A minha Lista de blogues

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Tu estás aqui

Luis Miguel Cintra diz “Tu estás aqui”, poema de Ruy Belo, que hoje faria 87 anos.


terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Devaneios cruzadísticos │Cesário Verde

"De tarde" é o título de um poema de Cesário Verde (faz hoje anos que nasceu o poeta - 25/2/1855), pedido com a resolução do passatempo referente ao mês de Fevereiro de 2020. 

Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampamos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

O poema "De tarde" (também conhecido por o "pic-nic das burguesas") realça, de sobremaneira, as qualidades pictórias da poesia de Cesário Verde. David Mourão-Ferreira disse de Cesário que ele era um «pintor nascido poeta». O poema é, comummente, associado ao quadro ao quadro “Le déjeuner sur l herbre”, de Édouard Manet. 



E a solução completa do problema deste mês é a seguinte:


1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
1
A
T
I
Ç
A
S

M
A
T
A
2
R
O
A

C
A
M
E
L
O
S
3
D
E

T
U
M
O
R

A
S
4
U

V
E
S

A
C
O
L
A
5
A
C
A
M
A
S

A
R
E

6
S
A
L

S
E
R

A
T
A
7

B
O
A

M
O
N
T
E
S
8
T
A
R
D
E

S
O
E

P
9
O
L

I
R
I
E
S

F
E
10
P
A
R
C
I
A
L

C
O
R
11
O
S
G
A

M
A
D
U
R
O

Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Elvira Silva; Fernando Semana; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Julieta; Juse; Madobar; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

A todos agradeço.

Premiado: Madobar, Ponte de Lima
Prémio Porto Editora

Até ao próximo!

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Quando a cultura foi de Ferro

Acabei de ler "António Ferro - O Inventor do Salazarismo", da autoria de Orlando Raimundo. Li-o de supetão, porque, apesar dos avisos, achei por bem saber até onde ia o autor no seu intento de tudo arrasar. É realmente um livro arrasador. E não é só o biografado. Por caminho, foram apoucados e apequenados nomes pelos quais eu tinha (e tenho) muita admiração, como por exemplo Almada Negreiros, Leitão de Barros, Cottinelli Telmo e, até, o cineasta Manoel de Oliveira! Citei estes nomes, mas podia citar mais. Acha uma vergonha o facto de Almada Negreiros, anos mais tarde do célebre Manifesto, ter trabalhado com Júlio Dantas! A todos os que colaboraram com Ferro (não só o Almada, mas muitos outros) mimoseia-os com o título de «Vendidos por Dinheiro». 

O livro contém muita informação, a maioria dela eu ignorava por completo. Fala das obras que foram da iniciativa do Ferro ou obras em que ele foi o grande impulsionador:
Cinemateca nacional, Verde Gaio, Bibliotecas ambulantes, Cinema popular ambulante, Teatro popular ambulante, Tapetes de Arraiolos (concursos, prémios), Director da Revista Orfheu e outras, Crítico literário, Coleccionador de discos de jazz, Pousadas, Aldeia mais portuguesa (1938), Concursos (vários) de Literatura, Exposição do Mundo Português, Indústria cinematográfica (Tóbis), Marchas Populares de Lisboa, Comemorações da tomada de Lisboa aos Mouros (1947), Director da Emissora Nacional, Responsável pela vinda a Portugal de personalidades estrangeiras da Cultura (pe. Luigi Pirandello, Elliot, Cecília Meireles, Filipo Marinetti), Galos de Barcelos, Bandas de Música, Museu da Arte Popular em Belém, Pavilhão de Portugal na Exposição de Paris em 1937, Círculo Eça de Queirós (aqui em colaboração com António de Eça Queirós, filho do grande Eça), Estações floridas dos CF (concursos), Reabilitação do Paço dos Duques de Bragança em Guimarães, Serões para Trabalhadores…parece obra...

E todavia, o autor descobre sempre intenções escabrosas em tudo o que Ferro interveio. Cito alguns mimos: chico-esperto, plagiador, sem carácter, emproado, pedante, hipócrita, provinciano, simulador, ficcionista, percurso sinuoso, traidor (ao jornalismo), manhoso, falsificador, viciador, etc..

Enfim, que dizer...

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Ao anoitecer, há tal soturnidade...

AVE-MARIAS

Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba-me;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos,
Embrenho-me a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!

E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinido de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.

Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!

Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.

Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!

Cesário Verde

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Com que então troca-tintas...


A porta da «Havaneza» no Chiado era local certo para reunir os janotas e os más-linguas. Era lá que se juntavam os galãs para ver sair as meninas da missa dos Mártires e apreciar as beldades que desciam a calçada para tomar chá na Bénard, verdadeira passagem de modelos. Na Havaneza vendiam-se os melhores puros de Lisboa e os mais afamados tabacos portugueses e estrangeiros. 

Sabemos que Cesário Verde era uma fraca figura, tímido, macilento, sempre entretido com os seus botões. Um dia, como de costume, descia a rua Larga de Santa Catarina, o nosso Chiado, vindo do Bairro Alto, onde deixara um poema no «Diário de Notícias», a caminho da loja de ferragens do pai na rua dos Fanqueiros.

Um dos habitués da porta da tabacaria que, por qualquer razão, implicava com Cesário, vendo-o, não se conteve e comentou alto e bom som: - Olha o Cesário Azul… O poeta parou, fitou o engraçado e apenas disse: - Com que então troca-tintas

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Se a minha amada...


Arrojos

Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.

Se ela deixasse, extático e suspenso
Tomar-lhe as mãos mignonnes e aquecê-las,
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
Apagaria o lume das estrelas.

Se aquela que amo mais que a luz do dia,
Me aniquilasse os males taciturnos,
O brilho dos meus olhos venceria
O clarão dos relâmpagos nocturnos.

Se ela quisesse amar, no azul do espaço,
Casando a suas penas com as minhas,
Eu desfaria o sol como desfaço
As bolas de sabão das criancinhas.

Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso aos grandes rios
E a terra sob os pés abalaria.

Se aquela por quem já não tenho risos
Me concedesse apenas dois abraços,
Eu subiria aos róseos paraísos
E a Lua afogaria nos meus braços.

Se ela ouvisse os meus cantos moribundos
E os lamentos das cítaras estranhas,
Eu ergueria os vales mais profundos
E abateria as sólidas montanhas.

E se aquela visão da fantasia
Me estreitasse ao peito alvo como arminho,
Eu nunca, nunca mais me sentaria
Às mesas espelhentas do Martinho.

Cesário Verde

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Devaneios cruzadísticos │Cesário Verde

A biografia de Cesário Verde, o meu amado poeta que o AlegriaBreve homenageia este mês, é pobre de acontecimentos, pois a sua existência, além de breve, decorreu quase anónima. Ao morrer, em 19 de Julho de 1886, com 31 anos, só era conhecido e admirado por um grupo restrito de intelectuais e amigos.

Ele próprio, em carta a outro jovem poeta, António de Macedo Papança, o futuro Conde de Monsaraz, datada de Agosto de 1880, 2 meses após a publicação da sua obra-prima, "O Sentimento dum Ocidental", queixava-se amargamente da incompreensão e indiferença dos seus contemporâneos: «uma poesia minha, recente, publicada numa folha bem impressa, limpa, comemorativa de Camões, não obteve um olhar, um sorriso, um desdém, uma observação. Ninguém escreveu, ninguém falou, nem um noticiário, nem uma conversa comigo, ninguém disse bem, ninguém disse mal!...Literariamente, parece que Cesário Verde não existe». 

E, todavia, Cesário Verde é hoje considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX. Só que esse reconhecimento, justíssimo, somente aconteceu após a sua morte.

O poeta não foi intelectual nem literato e, até, não chegou a fundar um jornal, conforme planeara. Só escrevia poesia nas horas vagas, pois a sua profissão foi a actividade comercial, na loja do pai, na Rua dos Fanqueiros, em Lisboa, nºs 2 a 12 (onde actualmente se encontra uma casa bancária). Depreciativamente, chamavam-lhe o "poeta das ferragens".

Desaparecido prematuramente, Cesário Verde sobrevive, porém, nos seus versos, e essa vida já não pode confundir-se com a existência do "Sr. Verde, empregado no comércio". Ele é O Mestre de Fernando Pessoa, invocado por Álvaro de Campos («...ó Cesário Verde, ó Mestre, / ó do "Sentimento de um Ocidental"!»).

Mas ainda hoje o seu elevadíssimo mérito não é reconhecido pela sociedade civil. Apesar de raro entre os raros que tiveram sobre Lisboa um olhar único, Cesário Verde recebeu da cidade, quase como castigo, um busto envergonhado num jardim de quatro palmos, ali para os lados da Estefânia. Uma tristeza!

"O Livro de Cesário Verde", a única obra que o poeta nos deixou, foi editado por Silva Pinto, o amigo dedicado, meses após a sua morte, numa edição com uma tiragem limitada a duzentos exemplares e destinada apenas a ofertas. «Ao entardecer, debruçado pela janela / E sabendo de soslaio que há campos em frente / Leio até me arderem os olhos / O Livro de Cesário Verde/...», escreveu Pessoa, assinado por Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos".

Solucionado o problema, poderá encontrar, no final, o título de um poema (2 palavras nas horizontais), do poeta português Cesário Verde (1855 – 1886).


1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
1











2











3











4











5











6











7











8











9











10











11












HORIZONTAIS: 1 – Ateias; Vindima. 2 – Desgaste; Corda grossa [plural]. 3 – Preposição que designa modo; Nascida; Aquelas. 4 – Fantasias; Doce de milho e chocolate [Guiné-Bissau]. 5 – Abates; Fira. 6 – Graça [figurado]; Alma; Liga. 7 – Segura; Engastes. 8 – Perto do fim do dia; Toque. 9 – Sufixo nominal, de origem latina, que exprime a ideia de origem; Matizes; Prova. 10 – Privativo; Carácter [figurado]. 11 – Ódio; Pateta. 

VERTICAIS: 1 – Duras; Encontro. 2 – Pareça; Intrigas. 3 – Acontecia; Custo; Símbolo de roentgénio. 4 – Conta; Vê [coloquial]. 5 – Culpas; Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de . 6 – Senhora [São Tomé e Príncipe]; Preposição que designa falta; Convinham. 7 – Mace; Orvalhinha. 8 – Compra; Enlaces. 9 – Outra coisa [antiquado]; Demente; Assento [popular]. 10 – Quarto de banho [Brasil]; Andar. 11 – Tosta; Seco.

A sortear: Prémio (livro) Porto Editora

Clique  Aqui  para abrir e imprimir o PDF.


Aceito respostas até dia 25 de Fevereiro, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 


Vemo-nos por aqui?