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terça-feira, 26 de novembro de 2019

Devaneios cruzadísticos │Frei Agostinho da Cruz

"Ponte da Barca" é o nome da localidade portuguesa,  pedido com a resolução do passatempo referente ao mês de Novembro de 2019.

Aqui nasceu em 3 de Maio de 1540 Agostinho Pimenta que mais tarde, ao ingressar na Ordem Franciscana, tomou o nome de Frei Agostinho da Cruz, e que foi também poeta.

Sobre ele escreveu Teixeira de Pascoaes, «Camões é o poeta que eu mais admiro. Frei Agostinho é o poeta que eu mais amo: o poeta mais sincero e lusíada que Deus abençoou


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Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Elvira Silva; Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Julieta; Juse; Madobar; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

Premiado: Caba (Sintra)
Prémio Porto Editora

Até ao próximo!

sábado, 23 de novembro de 2019

Sem ti

E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.

Só nas mãos
ouço a música das tuas.

Eugénio de Andrade, in "Coração do dia"


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Frei Bartolomeu dos Mártires

A canonização de Frei Bartolomeu dos Mártires, da Ordem dos Pregadores (1514-1590), constitui um motivo especial de júbilo e de reflexão, sobre uma das mais significativas figuras da Igreja portuguesa, com influência além-fronteiras.

O seu grande biógrafo, Frei Luís do Sousa, dá-nos um testemunho notável sobre as qualidades do Arcebispo de Braga, amigo do S. Carlos Borromeo, interveniente activo e crítico no Concílio de Trento e autor de reflexões actualíssimas sobre as reformas necessárias no seio da Igreja Católica.

Um dos aspectos mais relevantes teve a ver com a formação teológica dos cristãos, que levou a uma acção muito importante junto dos seus diocesanos, em especial no tocante aos jovens. E o Papa Francisco, ao apontar este Arcebispo de Braga como um modelo para o momento presente, faz questão em pôr a técnica na coragem reformadora e na proximidade do povo de Deus. 

Conta, a este último propósito, o célebre biografo do Santo que um dia: “ofereceu-se-1he a vista, não longe do caminho, posto sobre um penedo alto e descoberto, ao vento e à chuva, um menino pobre e bem mal reparado de roupa, que vigiava umas ovelhinhas que, ao longe, andavam pastando. Notou o arcebispo a estância, o tempo, a idade, o vestido, a paciência do pobrezinho; e viu juntamente que, ao pé do penedo, se abria uma lapa que podia ser bastante abrigo para o tempo. Movido de piedade, parou, chamou-o e disse-1he que descesse abaixo, para a lapa, e fugisse da chuva, pois não tinha roupa bastante para esperar”... No entanto, o pequeno pastor disse não poder seguir o conselho do bispo, porque se se afastasse donde estava deixava o rebanho em perigo, sob a ameaça das raposas, que poderiam matar os cordeiros. O arcebispo insistiu, mas o jovem invocou o argumento de que, em casa, o pai fora claro e veemente em pedir-1he que guardasse bem as ovelhas sem dcsatenções. “Eu vigio o gado, ele me vigia a mim; mais vale sofrer a chuva”. 

E Frei Bartolomeu registou bem a lição, comentando para quem o acompanhava: “Este esfarrapadinho ensina-me a ser arcebispo. Este me avisa que não deixe de acudir e visitar minhas ovelhas, por mais tempestades que fulmine o Céu”. Ciente da importância desta lição, o Papa Francisco fez questão de salientar a necessária proximidade dos fiéis, tal qual o Bom Pastor, como marca do exemplo e da experiência.

Numa intervenção no Concilio de Trento, em 1562, Frei Bartolomeu exprimiu a opinião de que se tornava urgente urna reforma do estilo e da Vida dos Cardeais. A sua frase “os ilustríssimos e reverendíssimos Cardeais hão mister de uma ilustríssima e reverendíssima reforma” ficou célebre, foi muito repetida e mantém-se actual. Com esta expressão, Frei Luís de Sousa deu ênfase à orientação do Arcebispo no sentido de fazer do exemplo uma acção que permitisse “emendar o mundo, começando por emendar a Igreja”. E assim defendeu a necessidade de um tempo de graça e de renovação. 

Uma das muitas outras histórias que se conta de Frei Bartolomeu dos Mártires tem a ver com os padres do Barroso, sobre os quais, o Arcebispo vivia preocupado com a sua frágil formação, desamparo e com a necessidade de serem acompanhados nas suas dificuldades concretas, à semelhança de questões actuais recentemente levantadas no Sínodo da Amazónia, afirmando designadamente: “a castidade não é da essência do estado sacerdotal, mas de conveniência”.

Bartolomeu Fernandes, nascido em Lisboa e batizado na freguesia dos Mártires, daí o sobrenome porque ficou conhecido, foi celebrado em Vida, pela qualidade da sua reflexão teológica e pela acção pastoral, como “arcebispo santo” e “pai dos pobres e doentes” - o que levou o Bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro, a falar de um “perfil de bispo ideal”. Para o dominicano, bispos e clérigos eram apenas administradores dos bens da Igreja, que estavam destinados a evangelizar e a socorrer os pobres. E Frei Bartolorneu dava o exemplo; a austeridade de vida era a sua regra, a ponto de outros colegas lhe pedirem, sem sucesso, que refreasse o seu rigor.

Em casa ele era o estranho, o menos importante, e os pobres os verdadeiros e naturais senhores. Nem sempre foi compreendido, designadamente na sua crítica aos métodos inquisitoriais, em relação aos cristãos-novos, antecipando muitas das ideias do Padre António Vieira, apresentando uma perspectiva pioneira de salvaguarda do respeito mútuo baseado na dignidade da pessoa humana.

No momento da canonização de S. Bartolomeu dos Mártires, merece ainda referência Frei Raul Rolo (1922-2004), que se empenhou activamente para que se conhecesse melhor a vida e o exemplo do novo santo, de modo a que não continuasse esquecido, apesar das suas excepcionais qualidades. A coragem e a determinação do Papa Francisco merecem nosso reconhecimento. Trata-se de um apelo sério em nome do exigente exemplo do grande prelado português.

Guilherme d´Oliveira Martins,  "A Voz da Verdade", de 16 de Novembro de 2019

terça-feira, 19 de novembro de 2019

José Mário Branco partiu

JOSÉ MÁRIO Monteiro Guedes BRANCO (Porto, 25 de Maio de 1942 — Lisboa, 19 de Novembro de 2019), compositor e cantor português. 


MARIAZINHA

Mariazinha, deita os olhos pró mar
Pela tardinha, quando a noite espreitar
E no verde das águas sem fundo
Já se perde da esperança do mundo, a afundar, a afundar

Mariazinha, deita os olhos pró mar
Tão pequenina, sem saber que pensar
Vê a roda do mundo girando
E os navios ao longe passando, sem parar, sem parar

Mariazinha, deita os olhos pró mar
Tão quietinha, a chorar, a chorar
Uma fonte de sangue no peito
Uma sombra na boca e um trejeito no olhar, sem parar

Mariazinha, deita os olhos pró mar
Tão caladinha, a chamar, a chamar
Vai pro fundo da noite fria
Numa barca de rendas, vazia, a afundar, sem parar

Mariazinha, com rendas de algas tapada
Tão quietinha
No fundo do mar pousada

música, letra e voz de José Mário Branco

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

A blblioteca do poeta Manuel António Pina

Manuel António Pina (Sabugal, 18 de Novembro de 1943 — Porto, 19 de Outubro de 2012), jornalista, escritor e poeta português.

Na  Biblioteca

O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,

quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,

em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,

as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.

Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.

Manuel António Pina, in "Todas as Palavras, Poesia Reunida", Assírio & Alvim, 2012, p. 181.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Sabe quem é que criou o Dicionário Priberam?

Sabe quem é que criou o Dicionário Priberam? Eu confesso não fazia a mínima ideia.

Pois, tudo começou nos anos 90 com 3 amigos engenheiros eletrotécnicos que inventaram um corrector ortográfico. Depois veio o dicionário e muitos outros softwares que usamos todos os dias.

É engraçado como tantas vezes nos esquecemos que existem pessoas por detrás das ferramentas que repetidamente usamos. 

Nesta descrição ficou a faltar e etimologia da palavra.“Pri” refere-se a João Prieto, “ber” a João Bernardo e “am” a Carlos Amaral.

Foram estes três amigos — e antigos colegas do curso de Engenharia Eletrotécnica, do Instituto Superior Técnico — que fundaram a empresa e, posteriormente, criaram o dicionário que tantos de nós consultam diariamente. Tinham 26 anos quando tudo começou. Já estavam formados e empregados no Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Investigação e Desenvolvimento em Lisboa quando lhes foi lançado um desafio: desenvolverem um acordo ortográfico.

Uma surpresa!

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

O caminho de Sophia

Lembrando Sophia

Vais pela estrada que é de terra amarela e quase sem nenhuma sombra. As cigarras cantarão o silêncio de bronze. À tua direita irá primeiro um muro caiado que desenha a curva da estrada. Depois encontrarás as figueiras transparentes e enroladas; mas os seus ramos não dão nenhuma sombra. E assim irás sempre em frente com a pesada mão do Sol pousada nos teus ombros, mas conduzida por uma luz levíssima e fresca. Até chegares às muralhas antigas da cidade que estão em ruínas. Passa debaixo da porta e vai pelas pequenas ruas estreitas, direitas e brancas, até encontrares em frente do mar uma grande praça quadrada e clara que tem no centro uma estátua. Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma alta parede amarela. Aí deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o visível se vê até ao fim. E olha bem o branco, o puro branco, o branco de cal onde a luz cai a direito. Também ali entre a cidade e a água não encontrarás nenhuma sombra; abriga-te por isso no sopro corrido e fresco do mar. Entra no mercado e vira à tua direita e ao terceiro homem que encontrares em frente da terceira banca de pedra compra peixes. Os peixes são azuis e brilhantes e escuros com malhas pretas. E o homem há-de pedir-te que vejas como as suas guelras são encarnadas e que vejas bem como o seu azul é profundo e como eles cheiram realmente, realmente a mar. Depois verás peixes pretos e vermelhos e cor de rosa e cor de prata. E verás os polvos cor de pedra e as conchas, os búzios e as espadas do mar. E a luz se tornará líquida e o próprio ar salgado e um caranguejo irá correndo sobre uma mesa de pedra. À tua direita então verás uma escada: sobe depressa mas sem tocar no velho cego que desce devagar. E ao cimo da escada está uma mulher de meia idade com rugas finas e leves na cara. E tem ao pescoço uma medalha de ouro com o retrato do filho que morreu. Pede-lhe que te dê um ramo de louro, um ramo de orégãos, um ramo de salsa e um ramo de hortelã. Mais adiante compra figos pretos: mas os figos não são pretos mas azuis e dentro são cor de rosa e de todos eles corre uma lágrima de mel. Depois vai de vendedor em vendedor e enche os teus cestos de frutos, hortaliças, ervas, orvalhos e limões. Depois desce a escada, sai do mercado e caminha para o centro da cidade. Agora aí verás que ao longo das paredes nasceu uma serpente de sombra azul, estreita e comprida. Caminha rente às casas. Num dos teus ombros pousará a mão da sombra, no outro a mão do Sol. Caminha até encontrares uma igreja alta e quadrada. 

Lá dentro ficarás ajoelhada na penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos. Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível. 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto, 1962