Sebastião Gama, nasceu em Vila Nogueira de Azeitão, no dia 10 de Abril de 1924 e morreu em Lisboa, no dia 7 de Fevereiro de 1952, no Hospital de São Luís dos Franceses, vítima de tuberculose. Foi poeta e professor. Sebastião da Gama deixou-nos um lindo poema a que deu o nome “Pequeno Poema”, que foi incluído no seu livro de estreia, "Serra-Mãe", de 1945. A sua obra encontra-se muito ligada à Serra da Arrábida e, também, à sua tragédia pessoal, motivada pela doença que o vitimou precocemente, a tuberculose. O poema reza assim:
PEQUENO POEMA
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais …
Somente,
Esquecida das dores,
A minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém …
Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe …
Sebastião da Gama, in Serra-Mãe, Lisboa, Edições Ática, 2000
José Luís Peixoto nasceu em Galveias, Ponte de Sor, em 4 de Setembro de 1974. É narrador, poeta e dramaturgo. Embora jovem tem já uma assinalável obra em vários géneros literários. Em 2006, publicou o romance "Cemitério de Pianos", para mim, talvez o melhor. Em 2001, o seu romance «Nenhum Olhar» recebera o Prémio Literário José Saramago. No mesmo ano, publicara um livro de poesia , “ A Criança em Ruínas”, onde se inclui o poema “Quando nasci”. Reza assim:
quando nasci,
quando nasci. esperava que a vida.
me trouxesse. a terra. quando nasci.
esperava que a vida. me trouxesse.
as árvores. e os pássaros. e as crianças.
quando nasci. tinha o mundo. todo.
depois dos olhos. depois dos dedos.
e não percebi. não percebi. nada.
nunca imaginei. quando nasci. que a vida.
quando nasci. já era escuridão. a escuridão.
em que estava. quando nasci.
José Luís Peixoto, in "A Criança em Ruínas", Quasi, 2007, p.37
O poema “Pequeno Poema”, de Sebastião da Gama, para além de ser uma homenagem à vida, ao acto de nascer, é, também, um hino às nossas mães.
O “quando nasci”, de José Luís Peixoto, é um poema que, do ponto de vista formal, apresenta uma estrutura algo diferente do habitual. Não se entende bem a utilidade dos pontos, ainda se fossem pausas, mas não o são. A mensagem é de alguma frustração. Alguém que esperava por um mundo melhor e que, afinal, o que encontra é escuridão, a escuridão em que estava.
O poema de Sebastião da Gama é de esperança. O poema de José Luís Peixoto é de desilusão.