos, sinto-os a meu lado
De novo, esses que amei vivem comigo,

Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,
Juntos no antigo amor, no amor sagrado,
Na comunhão ideal do eterno Bem.

Antero de Quental, in "Sonetos"

domingo, 1 de novembro de 2020

Devaneios cruzadísticos │Bernardo Santareno

Bernardo Santareno, considerado por muitos o maior dramaturgo português do século XX, nasceu a 19 de Novembro de 1920, em Santarém. Faria cem anos em 2020, mais exactamente no dia 19 deste mês. 

O AlegriaBreve evoca aqui, por esta forma singela, o centenário do seu nascimento. A comemoração do acontecimento arrancou com um colóquio e uma exposição na Fundação Calouste Gulbenkian a 18 de Janeiro de 2020. Devido ao ano difícil que atravessamos, muitas das iniciativas previstas por todo o país para a comemoração do centenário acabaram por ser canceladas.

Apesar disso, algumas iniciativas avançaram. Foi o caso da Câmara Municipal de Santarém - cidade que o viu nascer - que deu luz verde à pintura de um mural de homenagem ao dramaturgo português, cuja construção está, porém,  envolta em enorme polémica. E, ainda, o caso da peça em cena no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém, que foi retirada dos palcos porque não foi do agrado de alguns munícipes e da própria vereadora da Cultura. Censura foi o que Bernardo Santareno enfrentou em vida, é ultrajante à sua memória que volte a enfrentá-la em morte.

Bernardo Santareno licenciou-se em Medicina, em 1950, na Universidade de Coimbra, vindo a especializar-se em Psiquiatria.

Em 1957 e 1958, a bordo dos navios David Melgueiro, Senhora do Mar e do navio-hospital Gil Eanes, acompanhou as campanhas de pesca do bacalhau, como médico. A sua experiência no mar serviria de inspiração a muitas das suas obras, como "O Lugre", "A Promessa" e o volume de narrativas "Nos Mares do Fim do Mundo".

Foi distinguido por duas vezes com o Prémio Bordalo. Primeiro, foi-lhe atribuído o Óscar da Imprensa 1962, na categoria Teatro. No ano seguinte, ser-lhe-ia novamente atribuído, na mesma categoria, o Prémio Imprensa 1963. 

Bernardo Santareno faleceu em Carnaxide, Oeiras, em 1980, com 59 anos de idade, e está sepultado no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.

Convido os meus amigos a resolver este problema e, no final, encontrar o título (4 palavras nas horizontais) de uma obra do escritor português Bernardo Santareno (1920 – 1980).


HORIZONTAIS: 1 – Desordem; Publica. 2 – Paixão [figurado]. 3 – Falha; Preferi. 4 – Valia; Sova; Pão [Moçambique]. 5 – Apenas; Fim; Descobri. 6 – Média; Repercute. 7 – Contracção de em+a; Cotejo; Interjeição que exprime alívio. 8 – Una; Causa; Partida. 9 – Censura; Fundamento [figurado]. 10 – Enfraqueci. 11 – Penhor; Gemeis. 

VERTICAIS: 1 – Derrotas; Não [popular]. 2 – Substância odorífera de origem vegetal, usada em cosmética, na alimentação, etc. 3 – Chefe [Moçambique]; Ar. 4 – Interjeição que exprime alegria [Brasil]; Grita [popular]; Alna. 5 – Adivinha; Bebedeira [Brasil, coloquial]; Pertences. 6 – Sistema [figurado]; Utensílio de caça usado pelos cabilas da Argélia. 7 – Compreendi; Repete; Passe. 8 - Joeira; Aceitação [figurado]; Imperante. 9 - Divisa; Moça [Brasil]. 10 – Festejai. 11 – Despedi; Formas.

Clique Aqui  para abrir e imprimir o PDF.



Aceito respostas até dia 25 de Novembro, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Devaneios cruzadísticos │Fernão de Magalhães

"Todos os Santos" é o nome do estreito que hoje tem o do navegador português Fernão de Magalhães (1480 - 1521), pedido com a resolução do passatempo referente ao mês de Outubro.

Curiosamente, no passado dia 21 passaram 500 anos que Fernão de Magalhães, na sua viagem épica, encontrou, finalmente, a passagem que o levaria, a ele e aos seus homens. ao outro lado do oceano. Foi no dia 21 de Outubro de 1520.

No dia 1 de Novembro começou a travessia do estreito, baptizado de “Todos os Santos” (hoje, Estreito de Magalhães). A travessia levou 27 dias. Ao chegarem ao novo oceano deram-lhe o nome de “Pacífico”, por suas águas calmas. O navegador português abarcou "A terra inteira com o seu abraço", nas palavras do poeta Fernando Pessoa.


Recebi respostas de: 
Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Julieta; Juse; Madobar; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; Par de Pares; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

Grato a todos.
Até ao próximo!

domingo, 25 de outubro de 2020

Neste dia, a 25 de Outubro de 1495

Neste dia, a 25 de Outubro de 1495, faleceu no Alvor, supostamente envenenando, D. João II, morreu sem atingir o seu objectivo, chegar à Índia por via marítima. Considerado por uns um facínora por ter delogado D. Fernando II, duque de Bragança e por apunhalar o seu primo D. Diogo, Duque de Viseu, e por outros considerado o maior estadista do séc. XV, pois foi no seu reinado que se abriu os caminhos para o reinado seguinte, dobrou-se o cabo da Boa Esperança por Bartolomeu Dias em 1488 e chegou-se à Índia a pé, por Pero da Covilhã e onde se assinou o primeiro tratado global

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Foi há 500 anos

Foi no dia 21 de Outubro de 1520 que Fernão de Magalhães conseguiu atingir o seu ponto máximo da expedição. Faz hoje 500 anos, precisamente!

Um pequeno extrato da entrevista ao historiador José Manuel Garcia, autor do livro "Fernão de Magalhães - Herói, Traidor ou Mito: a história do primeiro homem a abraçar o mundo."

«Faz nesta quarta-feira 500 anos que Fernão Magalhães entrou no estreito que hoje tem o nome dele - a ligar o Atlântico ao Pacífico, através do atual Chile. Foi o ponto-chave da extraordinária viagem deste português ao serviço de Espanha?

Foi. Podemos dizer que foi o coroar da vitória da tão procurada ligação, ou passagem, entre o Atlântico e o Pacífico. Fernão de Magalhães comprometeu-se perante o imperador Carlos V - Carlos I de Espanha - a que, tal como os portugueses tinham encontrado no cabo da Boa Esperança uma ligação entre o Atlântico e o Índico, ele conseguiria encontrar, mais ou menos pela mesma latitude - por volta de 34/35 graus, que seria na zona do rio da Prata - uma passagem que desse ligação do Atlântico para o Pacífico. Não encontrou aí, mas muito mais a sul. A 52/53 graus, muito mais longe, e com muito sacrifício, mas Fernão de Magalhães estava mesmo decidido a ir até aos 75 graus - isto é preciso saber as latitudes para se compreender de facto que foi um feito fantástico. Ele com todas as condições adversas conseguiu, no dia 21 de outubro de 1520, atingir o seu ponto máximo da expedição. Porque há duas grandes fases na expedição de Fernão de Magalhães. A primeira é descobrir a passagem e, depois, a seguir, é aproveitar a sequência da passagem e descobrir o maior oceano da Terra, o Pacífico. Portanto, são duas grandes ações. Dois grandes descobrimentos que ele realiza e que lhe permitem coroar de êxito a sua viagem. 

Mas antes de chegar ao Pacífico - que batiza assim - Magalhães tem de fazer cerca de 600 quilómetros no estreito. O professor esteve lá nesse estreito e esteve lá mais ou menos nesta altura, em outubro. É primavera austral mas, mesmo assim, é muito frio.

É, é muito difícil de suportar aquele clima, porque está por volta de zero graus - um bocadinho mais de zero graus - mas comparado com aquilo que eles já tinham sofrido na atual Argentina até não era nada mau. E, portanto, digamos que eles tinham estado à espera na Argentina de condições favoráveis para poderem enfrentar, e poderem navegar - porque enquanto eles estiveram à espera, digamos, do que chamavam o verão, não podiam movimentar-se na Argentina. Praticamente só no dia 18 de outubro é que eles saem da Argentina e conseguem, finalmente, no dia 21, chegar ao estreito hoje no Chile. Porque as condições eram muito más. Aquelas montanhas, do estreito de Magalhães, estão todas cobertas de neve. Portanto aquilo é tudo complicado, um vento muito forte, correntes muito fortes - embora o estreito de Magalhães seja razoavelmente largo, exceto na entrada que é mais estreita, mais ou menos a distância que vai de Belém à Trafaria, na foz do Tejo. Dá para passarem perfeitamente os navios. Portanto, são as condições atmosféricas e as correntes marítimas que, nesses 600 quilómetros, tornam difícil a navegação. E, sobretudo, porque tem muitas ilhas e tem muitos contornos difíceis, mas, mesmo assim, os navios, com a mestria de Fernão Magalhães e dos seus pilotos, conseguiram. (...)»

Fonte: JN, de 21 de Outubro de 2020

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Devaneios cruzadísticos │Fernão de Magalhães

FERNÃO DE MAGALHÃES

No valle clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do valle vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.

De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titans, os filhos da Terra
Que dançam da morte do marinheiro
Que quiz cingir o materno vulto-
Cingil-o, dos homens, o primeiro-
Na praia ao longe por fim sepulto.

Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço
.

Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.


Este mês, o AlegriaBreve dá a palavra ao poeta Fernando Pessoa, para nos falar do homenageado - Fernão de Magalhães - evocando a viagem de circum-navegação, ocorrida há 500 anos.

Este poema está na "Mensagem", de Fernando Pessoa, dedicado, justamente,  a Fernão de Magalhães. O poeta evoca a figura do navegador português que, em 1519, iniciou a viagem de circum-navegação, ao serviço do rei de Espanha, Carlos V. 

Recriando um cenário que mais não é que uma dança fúnebre - "que dançam na morte do marinheiro" - o poema pretende sublinhar que o espírito aventureiro de Fernão de Magalhães persiste, mesmo para além da contingência da morte - "a alma ousada/Do morto ainda comanda a armada"

Embora morto, o "ausente", já "sem corpo", o navegador continua a abarcar " A terra inteira como seu abraço", pelo que o seu propósito aventureiro - provar que a terra era redonda - perdura para além dele, vencendo a própria morte : "Violou a Terra. Mas eles não/O sabem, e dançam na solidão

Só sublinhar ainda que Magalhães é, segundo alguns historiadores, "uma das figuras mais fascinantes dos Descobrimentos", mas existem muitas incertezas à volta da sua pessoa.  Basta uma busca rápida na Internet e lá está: o navegador português Fernão de Magalhães, o homem que lançou aquela que foi a primeira viagem marítima à volta do mundo, terá nascido na aldeia de Sabrosa, em Trás-os-Montes. Erro, dizem alguns historiadores. Os arquivos portugueses sobre ele "estão por estudar" e podem esclarecer muitos mistérios.

Este aparente desinteresse por Fernão de Magalhães pode explicar-se, segundo Michel Chandeigne, pelo facto de "ele ser uma espécie de anti-herói, tanto em Portugal como em Espanha". Em Portugal "era visto como um traidor", por ter ido oferecer os seus serviços ao rei espanhol, e em Espanha era visto como um navegador que falhou, não tendo conseguido regressar da viagem pelo Ocidente até às Molucas, por mares não reservados aos portugueses no Tratado de Tordesilhas (morreu em combate com indígenas nas Filipinas).

Convido, assim, os meus amigos a resolver este problema e, no final, encontrar o primeiro nome (3 palavras nas horizontais) do estreito que hoje tem o do navegador português Fernão de Magalhães (1480 – 1521).


HORIZONTAIS: 1 – Listas; Inteiros. 2 – Impugnei; Ingénua. 3 – Simples; Bar; Orvalho [regionalismo]. 4 – Aqueles; Ordinário; Ermo. 5 – Seta; Levantes. 6 – Nada; Âmbito. 7 – Gira; Dólmen [regionalismo]. 8 – Significas; Cerco; Sopro. 9 – A massa popular [figurado]; Abundância; Uno. 10 – Puros; Consentimento [figurado]. 11 – Pronunciados; Salva.

VERTICAIS: 1 – Bisonhos; Limpo. 2 – Juntar; Ressumar. 3 – Vesti; Administrar; Antiga moeda da Índia equivalente a 1/16 da rupia. 4 – Aquelas; Braços; Planta liliácea oriunda da China. 5 – Raiz; Momentos. 6 – Toque; Sujeitas. 7 – Horário; Acontecer. 8 – Palavra que, no dialecto provençal, significava sim; Trabalho de noite; Mais [antiquado]. 9 – Condolência; Essência; Pessoa estranha [figurado]. 10 – Sem juízo [figurado]; Estimas. 11 – Empregos [Angola]; Armadilha [figurado].

Clique  Aqui para abrir e imprimir o PDF.



Aceito respostas até dia 25 de Outubro, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?

sábado, 26 de setembro de 2020

Devaneios cruzadísticos │Amália Rodrigues

"Povo que lavas no rio" é o título de uma canção gravada pela cantora portuguesa Amália Rodrigues (1920 - 1999) e letra do poeta Pedro Homem de Melo,  pedido com a resolução do passatempo referente ao mês de Setembro de 2020.


Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Julieta; Juse; Madobar; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; Par de Pares; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

Grato a todos.
Até ao próximo!

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Devaneios cruzadísticos │││ Amália Rodrigues

Amália Rodrigues – que o AlegriaBreve aqui convoca por se comemorar em 2020 o 1º centenário do seu nascimento - foi uma cantora, actriz e fadista portuguesa, considerada uma das mais brilhantes cantoras do século XX. Está sepultada no Panteão Nacional, entre outras pessoas portuguesas ilustres. 

Amália nasceu a 1 de Julho de 1920, apenas foi registada dias depois, tendo no seu assento de nascimento como nascida a 23 de Julho de 1920, na freguesia da Pena, em Lisboa. Todavia, Amália pretendia, no entanto, que o aniversário fosse celebrado a 1 de Julho ("no tempo das cerejas"), ela dizia: Talvez por ser essa a altura do mês em que havia dinheiro para me comprarem os presentes. 

Tornou-se conhecida mundialmente como a Rainha do Fado e, por consequência, devido ao simbolismo que este género musical tem na cultura portuguesa, foi considerada por muitos como uma das suas melhores embaixadoras no mundo. Aparecia em vários programas de televisão pelo mundo fora, onde não só cantava fados e outras músicas de tradição popular portuguesa, como ainda canções contemporâneas. Marcante contribuição para a história do Fado, foi a novidade que introduziu de cantar poemas de grandes autores portugueses consagrados, depois de musicados, de que é exemplo a lírica de Luís de Camões ou as cantigas e trovas do rei D. Dinis. Teve ainda ao serviço da sua voz a pena de alguns dos maiores poetas e letristas seus contemporâneos, como David Mourão-Ferreira, Pedro Homem de Melo, José Carlos Ary dos Santos, Alexandre O´Neil ou Manuel Alegre. 

Até à sua morte, em Outubro de 1999, 170 álbuns haviam sido editados com seu nome em 30 países, vendendo mais de 30 milhões de cópias em todo o mundo, número 3 vezes maior que a população de Portugal. 

E todavia foi uma personagem muito discutida. Quem foi verdadeiramente Amália Rodrigues? Como se relacionou com o Estado Novo e sobreviveu à admiração por Salazar? Como enfrentou a pobreza, seduziu a aristocracia e os intelectuais? Como ajudou presos políticos, cantou poetas proibidos, colaborou com antifascistas e financiou clandestinamente a oposição e o PCP? Como sobreviveu aos boatos, ataques e tentativas de silenciamento no pós-revolução? Uma vida tão bela quanto misteriosa.

Este mês, convido os meus amigos a resolver este problema e, no final, encontrar o título (5 palavras nas horizontais) de uma canção gravada pela cantora portuguesa Amália Rodrigues (1920 – 1999).



HORIZONTAIS: 1 – Público; Adoptam. – Eternidade; Dote para o casamento entre muçulmanos [Moçambique]. 3 – Pertences; Culpa; Símbolo de decímetro– Únicos; Adivinhas; Como. – Regas; Descalças. 6 – Mealheiro [popular]; Branco. – Tinjo; Rebento. – Fama [figurado]; Consigo; Rasga. 9 – Contracção de em+o; Centros [figurado]; Sopro. 10 – Orvalho [regionalismo]; Abundância [figurado]. 11 – Olhinhos; Torre. 

VERTICAIS: 1 – Usas; Sotaque. 2 – Dia; Guloso [Guiné-Bissau]. 3 – Divisa; Venerável [figurado]; Responsável. – Saúde; Aspiração [figurado]; Golo. 5 – Tiras; Valido. – Raso; Muito. – Íntimos; Educar. 8 – Pátria; Recusa; Senhora. – Considera; Prestação; Aqueles. 10 – Íngreme; Mas. 11 – Imitação do estilo, do gesto ou da voz de outrem; Equipe.

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Aceito respostas até dia 25 de Setembro, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?