A NET está, desgraçadamente, infestada de “falsos” e, não obstante todos os cuidados, ainda caímos no engano. Foi o que me aconteceu, recentemente, ao encaminhar um vídeo com um poema com o título METADE, “da autoria do poeta Ferreira Gullar”, na voz de Oswaldo Montenegro.
Bem, vou ter que apresentar o meu pedido de desculpas a quem enviei tal vídeo, pois estamos perante mais um “falso”.
O poema METADE é da autoria de Oswaldo Montenegro, que o lançou em 1975, no libreto da peça teatral João Sem Nome.
Ferreira Gullar é o autor do poema TRADUZIR-SE, publicado no livro Vertigens do Dia, publicado em 1980.
As duas obras são completamente distintas, embora abordem, ambas, a dualidade humana.
Estes “falsos” são uma praga difícil de exorcizar, porque serão sempre mais os divulgadores do dolo dos que os combatem. Ao Fernando Pessoa são atribuídos poemas de arrepiar. Portanto, importa estar atento: se receberem o tal vídeo, que circula aí pela NET, não é verdade que o poema METADE seja, como lá se diz, da autoria de Ferreira Gullar.
Deixo aqui, para que conste, o poema TRADUZIR-SE do poeta brasileiro Ferreira Gullar, que foi contemplado com o prémio Camões, em 2010:
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?
Ferreira Gullar, in Vertigens do Dia, 1980
Bem, vou ter que apresentar o meu pedido de desculpas a quem enviei tal vídeo, pois estamos perante mais um “falso”.
O poema METADE é da autoria de Oswaldo Montenegro, que o lançou em 1975, no libreto da peça teatral João Sem Nome.
Ferreira Gullar é o autor do poema TRADUZIR-SE, publicado no livro Vertigens do Dia, publicado em 1980.
As duas obras são completamente distintas, embora abordem, ambas, a dualidade humana.
Estes “falsos” são uma praga difícil de exorcizar, porque serão sempre mais os divulgadores do dolo dos que os combatem. Ao Fernando Pessoa são atribuídos poemas de arrepiar. Portanto, importa estar atento: se receberem o tal vídeo, que circula aí pela NET, não é verdade que o poema METADE seja, como lá se diz, da autoria de Ferreira Gullar.
Deixo aqui, para que conste, o poema TRADUZIR-SE do poeta brasileiro Ferreira Gullar, que foi contemplado com o prémio Camões, em 2010:
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?
Ferreira Gullar, in Vertigens do Dia, 1980