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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Palavras cruzadas com história

Hoje, dia 1 de Março, passam 19 anos sobre a morte do escritor português Vergílio Ferreira. No dia 1 de Março de 1996, a meio da tarde, morreu em Lisboa, no seu escritório, a escrever "Cartas a Sandra". Ele que um dia dissera: “Já prometi que entraria no Paraíso a escrever. E vou cumprir".

Foi sepultado em Melo, Gouveia, sua aldeia natal, "virado para a serra”, como sempre desejou.

Sem missa, e apenas com o elogio fúnebre de Manuel Leitão - um antigo companheiro de seminário - o esquife do escritor não foi colocado em nenhum dos mausoléus de família que enchem o pequeno cemitério de Melo, localizado no sopé das encostas da Serra da Estrela, mas desceu a uma campa rasa como um simples aldeão.

Na sua alocução, o pároco da aldeia recuou a 26 de Outubro de 1925, altura em que ambos entraram no seminário do Fundão, «Era um aluno exemplar. Estudámos seis anos juntos. mas quando chegámos ao primeiro ano de Teologia, Vergílio Ferreira reconheceu que não tinha vocação para o sacerdócio. Dele guardo muitas confidências no santuário do meu coração que nunca revelei nem revelarei» (in Jornal de Notícias, 3 de Março de 1996).

Embora formado como professor, Vergílio Ferreira foi como escritor que mais se distinguiu. O seu nome continua actualmente associado à Literatura, através da atribuição do Prémio Vergílio Ferreira. 

Em 1991, no dia 9 de Outubro, recebeu em Bruxelas, o Prémio Europália de Literatura. «Da minha língua vê-se o mar» - uma bela síntese que fez da nossa Cultura (Literária), durante o discurso que proferiu na cerimónia da entrega do Prémio, no Palácio das Academias.

Em 1992, foi galardoado com o prestigiado Prémio Camões.

A sua vasta obra, geralmente dividida em ficção (romance e conto), ensaio e diário, costuma ser agrupada em dois períodos literários: o Neo-Realismo e o Existencialismo.

O desafio deste mês é resolver este passatempo de Palavras-Cruzadas e, no final, descobrir o nome de um romance de Vergílio Ferreira (quatro palavras, todas na horizontal).


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HORIZONTAIS: 1 – Árida; Agressão. 2 – Além; Preposição que designa lugar; Bromo [símb. químico]. 3 – Título; Afastar. 4 – Abandonar; Invulgar. 5 – Continuais; Pus existente em certas úlceras; Responsável. 6 – Grande quantidade [fig.]; Fama [fig.]. 7 – Entrega; Capim [Angola]; Sopro. 8 – Indivíduo [Brasil]; Delicada. 9 – Fragâncias; Mulheres solteiras [coloq.]. 10 – Semelhante; Pátria. 11 – Seguras; Apologias.

VERTICAIS: 1 – Tolo; Guarda. 2 – Repitas; Bater. 3 – Desfrutei; Velhaca. 4 – Cegueira verbal; Estimar. 5 – Picante; Levanta. 6 – Anel; Chefe político, no Oriente. 7 – Possui; Corrigi. 8 – Paixão; Coligação. 9 – Fulmino; Dinheiro [fig.]. 10 – Abundante; Guarnecera de asas. 11 – Culpa; Ardências.

Clique Aqui para imprimir.

Aceito respostas até dia 20 de Março, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos decifradores. Divirtam-se!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

"São Paulo", de Amarante

Acabei hoje de ler São Paulo, de Teixeira de Pascoaes. Li devagar, pausadamente, como quem lê a Bíblia.

As personagens bíblicos são sempre temas sensíveis, sobretudo quando o objectivo é explorá-las literariamente. Todavia, Pascoaes não teve receio de arriscar e, através deste livro, deixou-nos uma biografia singular do arauto do Cristianismo: São Paulo. Homem complexo, Paulo converteu-se num dos maiores crentes das palavras de um outro homem, Jesus de Nazaré.

Na estrada de Damasco, em plena caça ao cristão, a queda do cavalo e a luz imensa que o cegou por momentos deram origem a uma missão que poucos poderiam prosseguir. Dessa revelação, em que ecoaram perguntas fundamentais ("Paulo, Paulo... porque me persegues?"), surgiu um novo homem e uma nova esperança para a religião que grassava pelo Império Romano.

Depois de Paulo e das suas viagens pelos cantos mais recônditos de um Império que tentava reprimir as ideias de Jesus, o Cristianismo floresceu e espalhou-se pelo mapa. Pascoaes, à semelhança de outras biografias que constroem a sua obra (Napoleão, São Jerónimo, por exemplo), teve no seu "São Paulo" um ponto alto.

"São Paulo" foi publicado em 1934 e eu li pela 4ª (1984) - a última. Apenas 4 edições em 50 anos é muito pouco. E, todavia, este livro conheceu rapidamente um prestigio fantástico no estrangeiro, nos países nórdicos ou da Europa central. Em pouco tempo, as traduções multiplicaram-se, em alemão, dinamarquês, húngaro, checo. Estrangeiros vinham visitá-lo, com destaque para o seu grande amigo, o filósofo espanhol Miguel Unamumo, que escreveu um prefácio para esta edição.

Teixeira Pascoaes é um dos grandes escritores da Língua Portuguesa e, no entanto, injustamente esquecido (e isso é que mais dói) pelos seus próprios patrícios.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A poesia é que nos salva

Ontem, fui ao Teatro Aberto ver a peça "Amor e Informação", de Caryl Churchill. As personagens não têm nome; são antes uma série de vozes inominadas numa série de encontros que gravìtam em torno de uma preocupação central. 

A proposta é, justamente, serem os espectadores a tirarem as suas próprias conclusões sobre o significado das eventuais conexões e desconexões entre os diversos contextos.

Como num caleidoscópio ou num zapping de imagens, surgem mais de 100 personagens em mais de 50 peças curtas, criados por uma encenação frenética. Uma proposta teatral invulgar que investiga sempre de novos pontos de vista os múltiplos aspectos da nossa infinita necessidade de amor e de conhecimento.

Numa das peças finais, é criada uma situação que pretende recriar um vulgar concurso televisivo, onde são feitas perguntas aos concorrentes.

Nesta peça, com o título "Sábio", há um concorrente que responde acertadamente a tudo o que o lhe é perguntado. Num ritmo alucinante, sem nunca balbuciar. Até uma fórmula matemática complicadíssima, ele responde se engasgar um segundo sequer.

Até que lhe é atirada a seguinte pergunta: "Em que dia se deu a Batalha de Alfarrobeira"?". 

Não gritei, mas as pessoas à minha volta ouviram: Maio. É verdade, uma resposta incompleta, mas foi no mês de Maio.  Disso, eu não tinha a mínima dúvida. 

Lembrei-me do poema de António Gedeão, «Era Maio, e havia flores vermelhas e amarelas / nos campos de Alfarrobeira». A poesia é que nos salva.

Para que conste, a Batalha da Alfarrobeira foi no dia 20 de Maio de 1449. «Lá em baixo, na margem do ribeiro / estendido sobre a relva / jaz o infante. / Do seu coração ergue-se a haste de um virote / erecta como um junco, / e já nenhuma voz o acordará.».

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Palavras cruzadas com história - Manuel Alegre

"Irmãos humanos tão desamparados" é o primeiro verso do poema "Balada dos Aflitos", do poeta português Manuel Alegre, o verso que era pedido com a resolução do problema do passado dia 1.

O poema "Balada dos Aflitos" reza assim:

Irmãos humanos tão desamparados
a luz que nos guiava já não guia
somos pessoas - dizeis - e não mercados
este por certo não é tempo de poesia
gostaria de vos dar outros recados
com pão e vinho e menos mais valia.

Irmãos meus que passais um mau bocado
e não tendes sequer a fantasia
de sonhar outro tempo e outro lado
como António digo adeus a Alexandria
desconcerto do mundo tão mudado
tão diferente daquilo que se queria.

Talvez Deus esteja a ser crucificado
neste reino onde tudo se avalia
irmãos meus sem valor acrescentado
rogai por nós Senhora da Agonia
irmãos meus a quem tudo é recusado
talvez o poema traga um novo dia.

Rogai por nós Senhora dos Aflitos
em cada dia em terra naufragados
mão invisível nos tem aqui proscritos
em nós mesmos perdidos e cercados
venham por nós os versos nunca escritos
irmãos humanos que não sois mercados.

Manuel Alegre, in “ Nada está escrito” - 2012


E a solução completa do passatempo é esta:


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Recebi respostas de: Aleme, Anjerod, António Amaro, Antoques, Arnaldo Sarmento, Bábita Marçal, Baby, Caba, Carlos Costeira, El-Nunes, Elvira Silva, Horácio, Jani, João Alberto, João Rodrigues, Joaquim Pombo, José Bernardo, Mafirevi, Magno, Manuel Carrancha, Manuel Ramos, Mister Miguel, Olidino, Osair Kiesling, Raquel Atalaya, Ricardo Campos, Russo, Salete Saraiva e Virgílio Atalaya. 

Um agradecimento muito especial à minha amiga Bábita Marçal, que deu a sugestão do homenageado do mês,  assim como escolheu o verso a descobrir.

A todos agradeço. Até breve!