A minha Lista de blogues

terça-feira, 26 de abril de 2011

Paris, 26 de Abril de 1916

Fim

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

Mário de Sá-Carneiro

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O meu Capitão de Abril

A Salgueiro Maia

Aquele que na hora da vitória
respeitou o vencido

Aquele que deu tudo e não pediu a paga

Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite

Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício

Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»
como antes dele mas também por ele
Pessoa disse.


Sophia de Mello Breyner Andresen

O sinal vermelho

A coluna do cap. Salgueiro Maia entra em Lisboa. De repente, estaca.
- Então, o que se passa agora? - pergunta Salgueiro Maia,
- É o sinal vermelho, meu capitão - Respondeu um soldado-condutor.
Que raio de revolução é esta que pára aos sinais vermelhos! - comenta o alferes Beato.

Acabo, agora,  mesmo de ver  na RTP-1, pela enésima vez, nos "Capitães de Abril". 

25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
e livres habitamos a substância do tempo.

Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O Eléctrico 28



O Eléctrico 28 foi seleccionado pela editora Rough Guide to the World como umas das 1.000 experiências de viagem mais importantes do mundo ("1.000 ultimate travel experiences"). O percurso do eléctrico, referido como uma viagem "slow-motion" pelo coração histórico da cidade de Lisboa.
Uma boa razão para um passeio por Lisboa, utilizando este meio de transporte. mais há ainda uma outra boa razão.
Fernando Pessoa nunca saiu de Lisboa. Ganhou o seu sustento como «correspondente estrangeiro», trabalhando em inúmeras firmas comerciais, todas situadas na Baixa de Lisboa. Nos últimos 15 anos de vida (1920-1935), morou na Rua Coelho da Rocha, nº 16, em Campo de Ourique. Como não tinha carro, o seu transporte de casa para o emprego era o eléctrico 28.
Antes de chegar ao bairro de Campo de Ourique, enquanto o eléctrico faz a viagem, Pessoa escreveu:
«Vou num carro eléctrico, e estou reparando lentamente, conforme é meu costume, em todo os pormenores das pessoas que vão adiante de mim. Para mim, os pormenores são coisas, vozes, letras. Entonteço. Os bancos do eléctrico levam-me a regiões distantes, multiplicam-se-me em vidas, realidades, tudo. Saio do eléctrico exausto e sonâmbulo. Vivi a vida inteira».

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Carta a Carlos Pinto Coelho

Nunca nos cruzámos, mas, hoje, escrevo-te esta carta por um motivo: o livro APARIÇÃO, de Vergílio Ferreira. Ontem, por mero acaso, navegando pelo YouTube, vi,  pela primeira vez, um programa da RTPN, o qual, com muita pena minha, eu desconhecia e estava a passar ao lado. O programa chama-se Ler+, Ler Melhor. Vi, então, na NET uns tantos programas atrasados. O primeiro vídeo mostra-nos a tua escolha. Para grande surpresa minha, a escolha foi APARIÇÃO, de Vergílio Ferreira. Espanto total! O “Sr. Acontece”, que me havia dado a conhecer tantos e bons livros, veio dizer que o livro da sua vida era a APARIÇÃO, de Vergílio Ferreira.
Aqui tens a razão desta minha carta.  Obrigado, amigo, por este tesouro:


Foi José Luis Borges que disse: «Sempre imaginei o paraíso como uma grande biblioteca».

Meu bom amigo, lá na tua nova morada, estás rodeado - tenho a certeza - de muitos livros e, num lugar de destaque, lá está o livro de capa amarela, que tanto te desassossegou quando, ainda jovem, o leste.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Grandes Livros

Acabo de ler PEREGRINAÇÃO, de Fernão Mendes Pinto. Não é tarefa fácil falar desta narrativa que se desenvolve ao longo de 226 capítulos e onde encontramos um número considerável de nomes exóticos: 530 nomes e apenas 186 (cerca de um terço) estão identificados.
Fernão Mendes Pinto tentou, como tantos outros, a sua sorte em terras do Oriente, embarcando para a Índia em 11 de Março de 1537. Regressou a Lisboa em 22 de Setembro de 1558.
Desiludido com a forma como foram recebidos os trabalhos que apresentou à rainha Dona Catarina (o Rei D. João III falecera no ano anterior), desabafou: «e nisto vieram a parar meus serviços de vinte e um anos, nos quais fui treze vezes cativo e dezasseis vendido...».
Podemos dizer, em resumo, que estamos perante uma narrativa que evidencia a desagregação do império, transformando os portugueses em grupos avulsos, divididos entre a missionação, a rapinagem e o confessado roubo.

Há que diga que esta narrativa é, por isso, um anti-Lusíadas. Afirmação curiosa!.
Mas será que, alguma vez, Fernão Mendes Pinto e Luís de Camões se cruzaram?.
Camões chegou à Índia em Setembro de 1553. Fernão Mendes Pinto, que já andava por aquelas terras há mais de 15 anos, passou por Goa, nos primeiros meses do ano de 1554, acompanhando o cadáver de Francisco Xavier, para ali ser enterrado, pois este padre jesuíta falecera dois anos antes em Sanchão quando ia a caminho da China.
É bem provável que tal encontro tenha acontecido, quer nos primeiros meses do ano de 1554, quer, depois, no ano de 1556, sendo Governador de Goa um tal Francisco Barreto, quando há notícia dos dois terem passado, nesse ano, por Goa.
Esta suposição não é despicienda, visto que há autores que admitem que Fernão Mendes Pinto e Luís de Camões se encontraram, nesta cidade, numa tertúlia, que incluiria ainda outras figuras, como Garcia de Orta e Diogo do Couto.
Anos mais tarde, Fernão Mendes Pinto regressou a Lisboa em 22 de Setembro de 1958, enquanto que o regresso de Luís de Camões a Lisboa aconteceu em 7 de Abril de 1570.
Fernão Mendes Pinto foi para Vale de Rosal, em Almada, onde se manteve até à morte e onde escreveu, entre 1570 e 1578, a obra que nos legou, a sua inimitável Peregrinação. Esta só viria a ser publicada 20 anos após a morte do autor, receando-se que o original tenha sofrido alterações às quais não seriam alheios os Jesuítas.
Luís de Camões, embora mais novo, morreu em 10 de Junho de 1580, enquanto que Fernão Mendes Pinto veio a falecer 3 anos mais tarde, em 8 de Julho de 1583.

Não havendo certezas quanto a um encontro entre estes 2 grandes escritores da Língua Portuguesa, neste período de 1570 a 1580, em que eles viveram por perto, sempre podemos imaginar, deste modo, o seguinte diálogo entre os dois:
- Amigo Fernão, somos um povo de heróis - disse Luís de Camões;
- Amigo Luís, somos um povo de heróis e de canalhas. Se um dia somos capazes dos maiores feitos, no outro cometemos os crimes mais cruéis – respondeu Fernão Mendes Pinto.

sábado, 9 de abril de 2011

Um sogro do melhorio...

Decorre, neste fim de semana, em Matosinhos, o Congresso do Partido Socialista, com grande fervor militante em volta do seu grande timoneiro.
Estreia-se ali, aliás, um filme com o título "Um sogro do melhorio", que retrata a tragédia portuguesa, e que tem, à frente do elenco, um grande actor, José Sócrates.
A propósito, alguém sabe quem é o melhor sogro do Mundo?.
A resposta é: José Sócrates. Porquê?. PORQUE DEIXOU TUDO À NORA.
Perante este espectáculo torpe da vida pública, só apetece dizer, como Herculano: "Isto dá vontade de morrer!".

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Vem aí o FMI

No dia em que os senhores do FMI desembarcam em Lisboa, preparando-se para infernizar o juízo dos portugueses, almocei no Eleven. Saiu-me carote (mesmo com desconto), mas começou, desta maneira, a minha forte e determinada oposição aos senhores do FMI. Para que saibam... 

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Estamos num beco sem saída?

Corre na NET um vídeo em que vemos um Professor de uma Universidade de Madrid dar uma aula de Economia, sob o tema MORTE E RESSURREIÇÃO DE KEYNES.

A ortodoxia económica, na nova versão Keynesiana, advoga, para a situação actual, politicas fiscais expansionistas (diminuição de impostos e aumento dos gastos do Estado).

A União Europeia (entenda-se aqui a sra. Merkel) receita o aumento de impostos e a diminuição dos gastos do Estado.

A primeira, traz subida do Deficit e da Dívida Pública; a segunda, acarreta mais desemprego e recessão. Venha o diabo e escolha...

Na minha modesta opinião, querer aplicar a receita Keynesiana numa economia em que os governantes já não dominam todas as ferramentas (mormente, a taxa de juro e taxa de câmbio) não pode, de maneira nenhuma, dar bom resultado.

Ou caminhamos para um espaço totalmente integrado nas suas politicas (e adeus soberania) ou saímos do Euro (ou, no mesmo, da União Europeia), o que, dizem os sábios, acarretaria agora custos elevados.

Parece-me que confiámos, em demasia, que os nossos amigos da Europa nos deitavam a mão, mas, agora, na hora do aperto, cada um salva-se como pode.

Estamos num beco sem saída?.

Enfim, a nação atravessa um momento de enorme desespero e, por mim, só me apetece dizer como o poeta António Botto: «Amigos, / Que desgraça nascer em Portugal».