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domingo, 6 de outubro de 2013

O rei D. Sebastião, segundo o escultor Simões de Almeida

[…] lá está D. Sebastião no seu nicho da frontaria, rapazito mascarado para um carnaval que há-de vir, se não noutro sítio o puseram, mas aqui, então teremos de reexaminar a importância e os caminhos do sebastianismo, com o nevoeiro ou sem ele, é patente que o Desejado virá de comboio, sujeito a atrasos […]
José Saramago, em “O Ano da Morte de Ricardo Reis” ( p.64)

Saramago, num tom muito irónico, dá-nos aqui uma pequena nota sobre o Sebastianismo, através dos olhos de Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa. 

O ano da Morte de Ricardo Reis” é um romance extraordinário. José Saramago dá vida ao heterónimo Ricardo Reis e fá-lo interagir com Fernando Pessoa, já morto. 

Ricardo Reis chega a Lisboa, vindo do Brasil, após ter ali recebido a notícia da morte do poeta Fernando Pessoa. No último dia do ano de 1935, Ricardo Reis, durante um passeio, à noite, pela Baixa de Lisboa, passa à frente da Estação do Rossio e olha aquele “rapazito mascarado para um carnaval que há-se vir…”.

Sendo Fernando Pessoa um dos mais ilustres, senão o mais ilustre intérprete do mito Sebastiânico do V Império, o nosso Ricardo Reis, pela mão do Saramago, bem podia ir um bocadinho mais longe. 

Como é sabido, a Estação do Rossio foi construída no estilo Neo-Manuelino, não faltando as cordas dos navios e as esferas armilares. Por isso, há quem defenda que a Estação do Rossio tem omnipresente o mito Sebastiânico e a Ideia do V Império. Na opinião de alguns, e embora passando provavelmente despercebido à maioria das pessoas, "as portas da Estação estão desenhadas em forma de ferradura, aludindo ao cavalo Branco de D. Sebastião a galope do qual ele regressará numa manhã de nevoeiro para reinar sobre todos nós e devolver à Pátria a grandeza pretérita".

O mais curioso, ainda, é o pormenor do próprio D. Sebastião que segura um escudo com 7 castelos, mas cujas mãos ocultam dois deles. Será mais uma referência ao V Império?

Esta é a tese defendida por Victor Manuel Adrião na sua obra "Lisboa Insólita e Secreta"

Por mim, fiquei disponível para dar crédito à tese, desde que conhecesse o escultor deste D. Sebastião e se da sua biografia fosse levado a concluir que ele quisesse mesmo deixar ali o seu testemunho, como fazem alguns autores. Fui pesquisar. 

A fazer fé na informação do SIPA – Sistema de Informação para Património Arquitectónico - que consta no site http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=4979 a escultura será da autoria de Simões de Almeida. Aí se diz que em 1887 - obras de perfuração do túnel do Rossio e da construção da estação; a fachada foi feita pelo empreiteiro francês Bartissol; execução das esculturas e dos medalhões por Simões de Almeida.

Este Simões de Almeida será o José Simões de Almeida (tio) - para o distinguir do sobrinho homónimo, José Simões de Almeida (sobrinho) - nasceu em 1844 e morreu em 1926, em Figueiró dos Vinhos. A acreditar neste site, o escultor Simões de Almeida teria, em 1887, 43 anos de idade. Pode ser…

Falta agora saber se este Simões de Almeida comungava ou não do mito do V Império. Vamos ver…talvez volte ao assunto. 

2 comentários:

  1. Simões de Almeida, foi e será um grande escultor. Tanto o tio como o sobrinho, ficam para a nossa história.

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