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quarta-feira, 26 de maio de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Manuel António Pina

"O Caminho de Casa" é o nome de uma obra do poeta português Manuel António Pina (1943 - 2012), pedido com a resolução do passatempo de palavras - cruzadas, referente ao mês de Maio de 2021.

Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Crispim; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Elvira Silva; Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Julieta; Juse; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Maria de Lourdes; Manuel Ramos; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Par de Pares; Raquel Atalaya; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

Grato a todos.
Até ao próximo!

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Os gatos do poeta António Manuel Pina

 



Os gatos

Há um deus único e secreto

em cada gato inconcreto

governando um mundo efémero

onde estamos de passagem


Um deus que nos hospeda

nos seus vastos aposentos

de nervos, ausências, pressentimentos,

e de longe nos observa


Somos intrusos, bárbaros amigáveis,

e compassivo o deus

permite que o sirvamos

e a ilusão de que o tocamos


Manuel António Pina, “Os gatos”, Como se desenha uma casa. Lisboa: Assírio & Alvim, 2011.

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Todas as Palavras

As que procurei em vão,
principalmente as que estiveram muito perto,
como uma respiração,
e não reconheci,
ou desistiram e
partiram para sempre,
deixando no poema uma espécie de mágoa
como uma marca de água impresente;
as que (lembras-te?) não fui capaz de dizer-te
nem foram capazes de dizer-me;
as que calei por serem muito cedo,
e as que calei por serem muito tarde,
e agora, sem tempo, me ardem;
as que troquei por outras (como poderei
esquecê-las desprendendo-se longamente de mim?);
as que perdi, verbos e
substantivos de que
por um momento foi feito o mundo
e se foram levando o mundo.
E também aquelas que ficaram,
por cansaço, por inércia, por acaso,
e com quem agora, como velhos amantes sem
desejo, desfio memórias,
as minhas últimas palavras.

Manuel António Pina │Atropelamento e fuga (Assírio & Alvim, 2001)

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Te amo

Amor como em Casa

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

Manuel António Pina "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde"

terça-feira, 11 de maio de 2021

Gótico americano



Uma recordação chega
para fender os alicerces,
a dúvida rasga as cortinas
por onde se coa o sangue dos dias felizes.

As filhas passadas já não correm no jardim,
já ninguém responde quando chamo
pelos seus vagos nomes que chamo
como se chamassem eles por mim.

Tu lavas a louça na cozinha
entre cheiros sujos e restos de comida,
ou ficas à janela infinitamente;
os vizinhos mudaram-se, o cão morreu para sempre.

A casa agora é feita d’ângulos agudos,
de perguntas, de poços descobertos,
nós perdemo-nos por dentro d’outros mundos
por portas que se abriram para dentro.

O meu coração repousa
na cave no meio da minha vida
e eu vagueio lá fora entre os sentidos.
Sou eu quem chama, não me ouves bater?

Manuel António Pina 
l Um Sítio Onde Pousar a Cabeça (1991)

domingo, 9 de maio de 2021

Afasta de mim o pecado da infelicidade

Completas

A meu favor tenho o teu olhar
testemunhando por mim
perante juízes terríveis:
a morte, os amigos, os inimigos.

E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em fundos sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.

Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.

Manuel António Pina | O Caminho de Casa (1989)

terça-feira, 4 de maio de 2021

A esplanada do poeta

Esplanada

Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,

agora lês saramagos & coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.

O café agora é um banco, tu professora de liceu;
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos por andar como dantes.

Manuel António Pina (1991)

sábado, 1 de maio de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Manuel António Pina

Este mês, o AlegriaBreve convoca-nos para, neste espaço, prestar uma singela homenagem ao jornalista, escritor e poeta Manuel António Pina. Eu, da sua poesia, me confesso.

Nasceu no ano de 1943, no Sabugal, na Beira Alta, e faleceu a 19 de Outubro de 2012, no Porto. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, em 1971, exerceu a advocacia e foi técnico de publicidade. Abraçou a carreira de jornalista no Jornal de Notícias, onde passou a editor. 

Além do Jornal de Notícias, tem ainda colaboração dispersa por outros órgãos de comunicação, entre imprensa escrita, rádio e televisão [República, Diário de Lisboa, O Jornal, Expresso, Jornal de Letras, Artes e Ideias, Marie Claire, Visão, Península (Barcelona), Rádio Porto, RTP, etc.].

Foi também professor da Escola Superior de Jornalismo do Porto e membro do Conselho de Imprensa.

A obra é múltipla e tem uma dimensão lúdica, porque Manuel António Pina gostava de brincar com as palavras. Na poesia, nas histórias para crianças, nas crónicas, nas peças de teatro. Tudo escreveu num tom irónico e provocador, sem perder a complexidade.

A sua bibliografia tem dezenas de títulos: além da poesia, da literatura para crianças e das crónicas, há peças de teatro, ficção e ensaio. Algumas obras foram adaptadas ao cinema e há textos seus gravados em disco. 

São quatro décadas de um percurso literário, tendo recebido, ao longo da sua vida, vários prémios, nomeadamente: em 1984, o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens e, em 2011, o mais importante galardão da literatura lusófona, o Prémio Camões.

Deste modo, convido os meus amigos a resolver este problema e, no final, encontrar o nome (4 palavras nas horizontais) de uma obra do poeta português Manuel António Pina (1943 - 2012).


HORIZONTAIS: 1 – Cativa; Lanças [popular]. 2 – Desiste [figurado]; Banha. 3 – Parvo; Brandura. 4 – Responsável; Amarrar; Predisse. 5 – Distância. 6 – Membrana média do olho, situada entre a esclerótica e a retina; Comida [coloquial]. 7 – Ataca. 8 – Preposição que designa origem; Um dia; Visita. 9 – Indigna; Defesas [figurado]. 10 – Semelhantes; Lar. 11 – Dificuldades [figurado]; Contos.

VERTICAIS: 1 – Cordel que prende os testicos da serra manual; Porta. 2 – Fase crítica; Fecundas. 3 – Bar; Bago; Queixas. 4 – Unidade de peso que, na China, tem valor monetário; Liga; Único. 5 – Coisas velhas e inúteis. 6 – Escute; Vaga. 7 – Descompostura [figurado]. 8 – Aqueles; Abundância [figurado]; Suporta. 9 – Segura; Advérbio que exprime ambiguidade [coloquial]; Entusiasmo [figurado]. 10 – Pessoa trabalhadora e previdente [figurado]; Navio. 11 – Cadeira pontifícia; Feridas.


Clique Aqui para abrir e imprimir o PDF.


Aceito respostas até dia 25 de Maio, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?