Estão a decorrer, na cidade de Londres, os Jogos Olímpicos 2012. Dentro de dias, irá correr-se a maratona, prova em que Portugal já ganhou uma medalha de ouro, através do nosso grande campeão Carlos Lopes.
Um outro português, Francisco Lázaro, conquistou igualmente nesta prova, a imortalidade, tanto ou mais perene que a alcançada por Carlos Lopes.
Um outro português, Francisco Lázaro, conquistou igualmente nesta prova, a imortalidade, tanto ou mais perene que a alcançada por Carlos Lopes.
Francisco Lázaro fez parte da primeira equipa olímpica portuguesa nos Jogos Olímpicos de 1912, em Estocolmo, na Suécia, onde participou na prova da maratona. Francisco Lázaro desfaleceu durante a prova e veio a morrer poucas horas depois. Tal infeliz desenlace aconteceu no dia 14 de Julho de 1912. Assinalaram-se, portanto, há poucos dias, 100 anos sobre o seu falecimento.
Lázaro, como vem nos dicionários, é sinónimo de “pessoa desastrada”, “pessoa pouco habilidosa”. Terrível presságio. Contrariando colegas da comitiva olímpica, Francisco Lázaro correu a maratona besuntado de sebo, para contrariar, supostamente, a perda de líquidos. Foi fatal. Ao km 29, Lázaro cambaleou, caiu por várias vezes, e por várias vezes se levantou para continuar a prova, até que caiu para não mais se levantar. Com os poros da pele tapados, a transpiração cutânea era impossível. A causa da morte foi uma desidratação irreversível.
A sua aventura conta-se no romance Cemitério de Pianos, do escritor José Luís Peixoto, que recuperou, magnificamente, para as páginas da literatura portuguesa, a corrida louca do maratonista.
A personagem central do romance chama-se Francisco Lázaro. À medida que percorre as ruas de Estocolmo, Lázaro evoca o seu quotidiano na carpintaria (era carpinteiro de uma fábrica de carroçarias de automóveis no Bairro Alto em Lisboa), a vida com a mulher, Marta, os pais, o bairro de Benfica onde treinava. Ao quilómetro 28, “o céu desfaz-se sobre Estocolmo”. Lázaro sente os braços mais leves, “porque deixam de existir”. Cai, mas levanta-se. “As sapatilhas assentam tortas sobre a estrada”. Até que cai, mas já não se levanta.
O romance de José Luís Peixoto é denso, mas, ao mesmo tempo, ágil e envolvente. Já li e recomendo. Um livro rigorosamente a não perder!