domingo, 26 de dezembro de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Florbela Espanca


"Ser poeta" é o título de um poema da poetisa portuguesa Florbela Espanca (1894-1930), pedido com a resolução do passatempo de palavras cruzadas, referente ao mês de Dezembro de 2021.


Participaram: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Crispim; Donanfer II, Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Elvira Silva; Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Juse; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; PAR DE PARES; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Solitário; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

A todos, obrigado.
Até ao próximo.

domingo, 19 de dezembro de 2021

O eremita que se disfarçou de Rei D.Sebastião



Na Ericeira, era conhecido como o Ermitão. Depois de abandonar o Convento de Santa Cruz, Mateus Álvares refugiou-se numa gruta em São Julião, onde viveu durante anos. Era magro, ruivo e parecido com D. Sebastião.

Mateus Álvares nasceu na Praia da Vitória e era filho de um pedreiro. Ingressou na vida religiosa, indo posteriormente para o Continente, primeiro em Óbidos e depois no Convento de Santa Cruz, em Sintra. Contudo, Mateus Álvares não se ambientou à vida conventual, fugindo e refugiando-se numa gruta em S. Julião, 3 kms a sul da Ericeira.
Foi no contexto do domínio espanhol, que os portugueses fizeram nascer a lenda que “ num dia de nevoeiro apareceria D. Sebastião na Ericeira”. Era a forma de manter viva a esperança pela independência.
Mateus Álvares era considerado um homem bonito e alourado e como apareceu na altura do desastre de Alcácer Quibir, passou a ser visto pelo povo como o regressado D. Sebastião.
A população afirmava que D. Sebastião tinha envelhecido por causa das privações que tinha passado na batalha e por ter-se enclausurado na gruta.
Assim, de palavra em palavra, Mateus Álvares virou D. Sebastião, sobretudo após ser interrogado sobre a veracidade da história e de nunca ter negado que era o Rei português. Nascia, assim, a lenda do Rei da Ericeira.
Depois de reclamar o trono casou com Ana Susana, filha de um lavrador, e coroou-a com a tiara roubada de uma imagem religiosa. Exigia beija-mão, gostava de ser tratado como Rei e reuniu um exército pequeno, desorganizado e mal armado à sua volta. A ambição levou-o à morte: apesar de os seus militares amadores terem ganho pequenas batalhas contra o ocupante espanhol, o inimigo acabou por capturar Mateus Álvares e entregá-lo ao Rei Filipe II.

O falso D. Sebastião disse momentos antes de ser esquartejado de forma a que os seus membros ficassem expostos em local onde a população pudesse ver: “Estais livres portugueses! Olhai bem para mim – não sou D. Sebastião, mas sou um homem bom, um bom português que vos libertou do jugo castelhano. Agora sois livres, escolhei e proclamai Rei quem quiserdes!”.
Foi enforcado a 13 de junho de 1585, com ele morreram o seu sogro e a maior parte dos homens de sua confiança no “Alto da Forca”, que ainda hoje existe na Ericeira. Filipe II acabou por dar carta geral de perdão aos “rústicos do concelho de Sintra”. Terminava, assim, a história de Mateus Álvares, o terceirense que foi Rei.
A aventura do Rei da Ericeira foi rápida, mas deixou marcas nas populações locais em redor de Sintra. Foi o D. Sebastião que mais apoiantes obteve e o que melhor soube dinamizar o povo. Com o seu grito de esperança, deu novo ânimo ao espírito nacionalista.

sábado, 4 de dezembro de 2021

O meu Alentejo

Meio-dia. O sol a prumo cai ardente, 
Doirando tudo...Ondeiam nos trigais
D’oiro fulvo, de leve...docemente...
As papoilas sangrentas, sensuais...

Andam asas no ar; as raparigas,
Flores desabrochadas em canteiros,
Mostram, por entre o oiro das espigas,
Os perfis delicados e trigueiros...

Tudo é tranqüilo, e casto, e sonhador...
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então: Onde há pintor,

Onde há artista de saber profundo,
Que possa imaginar coisa mais bela,
Mais delicada e linda neste mundo?!

Florbela Espanca

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Florbela Espanca


Parque dos Poetas, em Oeiras / Escultura de Francisco Simões

O AlegriaBreve reconhece, antes de mais, que estava em dívida para com Florbela Espanca, considerada por muitos uma das mais importantes poetisas portuguesas.

Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, a 8 de Dezembro de 1894, sendo baptizada, com o nome de Flor Bela Lobo, a 20 de Junho do ano seguinte, como filha de Antónia da Conceição Lobo e de pai incógnito. Filha ilegítima, só postumamente foi reconhecida pelo pai, homem da burguesia.

É em Vila Viçosa que se desenrola a sua infância. Em Outubro de 1899, Florbela começa a frequentar o ensino pré-primário, passando a assinar Flor d'Alma da Conceição Espanca (algumas vezes, opta por Flor, e outras, por Bela). Em Novembro de 1903, aos sete anos de idade, Florbela escreve a sua primeira poesia de que há conhecimento, «A Vida e a Morte», mostrando uma admirável precocidade e anunciando, desde já, a opção por temas que, mais tarde, virá a abordar de forma mais complexa. Ainda no mesmo ano, Florbela começa a escrever uma poesia sem título, o seu primeiro soneto.

Viveu alheia às convulsões políticas que acompanharam os primeiros tempos da República, mas pertencia ao núcleo de mulheres que desafiava convenções. Foi das poucas a estudar Direito na Faculdade de Lisboa e, sempre que lhe apetecia, usava calças, indumentária exclusiva do sexo masculino.

Desgostos na vida teve muitos. No amor, três casamentos, dois divórcios e muitos enamoramentos falhados, promessas de felicidade que não se cumpriam. Depois, a morte inesperada e violenta do irmão (Apeles Espanca), os filhos que não teve. Terá sido uma vida de tormentos, inquieta curta vida que se fez “poesia viva”, no dizer de José Régio. 

É justamente reconhecida como uma autora polifacetada: escreveu poesia, contos, um diário e epístolas; traduziu vários romances e colaborou ao longo da sua vida em revistas e jornais de diversa índole, 

Porém, Florbela Espanca, antes de tudo, é poetisa. É à sua poesia, quase sempre em forma de soneto, que ela deve a fama e o reconhecimento.

Da sua obra constam dois livros de sonetos publicados ainda em vida da autora, "Livro de Mágoas" e "Livro de Soror Saudade", um publicado no ano da sua morte, "Charneca em Flor", e outros sonetos inéditos e de edição póstuma. O conjunto dos poemas referidos foi, em 1934, reunido e publicado, pela primeira vez, sob a forma de antologia e com o título de "Sonetos  Completos". 

Um dia Florbela encontrou-se consigo mesma e definiu-se assim: «Sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida, uma indiferente a transbordar de ternura».

No ano de 1930, a 8 de Dezembro, dia do nascimento e do primeiro casamento, Florbela suicida-se.

Este mês, convido os meus amigos a resolver este problema e, no final, encontrar o título (2 palavras nas horizontais) de um poema da poetiza portuguesa Florbela Espanca (1894 – 1930).


HORIZONTAIS: 1 – Choque; Classe. 2 – Ajuda; Ocultes. 3 – Ninho; Corre. 4 – Estreita; Valer; Queixas. 5 – Peva. 6 – Iras. 7 – É erudito. 8 – Maneira [figurado]; Baixa; Tripulação. 9 – Publicas; Paraíso. 10 – Demorar; Devaneador. 11 – Perfumes; Simples.

VERTICAIS: 1 – Simpático [coloquial]; Serena. 2 – Estima; Meios. 3 – Conquista; Alegoria. 4 – Sufixo nominal, de origem grega, que exprime a ideia de filiação; Agarrai; Conta. 5 – Sujeito [Brasil]. 6 – Aparas. 7 – Bordo. 8 – Abundância; Defeito; Período incomensurável de tempo. 9 – Aliança; Idiota. 10 – Mudança constante; Barbeiro [popular]. 11 – Alas; Alies.

Clique Aqui para abrir e imprimir o PDF.



Aceito respostas até dia 25 de Dezembro inclusive, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Herberto Helder

"Os Passos em Volta" é o título de uma obra do poeta português Herberto Helder (1930-2015), pedido com a resolução do passatempo de palavras cruzadas, referente ao mês de Novembro de 2021.


Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Crispim; Donanfer II; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes;  Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Juse; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; PAR DE PARES; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Solitário; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

O AlegriaBreve está de luto. Deixou-nos a amiga e confreira Julieta. Que a sua alma descanse em paz, descanse na mão de Deus, na sua mão direita. À sua família, o AlegriaBreve apresenta sentidos pêsames.

A todos, obrigado.
Até ao próximo.





segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Senhor, que és o céu e a terra, e que és a vida e a morte!

Senhor, que és o céu e a terra, e que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu! Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. Onde nada está tu habitas e onde tudo estás — (o teu templo) — eis o teu corpo.

Dá-me alma para te servir e alma para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome.

Torna-me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. Faz com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai.

[...]

Minha vida seja digna da tua presença. Meu corpo seja digno da terra, tua cama. Minha alma possa aparecer diante de ti como um filho que volta ao lar.

Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em mim e rezar-te e adorar-te.

Senhor, protege-me e ampara-me. Dá-me que eu me sinta teu. Senhor, livra-me de mim.

1912?

Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1966.

- 61.

Arquivo Pessoa │Casa Fernando Pessoa

domingo, 7 de novembro de 2021

Deixarei os jardins a brilhar

Deixarei os jardins a brilhar com seus olhos
detidos: hei-de partir quando as flores chegarem
à sua imagem. Este verão concentrado
em cada espelho. O próprio
movimento o entenebrece. Mas chamejam os lábios
dos animais. Deixarei as constelações panorâmicas destes dias
internos.

Vou morrer assim, arfando
entre o mar fotográfico
e côncavo
e as paredes com as pérolas afundadas. E a lua desencadeia nas grutas
o sangue que se agrava.

Está cheio de candeias, o verão de onde se parte,
ígneo nessa criança
contemplada. Eu abandono estes jardins
ferozes, o génio
que soprou nos estúdios cavados. É a cólera que me leva
aos precipícios de agosto, e a mansidão
traz-me às janelas. São únicas as colinas como o ar
palpitante fechado num espelho. É a estação dos planetas.
Cada dia é um abismo atómico.

E o leite faz-se tenro durante
os eclipses. Bate em mim cada pancada do pedreiro
que talha no calcário a rosa congenital.
A carne, asfixiam-na os astros profundos nos casulos.
O verão é de azulejo.
É em nós que se encurva o nervo do arco
contra a flecha. Deus ataca-me
na candura. Fica, fria,
esta rede de jardins diante dos incêndios. E uma criança
dá a volta à noite, acesa completamente
pelas mãos.


Herberto Helder
Cobra
Poesia Toda
Assírio & Alvim
1979

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Herberto Helder

Herberto Helder foi um poeta português, considerado por alguns o "maior poeta português da segunda metade do século XX", o que eu, lamento, não subscrevo. E todavia é reconhecidamente um dos mais importantes poetas da segunda metade do século XX.

Nasceu a 23 de Novembro de 1930 no Funchal, ilha da Madeira, no seio de uma família de origem judaica. Em 1946, com 16 anos, viajou para Lisboa para frequentar o 6º e o 7º ano do curso liceal. Em 1948, matriculou-se na Faculdade de Direito de Coimbra e em 1949 mudou para a Faculdade de Letras onde frequentou, durante três anos, o curso de Filologia Românica, não tendo terminado o curso.

Três anos mais tarde regressou a Lisboa, começando por trabalhar durante algum tempo na Caixa Geral de Depósitos (não sabia que tive, como colega, tão ilustre figura!) e depois como angariador de publicidade, sendo que durante esse tempo viveu, por razões de ordem vária e pessoal, numa «casa de passe».

Em 1958, publicou o seu primeiro livro, "O Amor em Visita". Durante os anos que se seguiram viveu em França, Holanda e Bélgica, países nos quais exerceu profissões pobres e marginais, tais como: operário no arrefecimento de lingotes de ferro numa forja, criado numa cervejaria, cortador de legumes numa casa de sopas, empacotador de aparas de papéis e policopista. Em Antuérpia, viveu na clandestinidade e foi guia dos marinheiros no sub mundo da prostituição.

Teve uma vida muito agitada, trabalhou em mais países, sendo fastidioso a sua descrição pormenorizada. É considerado uma figura misantrópica, tendo, em torno de si, pairado sempre uma atmosfera algo misteriosa, uma vez que sempre recusou prémios e se negou a dar entrevistas. Em 1994, por exemplo, foi o vencedor do Prémio Pessoa, que recusou, tendo vivido os últimos anos no mais cioso do anonimato.

Faleceu a 23 de Março de 2015, em Cascais, aos 84 anos. Menos de dois meses após a sua morte, em Maio de 2015, foi publicado o último livro de originais do poeta, "Poemas canhotos", que tinha terminado pouco antes de morrer.

Assim, convido os meus amigos a resolver este problema e, no final, encontrar o título (4 palavras nas horizontais) de uma obra do poeta português Herberto Helder (1930 – 2015).

HORIZONTAIS: 1 – Descrédito; Caricias. 2 – Sobrecarrega; Derrube. 3 – Toldados; Unir. 4 – Aqueles; Alas; Sufixo nominal, de origem latina, que exprime a ideia de conjunto. 5 – Porcelana antiga de cor amarela e de origem chinesa; Estreitos. 6 – Resplendor [figurado]. 7 – Poli [figurado]; Seguro. 8 – Cerce; Torra [Cabo Verde]; Preposição que designa lugar. 9 – Acorda; Juventude [figurado]. 10 – Curva; Arrogante. 11 – Embarcação usada na pesca do atum; Ferida.

VERTICAIS: 1 – Giro; Interjeição indicativa de saudação [Brasil]. 2 – Desregra; Ponta da verga dos navios. 3 – Natureza; Esconde [figurado]. 4 – Terreno lavrado mas não semeado; Pau-ferro. 5 – Hoje [Guiné-Bissau]; Mana; Prefixo que exprime a ideia de movimento. 6 – Indolente [regionalismo]. 7 – Dura; Malícia [figurado]; Interjeição que exprime dúvida. 8 – Levante; Excelente [coloquial]. 9 – Patife [regionalismo]; Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de compra. 10 – Apreciado; Simples. 11 – Aquoso; Água potável [Angola].


Clique Aqui  para abrir e imprimir o PDF.



Aceito respostas até dia 25 de Novembro, inclusive, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Isabel da Nóbrega

"Viver com os Outros" é o título de uma obra da escritora portuguesa Isabel da Nóbrega (1925-2021), pedido com a resolução do passatempo de palavras - cruzadas, referente ao mês de Outubro de 2021.


Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Crispim; Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Elvira Silva; Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Juse; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; PAR DE PARES; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Solitário; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

A todos, obrigado.
Até ao próximo!

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Isabel da Nóbrega

Isabel da Nóbrega (pseudónimo de Maria Isabel Guerra Bastos Gonçalves) faleceu no Estoril no dia 2 do findo mês de Setembro. Tinha 96 anos. É inteiramente justo que o AlegriaBreve lhe preste esta pequena homenagem. Foi uma escritora portuguesa, com trabalhos em teatro, rádio e televisão, escreveu ainda milhares de crónicas para diversas publicações. Escritora (quase) esquecida. Mulher rara, foi uma excepção nesta paisagem literária desapaixonada.

À Isabel, porque nada perde ou repete, porque tudo cria e renova”, escreveu José Saramago na primeira edição do romance "Memorial do Convento", publicado em 1982. Percebe-se pela densidade que não seriam apenas palavras de circunstância, e isso torna ainda mais angustiante (poupo no adjectivo) o acto posterior do seu apagamento e substituição, em edições futuras, por uma dedicatória a outra mulher (Pilar del Rio)!

Contudo, nas edições mais antigas dos livros do Nobel, podemos encontrar, segundo os críticos literários, vestígios dessa ligação que, para muitos, terá sido fulcral para o posterior desenvolvimento da obra literária de Saramago. E não é apenas nas dedicatórias que se encontram traços do seu encontro fundamental com Isabel da Nóbrega, mas na própria construção das personagens. É que se Gaspar Simões compara os olhos de Isabel aos de uma Medusa (a górgona mitológica que petrificava quem a olhasse), Saramago acaba por dar à sua mais importante personagem, "Blimunda", uns olhos igualmente mágicos, capazes de perscrutar as almas por dentro dos corpos.

Como ela conta numa entrevista à revista Tabu em 2009, o próprio nome “Blimunda” foi Isabel quem o escolheu de uma lista que Saramago tinha feito, e da qual tinha escolhido Mariana Amália.

Nascida em Lisboa, em 1925, foi criada no seio de uma família protestante e deixou a sua marca na literatura portuguesa, como uma figura indisciplinada de afirmação feminina nos anos 60. Além de cronista, no tempo em que era escassa a presença de mulheres nas redações de jornais, dedicou-se à escrita de contos, textos dramáticos, romances e literatura infantil.

Era uma mulher tão elegante quanto assertiva, quando isso não era considerado uma forma de agressividade ou arrogância. Nunca disse, em público, uma palavra sobre o livro infame que João Gaspar Simões escreveu sobre ela ("As Mãos e as Luvas"), depois da separação, tal como não disse uma palavra sobre o facto de Saramago ter apagado dos livros as dedicatórias que lhe tinha feito, substituindo-as por dedicatórias a Pilar del Rio.

Assim, convido os meus amigos a resolver este problema e, no final, encontrar o título (4 palavras nas horizontais) de uma obra da escritora portuguesa Isabel da Nóbrega (1925-2021).


HORIZONTAIS: 1 – Derrotas; Durar. 2 – Obras; Corda grossa. 3 – Preposição que designa tempo; Angústia; Brandura. 4 – Prefixo que exprime a ideia de privação; Toca; Interjeição que exprime espanto. 5 – Sorte [popular]; Entrar na posse de (herança). 6 – Fama; Teima. 7 – Consegue; Terreiro. 8 – Lava áspera e escoriácea constituída por fragmentos irregulares; Fechas [Guiné-Bissau]; Aqueles. 9Inspecção-Geral do Ambiente [sigla]; Fogão; Naquele lugar. 10 – Diversos; Apoio [figurado]. 11 – Sinceros; Que pronuncia erradamente.

VERTICAIS: 1 – Endireitas [Angola]; Barriga [popular]. 2 – Ansiedade; Molhe. 3 – Conta; Simples; Amarra. 4 – Pertences; Desejadas; Troça. 5 – Massa; Partidas. 6 – Decote; Valias. 7 – Estimada; Sopro. 8 – Sufixo nominal de origem latina que tem sentido diminutivo, por vezes pejorativo; Desgastes; Mais [antiquado]. 9 – Volta; Laca; Interjeição usada para aclamar. 10 – Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de azeite; Troca-tintas [regionalismo]. 11 – Patife [popular]; Protejo.

Clique Aqui para abrir e imprimir o PDF.


Aceito respostas até dia 25 de Outubro, inclusive, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?

domingo, 26 de setembro de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Maria Judite de Carvalho

"Os Idólatras" é o título de uma obra da escritora portuguesa Maria Judite de Carvalho (1921-1998), pedido com a resolução do passatempo de palavras - cruzadas, referente ao mês de Setembro de 2021.


Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Crispim; Donanfer II, Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Julieta; Juse; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; PAR DE PARES; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Solitário; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

A todos, obrigado.
Até ao próximo!

domingo, 19 de setembro de 2021

Breve o dia, breve o ano, breve tudo



19 de Setembro de 2021: o heterónimo Ricardo Reis chega hoje à bonita idade de 134 anos.

Breve o dia, breve o ano, breve tudo.
Não tarda nada sermos.
Isto, pensando, me de a mente absorve
Todos mais pensamentos.
O mesmo breve ser da mágoa pesa-me,
Que, inda que magoa, é vida.

27-9-1931
Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Em véspera de revisitar Pascoaes


«
Uma das obras mais notáveis de Agustina Bessa-Luís, O Susto é um roman à clef, um romance cujas personagens são modeladas em pessoas reais. O protagonista, José Midões, é o poeta Teixeira de Pascoaes. Agustina Bessa-Luís descreve-o como uma figura excepcional, acima de todos os contemporâneos, e não esconde o fascínio que Pascoaes lhe inspira. (…)
Se todos os livros têm o seu destino, o deste romance é duplo. A sua recepção por leitores e pares, e as consequências dessa acidentada recepção, tiveram efeitos consideráveis na carreira da autora, que merecem ser descritos. Quanto ao romance em si mesmo, a descrição que nele é feita da relação entre Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa, crucial para ambos, em particular para o segundo, que aparece no romance como personagem nada fugaz (Álvaro Carmo), parece ter passado inapercebida pela generalidade da crítica, não obstante ser a mais arguta análise dessa relação alguma vez publicada.» 
[Do Prefácio, de António M. Feijó]

Editora "A Relógio d´Água"

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Guerra Junqueiro, poeta mal amado?



GUERRA JUNQUEIRO (Freixo de Espada à Cinta, 15 de Setembro de 1850 — Lisboa, 7 de Julho de 1923) — Sobre as reacções dos seus contemporâneos às suas obras, escreve A.M. Pires Cabral:

“Se Guerra Junqueiro é um poeta mal-amado por muitos, os livros “A velhice do Padre Eterno” e “Pátria” são a fonte principal de todos os ressentimentos. Principalmente o primeiro. Compreende-se porquê: se a ideia dinástica ia aos poucos cedendo terreno ao mesmo passo que ganhava popularidade a ideia republicana, apregoada a cada canto e esquina por uma hoste de apologistas aguerridos, a Igreja — acusando embora danos provocados pelo abalroamento do racionalismo — permanecia uma instituição solidamente arreigada na alma portuguesa. Bulir com ela era bulir com o sentimento religioso de grande parte do povo português, justamente aquela parte que costuma dizer “Graças a Deus muitas, graças com Deus poucas”. É mais ou menos pacífico que Junqueiro não graceja verdadeiramente com Deus, com a ideia pura de Deus, não filtrada pelas humanas formulações do catecismo; mas graceja, e muito, e em termos muitas vezes difíceis de aceitar, com os vigários de Deus, desde o mais humilde cura de aldeia aos cardeais, aos núncios apostólicos e ao próprio Papa. (Mais tarde, em “Horas de luta”, chamará a Roma “necrópole maldita, dragão do mal, sepulcro enorme”.) Os gracejos da “Velhice” nem sempre mantêm a compostura; melhor dizendo, quase nunca mantêm. É evidente que Junqueiro considerava que o clero não era um espelho de virtudes ou, para usar um plebeísmo, “estava a pedi-las“. E que o dogma é uma violência à razão. Mas as generalizações são sempre abusivas. Há no livro escusada violência verbal, por vezes insolência crassa e de gosto duvidoso — de que é exemplo acabado “A sesta do senhor abade”. Joaquim Ferreira chama-lhe “a chacota mais ultrajante do catolicismo”. (“Homens e livros”).”

in “Guerra Junqueiro — Poeta dual”

Caminhar – a minha epifania

O corpo fraquejava e a cabeça rebentava de perguntas para as quais não tinha resposta. “Levanta-te e vai caminhar!” encorajou-me um dia uma amiga. “Caminha, caminha sem tempo contado, vais ver que começarás a ver luz ao fundo, acredita!”

O mês de agosto chegou ao fim e os dias continuam deslumbrantemente limpos, luminosos e quentes.

Em dia de folga saio cedo e caminho pela colina acima da minha casa, banhada pela luz vibrante dos campos verdes que a ladeiam. Uma luz que apetece beber como quem mata a sede com um copo de limonada. Uma luz que me faz acreditar, que se nela estivermos por inteiro, conseguimos trazer leveza aos dias que se seguirão.

O tema da luz vai sendo recorrente na minha vida, quando escrevo, como escolho iluminar a casa ou o jardim, nas velas que acendo à medida que os dias vão escurecendo. Talvez porque na mesma medida teimo em me desfazer dos lugares escuros que inevitavelmente me vão habitando. E, também porque neste país do hemisfério norte, onde metade do ano os dias são mais curtos, cada raio de luz pede atenção.

Desde que vivo na Noruega tenho descoberto que caminhar em contacto íntimo com a natureza me devolve muitas respostas. Contudo, é desde que vivo mais a sul, onde os dias de Verão são quentes e mais longos, que tenho aprofundado mais esta experiência.

Caminhando tomo conta do quanto esse movimento me afecta positivamente, e por consequência aos que me rodeiam.

Há um ano e meio divorciei-me, e caía assim por terra o projecto de família que me tinha levado até aí. Com três filhos maravilhosos e evidentemente vulneráveis pelas circunstâncias, era tempo de repensar tudo de novo, reinventar sonhos, despir-me de velhas verdades.


A caminhar tomo consciência de que as respostas surgem porque eu me disponibilizo tempo, tempo para me escutar e interrogar.

Nesta altura o corpo fraquejava e a cabeça rebentava de perguntas para as quais não tinha resposta. “Levanta-te e vai caminhar!” encorajou-me um dia uma amiga. “Caminha, caminha sem tempo contado, vais ver que começarás a ver luz ao fundo, acredita!”

E como que numa epifania, qual Lázaro erguendo-se dos seus medos e acreditando no amor que o moveria, pus-me a caminhar. Não corri “três anos, dois meses, catorze dias e dezasseis horas” como Forrest Gump, no maravilhoso clássico de Robert Zemeckis, que revisitei há dias com os meus três filhos, mas tenho andado mais do que alguma vez na vida.

Caminho na cidade, no bosque, subo e desço montanhas.

A caminhar tomo consciência de que as respostas surgem porque eu me disponibilizo tempo, tempo para me escutar e interrogar. Tempo para deixar as perguntas emergir e permitir que respostas se vão ensaiando. Muitas vezes em tom de uma oração que me comove.

Caminhar traz-me as minhas fragilidades e forças, faz-me dar de caras com quem verdadeiramente sou, liberta-me de culpas, acalma-me e devolve-me o amor próprio e, por conseguinte, ao outro.

Há uns tempos li o livro do escritor norueguês Erlin Kagge, “A arte de caminhar”, um ensaio muito interessante sobre a experiência de caminhar.

A determinada altura escreve: “Tudo se move mais devagar quando caminho; o mundo torna-se mais suave, e durante um curto espaço de tempo, não me encontro a realizar tarefas domésticas, nem numa reunião, nem a ler manuscritos. Um homem livre tem tempo. (…) A caminhar torno-me o centro da minha própria vida”

Por isso, vivas no campo ou na cidade, caminha, porque, e citando o mesmo livro, “Caminhar significa por vezes empreender uma viagem interior de descoberta”.

Fica o convite!

Marta Parada Carvalho, in Portal dos Jesuítas, de 13/9/2021

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

O deputado Morgado, (coit)ado


NATÁLIA CORREIA
(Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923 — Lisboa, 16 de Março de 1993), poetisa, dramaturga, romancista, ensaísta, cronista, tradutora, editora, conferencista e deputada.

Quando, em 1982, Natália Correia era deputada na Assembleia da República pelo PPD e, discutindo-se a despenalização do aborto, o deputado João Morgado, do CDS, defendeu que “o acto sexual é para fazer filhos”, escreveu ela este poema:

Já que o coito — diz Morgado —
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou — parca ração! —
uma vez. E se a função
faz o órgão — diz o ditado —
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.


Em 1982, já estava vulgarizada em Portugal a contracepção oral (vulgo, pílula), que foi um grande avanço para a emancipação da mulher e para o modo mais livre com que ambos os sexos passaram a poder relacionar-se. A uma gravidez não desejada chamava-se ”um descuido” e a despenalização da sua interrupção voluntária vinha permitir que ser-se mãe e ser-se pai, responsabilidades duradouras, não tivesse forçosamente de nascer de um acto situado no tempo, que tivera uma finalidade bem mais breve — o prazer, com ou sem amor. Alegria Breve.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Maria Judite de Carvalho

O AlegriaBreve evoca, este mês, o centenário de nascimento da escritora portuguesa Maria Judite de Carvalho, autora que permanece ainda desconhecida do grande público, apesar da notória qualidade e profundidade da sua escrita.

Maria Judite de Carvalho nasceu em Lisboa a 18 de Setembro de 1921. Os seus pais viviam na Bélgica, razão pela qual foi criada e educada, desde os três meses de idade, por tias paternas. A sua educação decorreu num ambiente austero e de extrema contenção. Aos quatro anos morreu-lhe uma das tias, aos oito a mãe, que mal conheceu, e pouco depois o meio irmão, pelo lado materno. Com dez anos, foi a vez de uma outra tia e, aos quinze anos, o pai foi dado como desaparecido. Frequentou o Colégio Feminino Francês e concluiu o ensino secundário no Liceu Maria Amália. Matriculou-se em Filologia Germânica.

Em 1944, conheceu Urbano Tavares Rodrigues, com quem casou em 1949. Pouco tempo depois, por razões profissionais do marido, foram para França, onde viveram em Montpellier e em Paris. Em 1950 veio a Lisboa ter a sua única filha, Isabel Fraga, a qual deixou ao cuidado dos avós paternos. 

Quando regressou a Portugal, trabalhou na revista Eva, primeiro enquanto secretária, depois como redactora e chefe de redacção, até 1974, altura em que a revista faliu. Entre 1968 e 1986, altura em que se reformou, foi também redactora do Diário de Lisboa.

A obra de Maria Judite de Carvalho incide predominantemente sobre casos humanos de solidão feminina, os quais reflectem um quotidiano social e um registo sentidamente amargo, muitas vezes temperado pela ironia ou pela mordacidade.

«Flor discreta» da nossa literatura, como lhe chamou Agustina Bessa-Luís, a obra de Maria Judite de Carvalho foi várias vezes galardoada, destacando-se o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários, o Prémio P.E.N. Clube Português de Novelística e o Prémio Vergílio Ferreira.

Nas palavras do marido, o escritor Urbano Tavares Rodrigues, a nossa homenageada "Vivia como espectadora, sempre céptica e desencantada... Uma dor funda sempre a acompanhou, tendo atingido os limites do sofrimento, nos últimos anos da sua vida..." Maria Judite de Carvalho morreu em Lisboa em 1998.

Assim, convido os meus amigos a resolver este problema e, no final, encontrar o título (2 palavras nas horizontais) de uma obra da escritora portuguesa Maria Judite de Carvalho (1921-1998).



HORIZONTAIS: 1 – Toques; Desordem. 2 – Insigne. 3 – Símbolo de ósmio; Gasta; Sopro. 4 – Ofertas; Empunhai; Pão [Moçambique]. 5 – Assentimento; Memórias [figurado]. 6 – Apaixonados [figurado]. 7 – Sem juízo [figurado]; Conjunto de plantas consideradas mágicas no candomblé e noutros cultos afro-brasileiros [Brasil]. 8 – Incapazes; Conta; Sufixo nominal, de origem latina, que tem sentido diminutivo. 9 – Pertences; Maças; Mais [antiquado]. 10 – Atrevimentos [figurado]. 11 – Abate; Doce.

VERTICAIS: 1 – Amigo [Cabo Verde]; Fim [figurado]. 2 – Maricas [popular]. 3 – Adivinha; Setas; Interjeição que exprime aceitação [Brasil]. 4 – Bem-quer; Queixais; Seguro. 5 – Magra; Venda. 6 – Descompostura. 7 – Princesa ou grande senhora muçulmana, no Oriente; Mira. 8 – Amarra; Idade; Preposição que designa ausência. 9 – Interjeição que exprime espanto [Angola]; Respeito; Como. 10 – Acomodada. 11 – Tocas; Grupo.

Clique Aqui para abrir e imprimir o PDF.


Aceito respostas até dia 25 de Setembro, inclusive, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?

sábado, 28 de agosto de 2021

Carlos de Oliveira e o Neo-Realismo

O Neo-Realismo pretende descrever a realidade mas também transformá-la, por isso, faz realçar a luta dos que são veículo dessa transformação, esse realce não se prende a um indivíduo isolado, mas a um grupo e aos valores que defendem.

A presença da ideologia neo-realista é evidente nas obras de Carlos de Oliveira, sobretudo com os temas da opressão, alienação e da vingança, visivelmente enfeudados a uma visão do mundo que encara as tensões e confrontações sociais como etapa necessária da transformação histórica da sociedade exactamente na linha ideológica do neo-realismo e do pensamento marxista que o inspira.

O discurso literário neo-realista aspirava a ser um instrumento de consciencialização daqueles que mantinham afinidades estreitas com as personagens exploradas e oprimidas.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

São Paulo

São Paulo

Pelo que se tem visto, lido e ouvido ultimamente, parece que Portugal descobriu a existência, na Bíblia, de um autor polarizador e polémico: São Paulo.

Quem foi este homem? O que pensar dos textos que escreveu?

Paulo é, na verdade, o único autor do Novo Testamento a cuja identidade podemos associar uma biografia real, mas a reconstituição da sua biografia esbarra de imediato contra um célebre problema: a discrepância entre aquilo que é dito sobre Paulo nos Actos dos Apóstolos e aquilo que Paulo diz sobre si próprio nas suas cartas autênticas. Este problema influi no grau de credibilidade que podemos adscrever aos dados que nos chegaram sobre a biografia de Paulo exclusivamente via Actos dos Apóstolos. Isto porque a lógica mais básica nos exige que pelo menos equacionemos a hipótese de estarem errados os elementos biográficos sobre Paulo em Actos quando estes colidem com o que é escrito pelo próprio Paulo nas suas cartas.

Assim, para muitos estudiosos atuais, a metodologia crítica mais defensável na abordagem à biografia de Paulo implica dar primazia à credibilidade de Paulo nos pontos em que há contradição entre as cartas autênticas de Paulo e outras fontes.

O autor de Actos é claramente um admirador incondicional de Paulo, a ponto de estranharmos, até, o título que, mais tarde, foi dado à obra: seria bem mais consentâneo com o conteúdo do livro o título «Actos do Apóstolo». Paulo é o herói do livro atribuído a Lucas – na verdade, para o autor de Actos, Paulo é uma figura nada menos que heróica: autor de curas milagrosas (16:16-18), de espantosos exorcismos (19:11-12) e dono de poderes que lhe permitem falar ininterruptamente uma noite inteira ou até ressuscitar um morto (20:7-12). Estes dons extraordinários nunca são referidos (decerto por modéstia) nos textos assinados pelo próprio Paulo.

Além destas informações sobre Paulo, estamos também dependentes do livro de Actos para outras que não encontramos alhures. Assim, é somente o livro de Actos a dizer-nos que Paulo era cidadão romano (22:22-29) e que era natural da cidade de Tarso (22:3); só o livro de Actos nos diz que ele se chamava Saulo antes de passar a ser conhecido como Paulo; só o livro de Actos nos diz que ele estudou em Jerusalém com Gamaliel (22:3) e que tinha a profissão de «skênopoiós» («fazedor de tendas», 18:3); só o livro de Actos nos fala da famosa «Estrada» de Damasco.

Outra questão curiosa que se nos depara quando fazemos a leitura comparativa do livro de Actos e das cartas de Paulo é que o autor dos Actos dos Apóstolos, escrevendo já depois da morte de Paulo, não dá a mínima mostra de conhecer a epistolografia paulina e nunca nos mostra Paulo a escrever (ou a ditar) uma única carta. Este facto causa perplexidade já desde o século XIX. Como explicar que «Lucas», alegado companheiro de Paulo nas suas viagens, parece nunca ter lido a produção escrita do seu herói?

No século XIX iniciou-se na Alemanha o estudo crítico da epistolografia de Paulo; e uma das primeiras conclusões a que se chegou foi que o cânone do Novo Testamento contém uma série de cartas que, apesar de proclamarem a sua autoria paulina, não podem ter sido escritas por Paulo. Ou porque o estilo grego e o vocabulário em que estão escritas nada tem a ver com o estilo de Paulo nas cartas autênticas; ou porque são textos que pressupõem realidades históricas que só ocorreram depois da morte de Paulo; ou ainda porque copiam e plagiam de forma tão canhestra textos autênticos de Paulo que é inverosímil ter sido o próprio apóstolo a escrevê-las. Esta observação permite-nos já registar o seguinte facto: Paulo é senhor de um estilo grego único, expressivo – eu diria mesmo arrebatador. Podemos lê-lo sem concordar com uma única palavra que ele escreveu, mas temos de reconhecer que a escrita em si é supremamente convincente.

Os problemas complexos, levantados pelo corpus paulino, suscitaram respostas diferentes da parte dos melhores especialistas no século XIX. No seu livro de 1852 («Kritik der paulinischen Briefe»), Bruno Bauer optou pelo método de Alexandre Magno perante o nó górdio, argumentando que todas as cartas de Paulo que se encontram no Novo Testamento são falsificações escritas no século II, razão pela qual não temos maneira de aceder ao pensamento verdadeiro do apóstolo. Assim, para Bauer era inevitável que o autor de Actos mostrasse desconhecer as cartas de Paulo, uma vez que estas ainda não tinham sido escritas em nome do apóstolo quando o livro de Actos foi composto.

No entanto, o método de análise que permite fazer a triagem entre Paulo e Pseudo-Paulo assenta na premissa de que há um grupo de cartas paulinas do Novo Testamento ao qual é possível reconhecer o selo da autenticidade. Basta alguém não aceitar essa premissa para o corpus estar de novo vulnerável a quem queira argumentar, como fizera Bruno Bauer no século XIX, que todas as cartas são pseudo-paulinas. É por isso que, em 1995, o teólogo alemão Hermann Detering pôde recuperar a abordagem de Bauer, voltando a construir um edifício argumentativo para propor novamente a tese de que todas as cartas de Paulo no Novo Testamento são falsificações (trata-se do livro «Der gefälschte Paulus»).

Para lá da questão de como identificar as cartas autênticas de Paulo, há a realidade extra-académica de que, nas igrejas do mundo inteiro, todas elas (tanto as autênticas como as pseudo-paulinas) continuam a ser lidas como textos canónicos e inspirados. É nelas que assenta, a par dos quatro evangelhos, a religião cristã. Acima referimos o poder da escrita de Paulo: na verdade, são textos a que ninguém consegue ficar indiferente. As cartas de Paulo são susceptíveis de despertar tanto a maior adesão como o maior repúdio.

Há um facto de que não podemos fugir: lidas, hoje, no contexto social e político dos nossos dias, estas cartas levantam problemas que não se colocavam no século XVI, quando foram «redescobertas» no seu potencial renovador e lidas com o maior encantamento possível por todos os protagonistas da Reforma protestante. A aceitação da escravatura, que perpassa de modo implícito e explícito na epistolografia de Paulo (tanto na autêntica como na pseudo-paulina – embora mais nesta última), justificou, durante os duros debates oitocentistas sobre a abolição da escravatura, a posição dos que queriam manter o status quo, permitindo-lhes argumentar com base em passagens de Paulo (hoje maioritariamente atribuídas a Pseudo-Paulo) que o sentimento abolicionista era anticristão.

No século XXI, somos também obrigados a reflectir criticamente sobre o facto de as cartas (pseudo-)paulinas exprimirem pontos de vista que legitimaram durante séculos a subalternização da mulher em relação ao homem, ao mesmo tempo que continuam a dar justificação às hierarquias cristãs que pretendem impedir as mulheres de aceder à carreira sacerdotal. Também o facto de Paulo ter escrito que os homossexuais «não herdarão o reino de Deus» (1 Coríntios 6:9) e que são «merecedores de morte» (Romanos 1:32) coloca, ainda hoje, o cristianismo numa situação de desfasamento retrógrado relativamente a direitos consignados constitucionalmente em todos os países governados segundo o modelo da democracia ocidental.

Referir a palavra «democracia» suscita, já agora, o problema de o comportamento preconizado por Paulo face às autoridades civis (Romanos 13:1-7) ter servido, durante séculos, para refrear movimentos de contestação política vindos de pessoas cristãs; e justificou, tanto para a Igreja como para as hegemonias políticas, o casamento de conveniência entre catolicismo e ditadura a que assistimos, no século XX, em Portugal, em Espanha e em quase todos os países da América Latina. Já em pleno século XXI, algumas igrejas evangélicas americanas ainda se serviram destas palavras de Paulo para apoiar o presidente George Bush na invasão do Iraque.

Assim, não há como negar que o confronto com as cartas de Paulo tem de ocupar uma posição fulcral na compreensão daquilo que foi a história do cristianismo. Paulo marcou indelevelmente a religião cristã (até porque as suas epístolas, cronologicamente anteriores aos quatro evangelhos, são os primeiros documentos que nos chegaram do cristianismo). Por isso, estamos obrigados a dialogar com este apóstolo – por vezes inspirador, por vezes intratável – cujos escritos continuam a interpelar-nos e a lançar-nos grandes, dificílimas perguntas.

Muitos de nós sentiremos, talvez, que não temos resposta para Paulo. Ou sentiremos, então, que a melhor resposta que podemos dar-lhe é empenharmo-nos a sério na leitura dos seus escritos. Com admiração (porque, enquanto homem extraordinário e escritor fascinante, ele a merece); mas também com exigência e imparcialidade.

Frederico Lourenço, fb de 25/8/2021

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

À memória de Fernando Pessoa

António Botto (Abrantes, 17 de Agosto de 1897 - Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959), poeta, contista e dramaturgo português.
Poeta muito incompreendido na sua época, nomeadamente por ter origens modestas, poucos estudos formais e ser homossexual, foi amigo e protegido por Fernando Pessoa. Dedicou-lhe este poema:

POEMA DE CINZA
À memória de Fernando Pessoa

Se eu pudesse fazer com que viesses
Todos os dias, como antigamente,
Falar-me nessa lúcida visão
- Estranha, sensualíssima, mordente;
Se eu pudesse contar-te e tu me ouvisses,
Meu pobre e grande e genial artista,
O que tem sido a vida - esta boémia
Coberta de farrapos e de estrelas
Tristíssima, pedante, e contrafeita,
Desde que estes meus olhos numa névoa
De lágrimas te viram num caixão;
Se eu pudesse, Fernando, e tu me ouvisses,
Voltávamos à mesma:
Tu, lá onde
Os astros e as divinas madrugadas
Noivam na luz eterna de um sorriso;
E eu, por aqui, vadio da descrença
Tirando o meu chapéu aos homens de juízo. . .
Isto por cá vai indo como dantes;
O mesmo arremelgado idiotismo
Nuns senhores que tu já conhecias
- Autênticos patifes bem falantes. . .
E a mesma intriga; as horas, os minutos,
As noites sempre iguais, os mesmos dias,
Tudo igual! Acordando e adormecendo
Na mesma cor, do mesmo lado, sempre
O mesmo ar e em tudo a mesma posição
De condenados, hirtos, a viver
- Sem estímulo, sem fé, sem convicção...

Poetas, escutai-me: transformemos
A nossa natural angústia de pensar
- Num cântico de sonho!, e junto dele,
Do camarada raro que lembramos,
Fiquemos uns momentos a cantar!

António Botto


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Carlos de Oliveira

"Casa na Duna" é o nome de uma obra do escritor português Carlos de Oliveira (1921-1981), pedido com a resolução do passatempo de palavras - cruzadas, referente ao mês de Agosto de 2021.


Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Crispim; Donanfer II, Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; El-Nunes; Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Julieta; Juse; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; PAR DE PARES; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

Grato a todos.
Até ao próximo!

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Carta a Ângela

O poeta Carlos de Oliveira no Parque dos Poetas em Oeiras

Escultura de Francisco Simões


CARTA A ÂNGELA

Para ti, meu amor, é cada sonho 
de todas as palavras que escrever, 
cada imagem de luz e de futuro, 
cada dia dos dias que viver.

Os abismos das coisas, quem os nega, 
se em nós abertos inda em nós persistem? 
Quantas vezes os versos que te dou 
na água dos teus olhos é que existem!

Quantas vezes chorando te alcancei 
e em lágrimas de sombra nos perdemos! 
As mesmas que contigo regressei 
ao ritmo da vida que escolhemos!

Mais humana da terra dos caminhos 
e mais certa, dos erros cometidos, 
foste de novo, e sempre, a mão da esperança 
nos meus versos errantes e perdidos.

Transpondo os versos vieste à minha vida 
e um rio abriu-se onde era areia e dor. 
Porque chegaste à hora prometida 
aqui te deixo tudo, meu amor!

Carlos de Oliveira, (Belém do Pará, 10 de Agosto de 1921 — Lisboa, 1 de Julho de 1981)

(Ângela de Oliveira viria a morrer em 15.2.2016 com 95 anos)

domingo, 1 de agosto de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Carlos de Oliveira

Em ano de comemorações do nascimento do escritor português Carlos de Oliveira, o AlegriaBreve evoca aqui neste espaço a sua memória, em homenagem à vida e obra daquele que muitos consideram ser um dos mais importantes escritores portugueses do movimento Neo-Realista.

Carlos de Oliveira nasceu em Belém do Pará, no Brasil, a 10 de Agosto de 1921. Regressado a Portugal, juntamente com os pais, aos dois anos de idade, passou grande parte da sua infância em Febres, concelho de Cantanhede, onde seu pai exercia medicina. 

Meu pai era médico de aldeia, uma aldeia pobríssima… Nossa Senhora das Febres. Lagoas pantanosas, desolação, calcário, areia. Cresci cercado pela grande pobreza dos camponeses, por uma mortalidade infantil enorme, uma emigração espantosa. Natural portanto que tudo isso me tenha tocado (melhor, tatuado). O lado social e o outro, porque há outro também, das minhas narrativas ou poemas publicados (...) nasceu desse ambiente quase lunar habitado por homens(...), escreveu ele em "O Aprendiz de Feiticeiro", pag. 204. 

Os terrenos pantanosos e arenosos da Região da Gândara, onde viveu a sua infância, são assim o cenário preferencial da sua obra narrativa e referência constante também na sua poesia. Só Carlos de Oliveira podia escrever "Uma Abelha na Chuva", romance que foi reconhecido como uma das mais importantes obras da literatura portuguesa do século XX, tendo sido de leitura obrigatória nos programas escolares em Portugal até final da década de 1990.

A partir de 1933, passou a viver em Coimbra, onde permaneceu durante quinze anos, a fim de concluir os estudos liceais e universitários. Em 1941, ingressou na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde teve participação muito activa nos movimentos intelectuais e políticos com outros jovens, entre os quais Joaquim Namorado, João Cochofel e Fernando Namora, todos grandes vultos do Neo-Realismo.

Depois de ter concluído a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, instalou-se definitivamente em Lisboa, sem contudo deixar de visitar regularmente Coimbra e a Região da Gândara.

Carlos de Oliveira faleceu em 1 de Julho de 1981, em Lisboa. Faltava um mês e nove dias para completar 60 anos. A vida física foi relativamente breve, mas a sua obra, poesia e prosa, continuam connosco a lançar interrogações, a provocar reflexão.

É autor de diversas obras em diferentes géneros literários. Publicou ainda contos e crónicas. Em 2012, o espólio do escritor foi doado pela sua viúva ao Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, composto por um total de cerca de nove mil documentos. O AlegriaBreve já visitou este museu por 2 vezes. Quem tiver oportunidade de o fazer, não perca!

Assim, convido os meus amigos a resolver este problema e, no final, encontrar o título (3 palavras nas horizontais) de uma obra do escritor português Carlos de Oliveira (1921-1981).


HORIZONTAIS: 1 – Garrafa de cerveja de tamanho grande [Moçambique]; Firma. 2 – Multa; Guardas. 3 – Contracção de em+a; Interjeição usada para exprimir admiração [Brasil]; Recolha. 4 – Dignidade militar entre os Turcos; Encaixas. 5 – Terreno húmido para cultura [Angola]; Pertencer. 6 – Pão [Moçambique]; Abundância [figurado]. 7 – Berne; Forma. 8 – Constante; Período incomensurável de tempo. 9 – Medo; Sanha; Interjeição usada para interromper. 10 – Agastado; Finalmente. 11 – Prejudicado; Indiferença.

VERTICAIS: 1 – Idiota; Pousio [regionalismo]. 2 – Mata; Suporte. 3 – Pateta [popular]; Interjeição que exprime enfado [Angola]; Juntas. 4 – Singular; Elegante [figurado]. 5 – Calha; Rasga. 6 – Associação Nacional das Farmácias [sigla]; Somai. 7 – Carácter [figurado]; Pronunciado. 8 – Coisas velhas e inúteis; Levante. 9 – Estreitas; Interjeição que exprime espanto; Interjeição que exprime nojo. 10 – Tiras [Brasil]; Assuada. 11 – Pessoa notável na sua especialidade [figurado, plural]; Chapéu sem abas, de copa redonda e funda.

Clique Aqui para abrir e imprimir o PDF.


Aceito respostas até dia 25 de Agosto, inclusive, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Devaneios cruzadísticos │ Ana Luísa Amaral

"A arte de ser tigre" é o nome de uma obra da escritora portuguesa Ana Luísa Amaral (1956), pedido com a resolução do passatempo de palavras - cruzadas, referente ao mês de Julho de 2021.


Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Crispim; El-Danny; El-Nunes; Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Julieta; Juse; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Par de Pares; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.
Grato a todos.
Até ao próximo!

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Carta à Minha Filha

Carta à Minha Filha

Lembras-te de dizer que a vida era uma fila?
Eras pequena e o cabelo mais claro,
mas os olhos iguais. Na metáfora dada
pela infância, perguntavas do espanto
da morte e do nascer, e de quem se seguia
e porque se seguia, ou da total ausência
de razão nessa cadeia em sonho de novelo.

Hoje, nesta noite tão quente rompendo-se
de junho, o teu cabelo claro mais escuro,
queria contar-te que a vida é também isso:
uma fila no espaço, uma fila no tempo
e que o teu tempo ao meu se seguirá.

Num estilo que gostava, esse de um homem
que um dia lembrou Goya numa carta a seus
filhos, queria dizer-te que a vida é também
isto: uma espingarda às vezes carregada
(como dizia uma mulher sozinha, mas grande
de jardim). Mostrar-te leite-creme, deixar-te
testamentos, falar-te de tigelas - é sempre
olhar-te amor. Mas é também desordenar-te à
vida, entrincheirar-te, e a mim, em fila descontínua
de mentiras, em carinho de verso.

E o que queria dizer-te é dos nexos da vida,
de quem a habita para além do ar.
E que o respeito inteiro e infinito
não precisa de vir depois do amor.
Nem antes. Que as filas só são úteis
como formas de olhar, maneiras de ordenar
o nosso espanto, mas que é possível pontos
paralelos, espelhos e não janelas.

E que tudo está bem e é bom: fila ou
novelo, duas cabeças tais num corpo só,
ou um dragão sem fogo, ou unicórnio
ameaçando chamas muito vivas.
Como o cabelo claro que tinhas nessa altura
se transformou castanho, ainda claro,
e a metáfora feita pela infância
se revelou tão boa no poema. Se revela
tão útil para falar da vida, essa que,
sem tigelas, intactas ou partidas, continua
a ser boa, mesmo que em dissonância de novelo.

Não sei que te dirão num futuro mais perto,
se quem assim habita os espaços das vidas
tem olhos de gigante ou chifres monstruosos.
Porque te amo, queria-te um antídoto
igual a elixir, que te fizesse grande
de repente, voando, como fada, sobre a fila.
Mas por te amar, não posso fazer isso,
e nesta noite quente a rasgar junho,
quero dizer-te da fila e do novelo
e das formas de amar todas diversas,
mas feitas de pequenos sons de espanto,
se o justo e o humano aí se abraçam.

A vida, minha filha, pode ser
de metáfora outra: uma língua de fogo;
uma camisa branca da cor do pesadelo.
Mas também esse bolbo que me deste,
e que agora floriu, passado um ano.
Porque houve terra, alguma água leve,
e uma varanda a libertar-lhe os passos.

Ana Luísa Amaral, in Imagias (Um pouco só de Goya: Carta a minha Filha)