As Palavras
Adiro a uma nova terra adiro a um novo corpo
É um corpo que se tornou palavra
Segue-se a narrativa das transições:
as palavras identificam-se com o asfalto negro
o tropel das nuvens
a espessura azul das árvores acesas pelos faróis
o rumor verde
As palavras saem de uma ferida exangue
de teclas de metal fresco
de caminhos e sombras
da vertigem de ser só um deserto
de armas de gume branco
Há palavras carregadas de noite e de ombros surdos
e há palavras como giestas vivas
Matrizes primordiais matéria habitada
forma indizível num rectângulo de argila
quem alimenta este silêncio senão o gosto de
colocar pedra sobre pedra até à oblíqua exactidão?
As palavras vêm de lugares fragmentários
de uma disseminação de iniciais
de magmas respiradas
do odor de gérmen de olhos
As palavras podem formar uma escrita nativa
de corpos claros
Que são as palavras? Imprecisas armas
em praias concêntricas
torres de sílex e de cal
aves insólitas
As palavras são travessias brancas faces
giratórias
elas permitem a ascensão das formas
elevam-se estrato após estrato
ou voam em diagonal até à cúpula diáfana
As palavras são por vezes um clarão no dia calcinado
Que enfrentam as palavras? O espelho
da noite a sua impossível
elipse
Saem da noite despedaçadas feridas
e são a minúscula luz das frestas
entre as pedras piramidais
António Ramos Rosa
A minha Lista de blogues
sexta-feira, 28 de setembro de 2018
quarta-feira, 26 de setembro de 2018
Devaneios cruzadísticos │Guerra Junqueiro
"A Musa em Férias" é o título de uma obra do escritor português Guerra Junqueiro (15/09/1850- 7/07/1923), pedido com a resolução do passatempo referente ao mês de Setembro de 2018.
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Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita; Baby; Caba; Corsário; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Bentes; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Lulopes; Mafirevi; Magno; Magriço; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lurdes; My Lord; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar e Virgílio Atalaya.
Até ao próximo!
sexta-feira, 7 de setembro de 2018
E nada mais?
Os anos são degraus; a vida, a escada.
Longa ou curta, só Deus pode medi-la.
E a Porta, a grande Porta desejada,
só Deus pode fechá-la, pode abri-la.
São vários os degraus: alguns sombrios,
outros ao sol, na plena luz dos astros,
com asas de anjos, harpas celestiais;
alguns, quilhas e mastros
nas mãos dos vendavais.
Mas tudo são degraus; tudo é fugir
à humana condição.
Degrau após degrau,
tudo é lenta ascensão.
Senhor, como é possível a descrença,
imaginar, sequer, que ao fim da estrada
se encontre após esta ansiedade imensa
uma porta fechada
— e nada mais?
Fernanda de Castro (1900 - 1994)
Longa ou curta, só Deus pode medi-la.
E a Porta, a grande Porta desejada,
só Deus pode fechá-la, pode abri-la.
São vários os degraus: alguns sombrios,
outros ao sol, na plena luz dos astros,
com asas de anjos, harpas celestiais;
alguns, quilhas e mastros
nas mãos dos vendavais.
Mas tudo são degraus; tudo é fugir
à humana condição.
Degrau após degrau,
tudo é lenta ascensão.
Senhor, como é possível a descrença,
imaginar, sequer, que ao fim da estrada
se encontre após esta ansiedade imensa
uma porta fechada
— e nada mais?
Fernanda de Castro (1900 - 1994)
sábado, 1 de setembro de 2018
Devaneios cruzadísticos │Guerra Junqueiro
Traçar em meia dúzia de linhas a vida e a obra do escritor e poeta Guerra Junqueiro seria tarefa tão ingrata e dificil como peregrinar, a pé, até Santiago de Compostela. Todavia, ousemos num esboço breve.
Junqueiro nasceu em Freixo de Espada à Cinta, em 15 de Setembro de 1850, no seio de uma família abastada, e veio a morrer em Lisboa, em 7 de Julho de 1923.
Junqueiro nasceu em Freixo de Espada à Cinta, em 15 de Setembro de 1850, no seio de uma família abastada, e veio a morrer em Lisboa, em 7 de Julho de 1923.
Guerra Junqueiro formou-se em direito na Universidade de Coimbra e, ainda estudante, colaborou na "Folha", de João Penha, onde deixou poemas dispersos. Na cidade do Porto, podemos visitar, na Rua D. Hugo, a Fundação Guerra Junqueiro e a Casa Museu Guerra Junqueiro, que ficam uma frente da outra, nas trazeiras da Sé do Porto. Foi um grande colecionador de obras de arte, que podemos (como aconteceu comigo) admirar na Casa-Museu.
Foi deputado, eleito 3 vezes pelo Partido Progressista (1878-90), pertenceu ao Grupo do Cenáculo, aos Vencidos da Vida e ao movimento cesarista Vida Nova. Depois da crise do Ultimato (1890), aderiu ao ideal republicano e foi ministro de Portugal na Suíça (1911-14). Junqueiro apontou atormentadamente a uma pessoa - o rei D. Carlos - que conhecia mal, mas lhe passou a merecer um ódio espontâneo e teimoso. Foi considerado, por muitos, um dos instigadores do Regicídio. Sem dúvida, o poema “O Caçador Simão” é um verdadeiro incentivo ao regicídio.
Este poeta, que muitos acusaram de sarcasta gratuito, não se incomodou em rasgar, e para sempre, os seus melhores versos, se com isso pudesse fazer as pazes com a sua consciência. Amansou desse modo uma versão da "Pátria", que veio a ser publicada depois a sua morte (1925) e que quase nenhum valor poético apresenta. Mas quando lhe falaram de atentado estético contra um poema intocável, a que ele roubou centenas de versos (como nos conta Raul Brandão nas suas Memórias), Junqueiro, enfiado no seu barretinho de lã, roído de remorsos e escanzelado, limitou-se a exclamar indignado: «não posso aparecer no outro mundo como acusador!»
A seguir à sua morte foi muito criticado. Todavia, deve reconhecer-se que qualquer comentário a Junqueiro tem de observar atentamente o contexto histórico-político do período em que ele escreveu. Ultimamente, tem vindo a ser, com toda a justiça, redimido. Junqueiro foi um homem do seu tempo. Fez-se com a pele do seu tempo.
Convido os meus amigos a resolver este problema de palavras cruzadas e, no final, encontrar o título de uma obra (4 palavras nas horizontais) da autoria deste escritor português, Guerra Junqueiro (15/09/1850 - 7/07/1923).
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HORIZONTAIS: 1 – Atarracado; Combate. 2 – Que demonstra afeição; Significar. 3 – Vão; Namora muito [Brasil]. 4 – Pareça; Tímido; Sopro. 5 – Avalia [figurado]. 6 – Númen; Bruxa. 7 – Ex-frade. 8 – Preposição que designa estado; Pátio; National Basketball Association [sigla]. 9 – Avulta; Seguro. 10 – Estreita; Constara. 11 – Grande vontade de comer [Angola]; Dias feriados em que se suspendem os trabalhos oficiais.
VERTICAIS: 1 – Respeitável; Fecundo. 2 – Enfado; Limite. 3 – Bebedeira [Brasil]; Graça [figurado]. 4 – Grito; Ratos. 5 – De + a [contracção]; Gritariam [popular]. 6 – Pessoa notável [figurado]; Electronic Data Interchange [sigla]. 7 – Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de mar; Catedral. 8 – Mentiras; Andar. 9 – Costume; Afligi. 10 – Dinheiro [popular]; Que parece bom, mas não o é. 11 – Mentira [coloquial]; Guardas.
Dicionário adoptado: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa-aao
Este problema respeita as regras gramaticais da acentuação gráfica.
Aceito respostas até dia 25 de Setembro, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. Vemo-nos por aqui?
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