No dia 7 deste mês, teve lugar na Casa Fernando Pessoa uma conferência sobre “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, apresentada por Vasco Graça Moura, no âmbito do ciclo de conferências denominado “Livros Difíceis”.
Vasco Graça Moura fez uma exposição essencialmente académica. Portanto, nada a dizer.
Vasco Graça Moura considera Camões o maior vulto de toda a história portuguesa, por ter sido o fundador da língua portuguesa moderna. Logo, só há que respeitar.
A exposição foi totalmente consensual? Quase. No final, só duas questões, mas apenas a primeira é merecedora aqui da nossa atenção. Alguém colocou a seguinte questão: «Fernando Pessoa foi mesmo um anti-camoniano?» Argumentou o ouvinte ser arriscado afirmar que FP não foi um apreciador da obra de Camões, pois, como ele próprio afirmara, o poeta era um fingidor e, assim, o que ele dissera não seria para levar a sério.
VGM iniciara a sua exposição dizendo, justamente, que não deixava de ser irónico falar de “Os Lusíadas”, na casa de alguém que não apreciava Camões e que ele próprio se achava um super-Camões.
O orador teve, então, oportunidade para fundamentar o seu ponto de vista, apresentando, em sua defesa, os factos:
1. Fernando Pessoa escreveu, em 1934, um texto acerca de Camões, desvalorizando a sua obra;
2. No dia 7 de Abril de 1914, respondendo a um inquérito sobre «qual é o mais belo livro português dos últimos trinta anos?» para o jornal «República», Fernando Pessoa considerou a “Pátria” de Guerra Junqueiro como sua eleição, colocando-a mesmo à frente de “Os Lusíadas;
3. Fernando Pessoa não dedicou no seu livro “Mensagem” qualquer poema de exaltação a Camões, como o fez com tantas figuras da História de Portugal.
Tendo a concordar com VGM. Fernando Pessoa não apreciou de sobremaneira a obra de Camões, mas, nesse aspecto, como se sabe, não esteve isolado.
Há, na verdade, há alguns aspectos da obra que poderão ser discutidos (corresponde a narrativa camoniana ao modo realista e existencial, vivido pelos portugueses na sua peregrinação pelo mundo?), mas não são suficientes para deixar de considerar “Os Lusíadas” a epopeia portuguesa por excelência.