Os Relvas. Quatro gerações. Um século. 1820-1920. A 1ª Geração começou com José Farinha de Relvas de Campos, José Relvas (1791-1865), que veio da Sertã, dum lugarejo conhecido por Relvas, para a Golegã. Nasceu em 1791. Agricultor, trabalhador e inteligente. Comprou muitos dos bens que os fidalgos arruinados venderam a seguir à Revolução de 1820. Procurou modernizar a agricultura, introduzindo maquinaria mais moderna, como tractores. Construiu um grande edifício no centro da vila da Golegã, onde mais tarde se elevará o edifício da Câmara Municipal da Golegã. Morreu em 1865.
2ª Geração. "Sucedeu-lhe” o filho Carlos Relvas (1838-1894), que teve 3 filhos: Francisco, que morreu num acidente de viação; Clementina, que morreu louca; e José Relvas, o conhecido republicano. Carlos Relvas casou muito cedo e com 19 anos já tinha aqueles 3 filhos. Com 14 anos o Rei D. Luís fê-lo Cavaleiro da Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Foi um amante da fotografia e deixou um excelente atelier fotográfico. A história da filha Clementina é dramática. Apaixonou-se, quando jovem, pelo célebre Costa, tipo boçal, campino, latagão. O Pai Carlos, quando soube, tratou-lhe da saúde. Anos mais tarde (50 anos depois), nas obras para a Câmara, apareceu entalado numa parede! Enterrado vivo! A Clementina, quando ele desaparece, veio para Lisboa à procura dele. Enlouqueceu e terminou os seus dias a pedir esmola pelas ruas de Lisboa. Pensava que era pobre quando era rica! Carlos Relvas era tudo, campino, pegador de touros…e, politicamente, era um autêntico cacique. O filho José Relvas estudou em Lisboa, em Letras. Teve como professor Teófilo Braga, Adolfo Rocha e outros…Zangou-se com o pai. Carlos Relvas morreu em 1894.
3ª Geração. José Relvas (1858-1929) herdou, com a irmã, uma fortuna razoável. Mandou construir uma grande casa em Alpiarça, encarregando, para o efeito, o arquitecto Raul Lino. Este fez uma casa à portuguesa, como ele sabia. Figura de proa na República em 5/10/1910. Teófilo Braga, chefe do 1º Governo Provisório, chamou-o para Ministro das Finanças, onde não esteve muito tempo. Não tinha muito jeito para a Politica. Foi para Madrid, como embaixador, onde fez um bom trabalho. José Relvas voltou à sua casa em Alpiarça, onde se dedicou a coleccionar arte e ao seu filho Carlos.
4ª Geração. Carlos Relvas. Este tinha grande vocação para a música. Especialista em Lizte. Uma carreira internacional. Com 35 anos, ainda sem casar, os pais pressionavam muito para casar. Tanto que lhe arranjaram uma senhora. No dia em que pediu a senhora em casamento, Carlos resolveu pôr fim à vida.
O pai, cheio de remorsos, mandou encerrar o quarto e o piano nunca mais tocou uma nota. Vida dilacerante. Columbano fez um quadro que não sai da sala que era o local de trabalho dele. Assim ficou escrito no Testamento. O casal não aguentou e passou a viver separado. Um em cada ponta do palácio. Por testamento, José Relvas deixou o usufruto à viúva e a nua-propriedade de toda a sua fortuna ao povo de Alpiarça. para a futura Fundação que incluirá todo o espólio da colecção de arte. Porém, antes, houve uma disputa nos Tribunais. Quando se abriu o testamento, apareceu o feitor com um rol de dívidas. O Tribunal anulou essas dividas e o espólio reverteu para a Câmara.
Quatro gerações: José Farinha Relvas (trabalhador, empreendedor, gerador de riqueza com a Regeneração); Carlos Relvas (ilusão da riqueza, decadência do regime monárquico); José Relvas (a nova esperança na República) e Carlos Relvas (a carreira frustrada). 4 gerações, um percurso acidentado, um espelho do tempo vivido depois do triunfo do Liberalismo em Portugal.
Carlos Relvas (1º) teve outra filha, Margarida, que deixou descendência. Eu sou um dos seus trinetos.
ResponderEliminarCaro David, muito agradeço o comentário. A minha fonte, para afirmar que Carlos Relvas teve 3 filhos (José, Francisco e Clementina), foi um programa do Prof. José Hermano Saraiva, de que junto o respectivo link. Dele consta um retrato de Carlos Relvas, a mulher Margarida e os 3 filhos. Também num “Visita Guiada” da Paula Pinheiro, consta o citado retrato, este com o nome dos 3 filhos. Junto também link deste programa.
ResponderEliminarEstive a rever estes 2 programas, a figura de Carlos Relvas interessa-me muito, gostaria de saber muito mais. Estou neste momento a reler “Barranco de Cegos”, sendo a minha “tese” que Alves Redol se terá inspirado nesta família “Relvas” sendo que a personagem principal do romance, Diogo Relvas, é justamente Carlos Relvas. Curiosamente, no romance (Alves Redol constrói uma extraordinária narrativa ficcionada), Diogo/Carlos tem 4 filhos (Emília Adelaide, Miguel João, António Lúcio, Maria do Pilar).
Meu amigo, essa Margarida de que fala, é filha do primeiro casamento ou, porventura, será do segundo casamento? Por favor, fale-me desta Margarida.
https://www.youtube.com/watch?v=Q_z-1WGf7Yw
https://www.youtube.com/watch?v=4oWWijADLAU
Caro Joaquim Boavida, a quarta filha de Carlos Relvas chamava-se Margarida Augusta de Azevedo Relvas. Foi a mais nova de 5 irmãos: Francisco (n. 1856), Maria Clementina (1857), José (1858), Maria Liberata (n. 1864 e morreu com 10 meses) e Margarida (1867). Era filha do primeiro casamento. Do 2º não houve filhos, mas a 2ª mulher tinha uma filha do 1º casamento dela. Foi esta filha - enteada de Carlos Relvas - que herdou o estúdio da Golegã e o veio a doar à câmara. Margarida Augusta casou com Alberto de Campos Navarro e teve três filhas: Margarida de Jesus, Maria Liberata e Maria Clementina. A primeira e a terceira casaram e têm descendência. Aproveito para avisar que a narrativa de José Hermano Saraiva é tão romanceada como a de Alves Redol. O trágico romance de Maria Clementina Relvas (não confundir com Maria Clementina Navarro), incluindo o esqueleto emparedado, é uma ficção inspirada no livro de Alves Redol e que José Hermano Saraiva achou mais interessante que a realidade ("Never let facts get in the way of a good story"). Muitos cumprimentos António Luiz Gomes
ResponderEliminarCaro António Luiz Gomes, muito lhe agradeço o comentário, ele é inatacável do ponto de vista dos factos. Do que venho lendo, desde a minha publicação de 13 de Fevereiro de 2015 e, ainda, a partir da minha visita, no inicio deste ano, à Casa dos Patudos e à Casa-Museu Carlos Relvas, nada a opor ao retrato familiar que aqui nos apresenta. Muito obrigado. Melhores cumprimentos. Joaquim Boavida
ResponderEliminarFrancisco aparece morto por um tiro e com a espingarda junto a ele,perto da Quinta da Cardiga,em 18 de Janeiro de 1876,ele é de Viseu terra da mãe dele,tem vinte anos de idade,é filho de Carlos Relvas.
ResponderEliminarExiste o registo do casamento de Maria Clementina,que penso para tentarem remediar a situação com o Costa,a qual não resolveu nada,e terminou como se sabe.Mas que tentaram tentaram!
ResponderEliminarMuito lhe agradeço, meu caro amigo, o comentário.
EliminarHá uns anos, fiz um trabalho de investigação sobre a vida de Clementina Relvas, o qual foi publicado na Revista Nova Augusta, de 2013, da Câmara Municipal de Torres Novas.
ResponderEliminarConsultei muitos documentos, incluindo correspondência de Clementina com a família (arquivo Casa dos Patudos) e os processos dos seus dois divórcios, porque foi casada duas vezes, e nunca foi louca. Tenho uma notícia de jornal (Diário de Lisboa) que a considera "das figuras mais interessantes e brilhantes da aristocracia portuguesa". O professor Hermano Saraiva foi atrás do que se contava e não fez investigação. Manuela Poitout
Muito lhe agradeço, Manuela Poitout, o comentário pertinente que aqui deixou e que vem contribuir para o melhor conhecimento da família “Relvas”. Gostaria muito conhecer o trabalho que refere. Haverá maneira de eu ter acesso ao mesmo?
EliminarPode contactar a Biblioteca Municipal de Torres Novas, que tem lá as revistas à venda.
EliminarÉ a revista n.º 25, de 2013.
EliminarCara Manuela Poitout, telefonei para a BMTN que simpaticamente me informaram que a Revista está digitalizada e complementarmente me deram as devidas indicações para a ela aceder. Foi fácil e já tenho na minha posse o artigo em causa. Já vi que tratou o assunto em profundidade e vou ler com muita atenção. Fico-lhe muito grata.
EliminarAgradeço que me comunique as suas impressões. Agora, que leio o artigo à distância de 7 anos, acho que em algumas matérias me alonguei um pouco, ou em certas detalhes, tornando talvez o texto um pouco fastidioso. Mas fiz o trabalho com toda a seriedade, andei semanas a caminho da Casa dos Patudos, cujo director me criou as melhores condições para ler a correspondência de Clementina para a família. Fui à Torre do Tombo consultar os processos, às conservatórias da Golegã e Torres Novas.
ResponderEliminarPassados estes anos, encontrei mais notícias sobre Clementina, e estou a pensar escrever um pequeno texto, que será como um aditamento a esse.
Já acabei a leitura do seu excelente trabalho, que merece um grande elogio. Impressionou-me o desprezo do pai (Carlos Relvas) o cansaço por fim do irmão José Relvas, o ostracismo da restante família, os dois fracassados casamentos, assim como, pelos vistos, outros relacionamentos amorososos e, ainda, a forma como delapidou todo o seu património.
EliminarImpressiona, conforme vem referido no seu trabalho, que alguém «que nasceu em berço de ouro e chegou ao fim do caminho sem nada». Ou, como escreveu o juiz Holbeche, «literalmente a pedir esmola».
Gostaria de lhe pedir autorização para, caso eu volte ao tema aqui no “AlegriaBreve”, eu poder citar o seu trabalho.
Por fim, mais um pedido: caso venha a escrever um novo texto a partir das mais notícias que tem sobre a Clementina (esta figura apesar de tudo tão interessante), gostaria muito de ler.
Devis pensar escrever um livro
EliminarMuito obrigada pelas suas palavras. Pode citar o trabalho, uma vez que o que mais se conhece são as histórias do professor Hermano Saraiva, que, como viu, são mais baseadas na fantasia lendária, e nem sempre correspondem à realidade. Contudo, há um aspeto que eu pus em dúvida nesse trabalho, e agora confirmei com novos achados de notícias. Clementina, pouco antes da sua morte, vivia da caridade pública, é verdade, um anúncio foi posto num jornal, a pedir que a auxiliassem, embora não mencionando o nome, o que foi feito mais tarde, quando ela morreu. Uma história de vida e morte interessantíssima.
ResponderEliminarMuito lhe agradeço a atenção. Aconteceu comigo que, com ou sem a fantasia do professor Hermano Saraiva, foi ele que me fez regressar, alguns anos depois, à 2 leitura de "Barrancos de Cegos", de Alves Redol, por verificar existirem algumas coincidências. Não tenho dúvidas que o escritor Alves Redol se inspirou na história da família "Relvas", em particular em Carlos Relvas. Discordo completamente dele em relação à caracterização do personagem principal Diogo Relvas. Carlos Relvas (Diogo Relvas no romance) foi muito mais do que um cacique local, tendo em conta todas as actividades em que ele se distinguiu, como, aliás, a minha amiga bem enumera no seu excelente trabalho. E, todavia, considero "Barranco de Cegos" um grande livro, o melhor para mim deste autor.
ResponderEliminarFico a aguardar o novo texto com as novas notícias que entretanto conseguiu.
Se o trabalho, que ainda não está concluído, pois ainda estou a fazer pesquisa,for publicado na revista Nova Augusta, ela só será editada lá para outubro ou novembro.
ResponderEliminarQuanto ao Barranco de cegos, tem razão, um grande livro. Redol conhecia bem a Golegã.