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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Port-Wine


A história do Vinho do Porto está muito ligada aos ingleses. Estes sempre gostaram muito de vinho. Bebiam vinhos franceses até que no Séc. XVIII, com a Guerra da Sucessão de Espanha, o comércio acabou. Então, eles procuraram o vinho português. Grandes pipas de vinho português, sobretudo da região do Rio Douro, passaram a chegar à cidade de Londres. Os elevados lucros obtidos com as exportações para a Inglaterra viriam a gerar situações de fraude e de adulteração da qualidade do vinho. Por isso, o Marquês de Pombal, em 1756, criou a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Mais tarde, foi criada, em 1932, a Casa do Douro, para a defesa e legitimidade dos vinhos genuínos da Região Demarcada.

Em 1944, A Casa do Douro, situada em peso da Régua, abriu um concurso para colocação de vitrais alusivos à obra desenvolvida pela Instituição, sobretudo um hino à produção do Vinho do Porto. Houve dois concorrentes. Jorge Barradas, mais conhecido e Lino António, menos. Ganhou este último. São três vitrais muito bonitos, como se pode ver. 

A História do Vinho do Porto é uma história de sangue, suor e lágrimas. O pintor Lino António pôs o acento tónico nos trabalhadores e nas condições difíceis do trabalho da vinha e da produção do vinho. Transmitem uma mensagem tão forte que eu tenho quase a certeza que foi nestes vitrais que o poeta Joaquim Namorado se inspirou para escrever o poema:

Port-Wine

O Douro é um rio de vinho
que tem a foz em Liverpool e em Londres
e em Nova-York e no Rio e em Buenos Aires:
quando chega ao mar vai nos navios,
cria seus lodos em garrafeiras velhas,
desemboca nos clubes e nos bars.

O Douro é um rio de barcos
onde remam os barqueiros suas desgraças,
primeiro se afundam em terra as suas vidas
que no rio se afundam as barcaças.

Nas sobremesas finas, as garrafas
assemelham cristais cheios de rubis,
em Cape-Town, em Sidney, em Paris,
tem um sabor generoso e fino
o sangue que dos cais exportamos em barris.

As margens do Douro são penedos
fecundados de sangue e amarguras
onde cava o meu povo as vinhas
como quem abre as próprias sepulturas:
nos entrepostos dos cais, em armazéns,
comerciantes trocam por esterlino
o vinho que é o sangue dos seus corpos,
moeda pobre que são os seus destinos.

Em Londres os lords e em Paris os snobs,
no Cabo e no Rio os fazendeiros ricos
acham no Porto um sabor divino,
mas a nós só nos sabe, só nos sabe,
à tristeza infinita de um destino.

O rio Douro é um rio de sangue,
por onde o sangue do meu povo corre.
Meu povo, liberta-te, liberta-te!,
Liberta-te, meu povo! – ou morre.

Sinceramente não consigo dizer o que é mais bonito, se os vitrais do pintor Lino António, se o poema do poeta neo-realista, Joaquim Namorado. Tudo é pura arte. Os vitrais são poesia e o poema dava uma bela aguarela. As margens do Douro são penedos fecundados de sangue e amarguras onde o povo cava as vinhas como quem abre as próprias sepulturas.

2 comentários:

  1. Maravilhoso, um orgulho termos essa história

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  2. Obrigado pelo comentário. A história do Vinho do Porto é uma história de sangue, suor e lágrimas, mas, como diz, devemos ter orgulho dela.

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