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terça-feira, 21 de março de 2017

Devaneios Cruzadísticos l Raul Brandão

"O Gebo e a Sombra" é o nome do título de um livro do escritor português Raul Brandão (12 de Março de 1867 - 5 de Dezembro de 1930), pedido com a resolução do passatempo do mês de Março de 2017.


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Respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita; Baby; Caba; Corsário; Dupla Algravia (Anjerod e Mister Miguel); El-Nunes; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Alberto Bentes; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Lurdes Polido; Mafirevi; Magno; Magriço; Manuel Amaro, Manuel Carrancha; Olidino; Osair Kiesling; Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva e Virgílio Atalaya.

Até breve!

segunda-feira, 20 de março de 2017

Bem-vinda Primavera|


Claude Monet, "Champs au Printemps", 1887, óleo sobre tela, 93x74 cm, Staatsgalerie, Estugarda, Alemanha.


Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro l Poemas Inconjuntos

domingo, 12 de março de 2017

Entre a espada e a azagaia


Não, não me enganei no título. Eu quero assim, lá para a frente explico a razão da minha escolha.

É verdade, acabei de ler “A Espada e a Azagaia”, de Mia Couto, o segundo livro da Trilogia “As Areias do Imperador”. Antes, havia lido o primeiro volume, “Mulheres de Cinza”. O terceiro virá, talvez, para o ano. Apetece-me devanear (vocábulo caro a Mia Couto) um pouco à volta deste segundo livro.

A narrativa decorre de Julho a Dezembro de 1895, no Sul de Moçambique. No rescaldo da Conferência de Berlim, Portugal quer afirmar-se como potência dominadora de facto e quer, particularmente, normalizar a situação no Sul de Moçambique onde se “criara”, contra a sua vontade, o Estado de Gaza, onde imperava Gungunhana.


É oportuno recordar que a Conferência de Berlim decorreu entre o dia 15 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885, com o objectivo de organizar, por meio de regras, a ocupação do continente africano pelas potências coloniais. 

Portugal, que participou com outros países colonizadores, apresentou o projecto do célebre Mapa Cor-de-Rosa. É bom dizer que todos concordaram, mas, mais tarde, a Inglaterra (“Ó cínica Inglaterra, ó bêbeda impudente…”, nas palavras do poeta Guerra Junqueiro), surpreendeu os portugueses com o Ultimatum.

Se no primeiro volume “Mulheres de Cinza” só as cartas de Germano de Melo vinham intervalar a narração na 1ª pessoa, feita pela Imani, aqui surge a voz do tenente Ayres de Ornelas, criando uma verdadeira troca epistolar. Mia Couto criou um diálogo entre dois militares portugueses para mostrar que, do lado do colonizador, ocorriam visões diferentes e em claro conflito. 

Todavia, deve dizer-se que Imani, a jovem moçambicana que se apaixonou pelo sargento Germano de Melo, surge como a personagem narradora nuclear, como verdadeira protagonista do romance, relevando assim o tema da condição feminina, que é recorrente em Mia Couto.

A questão central da trilogia, nas próprias palavras do autor, é desmitificar a figura de Gungunhana, porque, segundo ele, houve exageros de apreciação, de parte a parte, quanto a essa figura: para os portugueses, importava valorizar o régulo vátua porque isso contribuía para enaltecer a vitória de Mouzinho de Albuquerque; para os nacionalistas moçambicanos, havia o interesse óbvio de criar um herói da resistência anticolonial.

Segundo diz Mia Couto, o Imperador teve um comportamento muito ambíguo em relação a Portugal, tinha pouca consistência moral e, não obstante, foi feito um herói moçambicano após a Independência. Quando o pai Muzila morreu, Gungunhana, não sendo herdeiro legítimo (posição que recaia sobre o meio-irmão Mafumane), eliminou, após lutas intestinas, o príncipe herdeiro e obrigou a fugir para o exílio os outros rivais.

Ainda na opinião do autor (a que conta para análise do livro), Moçambique fez de Gungunhana uma coisa que ele nunca foi e Portugal criou um Gungunhana maior do que era. No fim de vida era um infeliz e desgraçado sem poder. Um homem que teve mais de 300 mulheres e a única que amou foi assassinada pela sua corte. Para se vingar, inspirou-se no Rei D. Pedro I. Vuiaze! Bradaram em uníssono os todos os súbditos.

Reinava, mas era um homem acossado, desconfiado, “Confio mais no álcool que me é oferecido pelo meu inimigo do que nas bebidas que me servem os familiares”.

E, todavia, o livro pouco nos diz de Gungunhana, a sua ausência das páginas nos dois primeiros livros é ensurdecedora. É curioso verificar que, sendo Gungunhana o protagonista principal, como ele está tão ausente da narrativa. Segundo o autor, foi esse o seu propósito: por um lado, uma forma de lhe retirar importância histórica; por outro, um truque literário que garante ansiedade ao leitor.

Esta é uma história que está para além da História, das batalhas travadas entre os portugueses e as tropas de Gungunhana, até à prisão deste no dia 28 de Dezembro de 1895, às mãos do capitão Mouzinho de Albuquerque.

Mas esta é, sobretudo, a história dos que estão entre a espada e a azagaia.

Esta é a história da jovem moçambicana Imani Nsambe que se apaixona pelo sargento português Germano de Melo, os quais, em textos cruzados, vão revelando um ao outro o que há de humano no meio de uma guerra. 

Esta é a história do sargento Germano que deixou de ter corpo desde que chegou a África; que nem está num quartel mas numa cantina; que diz que sempre odiou a sua farda; que fez de uma velha espingarda uma cana de pesca. 

Esta é a história do Pe Rudolfo Fernandes que se esqueceu de Deus; que usa as folhas do missal para fazer cigarros; que nos garante uma coisa: "neste lugar, até Cristo teria desistido".

Esta é a história da italiana Bianca que deixou Lourenço Marques para um dia ver o capitão Mouzinho de Albuquerque, esse príncipe com quem ela tanto sonhava; ou será que veio para recuperar as dívidas do cantineiro Sardinha?; que procurava sobreviver nestas terras do fim do mundo porque a morte do filho havia sido como que o fim da sua vida. 

Esta é a história de Mwanatu, rapaz meio atontado mas dedicada sentinela do quartel (ou cantina?) de Nkokolani, que diz “eu sou um soldado português, não abandono a minha arma” e acaba morto pela arma de um militar português.

Esta é a história da gente que é arrancada das suas casas, das suas aldeias, transportada para sítios que não conhecem. Andam perdidos, sem identidade, indecisos entre fazer a guerra ou fazer a paz, sem saber a que Senhor servir, a que Lei obedecer. 

Todos, à excepção de um, que sabe sempre o que tem a fazer, que não vacila. É o capitão Mouzinho de Albuquerque, aquele a quem chmavam um anjo de fogo, aquele que parecia um deus em cima do seu cavalo branco.

 «Parar Mouzinho? Mais fácil parar o vento!»

quarta-feira, 1 de março de 2017

Devaneios cruzadísticos | Raul Brandão

Assinalam-se no próximo dia 12 os 150 anos do nascimento do escritor português Raul Brandão. Nasceu no dia 12 de Março de 1867 na Foz do Douro, Porto, veio a falecer a 5 de Dezembro de 1930, em Lisboa, cidade onde, aliás, viveu maior parte da sua vida.

Um grande escritor e, todavia esquecido ou, pelo menos, escondido. Uma boa ocasião para, este ano, o lembrar. Tem 23 anos quando entra no sec. XX. Adora sua mãe (que sonhava vê-lo garbosamente uniformizado), o que faz com que ele siga a carreira militar. Após uma breve passagem pelo Curso Superior de Letras, matriculou-se na Escola do Exército. Porém, não gostava nada de ser militar, ainda que promovido, sucessivamente, a alferes, tenente e capitão. Quando foi promovido a Major, pediu para sair. Achava aquilo uma farsa ridícula. Na tropa é “só fazer o servicinho”, escreveu ele. Já então, quando não estava no quartel, escrevia para o jornal “Correio da Manhã”. 

Republicano confesso. Nefelibata. Escrevia com imensa graça. Profundamente religioso, mas anti-clerical!  A sua comiseração pelos pobres domina toda a sua obra. Dá todo o seu coração, a sua vida aos pobres. Quando sai do exército, vai para uma quinta perto de Guimarães com a sua mulher, durante alguns anos. Ele ditava e ela, companheira fiel, escrevia. 

Uma escrita em 3 áreas:

Uma, as Memórias (3 livros). Leitura fascinante, obra documental de relevo. Dá-nos uma ideia daqueles tempos, dum período especial da nossa História, da passagem da Monarquia à República. Republicano convicto, dá-nos, porém, uma visão distorcida do regicídio. Descreve, de forma sublime, o enforcamento infame do general Gomes Freire de Andrade. "Felizmente, há luar", nas palavras de outro escritor...

Outra, a História. “El Rei Junot” é um livro, nada histórico (acto de contrição?) em que critica a falta de carácter dos que governavam Portugal. 

Outra, a mais notável, os Pobres. Livros como “Os Pobres”, e, ainda dentro desta temática, o mais conhecido, “Os Pescadores”. Faina do mar de toda a costa litoral (praticamente quase). Escreve ele, de forma emocionante sobre os pescadores de Sesimbra, a p. 148: […] Este homem é de instinto comunista. Se um adoece, os outros ganham-lhe o pão: recebe o seu quinhão inteiro. Se morre, sustentam-lhe a viúva e os filhos, entregando-lhe o ganho que ele tinha em vida. Dão ao hospital e ao asilo uma parte do pescado. Toda a gente tem direito a ir ao mar — toda a gente tem direito à vida. Vai quem aparece, desde que seja marítimo. Acontece que o barco leva hoje quarenta homens e leva vinte amanhã... O produto das artes é dividido em quinhões iguais pela companha. A pesca do anzol é uma espécie de cooperativa, e a barca quase sempre dos pescadores […]. 

Na sua obra há um apelo permanente e dramático: Os pobres. Em 1917, publicou aquela que é, na opinião de muitos, a sua mais bela obra - o romance "Húmus". Todavia, Raul Brandão é um escritor esquecido, lamentavelmente. Ele que influenciou, de forma evidente, a escrita de tantos outros escritores das gerações e das escolas literárias que à sua se seguiram.

Por isso, entendendo ser inteiramente justa esta pequena homenagem, convido os meus amigos a solucionar este passatempo de palavras-cruzadas e, no final, encontrar o título (5 palavras na horizontal) de um livro deste eminente português, que foi Raul Brandão (12/3/1867 – 5/12/1930).


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HORIZONTAIS: 1 – Dispara; Respeita. 2 – Crime; Bonança [figurado]. 3 – Prefixo, de origem grega, que exprime a ideia de sobre; Debilitei. 4 – Corcunda; Graúdo; O [arcaico]. 5 – Fim; Liga. 6 – Culpa. 7 – Empenho; Cheiro. 8 – Decifrei; Falda; Entrar na posse de (herança). 9 – Estimulo; Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de urina. 10 – Irrita; Trevas. 11 – Causara; Mulheres de mau génio [figurado].

VERTICAIS: 1 – Bebe de mais; Veloz. 2 – Torrão em forma de cunha empregado na construção de muralhas; Eficiente. 3 – Isento de culpa; Interjeição que exprime alegria. 4 – Graceja; Vazia; Sulcar. 5 – Uno; Mato. 6 – Avareza. 7 – Velho; Lista. 8 - Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de cão; Estima; Balido de ovelha. 9 – Altar cristão; Tempero. 10 – Mania; Interjeição que exprime raiva. 11 – Alberga por esmola; Presente de Natal.


Clique  Aqui  para imprimir.

Aceito respostas até dia 20 de Março, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes.

Amigos, vemo-nos em breve?