domingo, 26 de dezembro de 2021
Devaneios cruzadísticos │ Florbela Espanca
domingo, 19 de dezembro de 2021
O eremita que se disfarçou de Rei D.Sebastião
sábado, 4 de dezembro de 2021
O meu Alentejo
D’oiro fulvo, de leve...docemente...
As papoilas sangrentas, sensuais...
Flores desabrochadas em canteiros,
Mostram, por entre o oiro das espigas,
Os perfis delicados e trigueiros...
Tudo é tranqüilo, e casto, e sonhador...
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então: Onde há pintor,
Onde há artista de saber profundo,
Que possa imaginar coisa mais bela,
Mais delicada e linda neste mundo?!
Florbela Espanca
quarta-feira, 1 de dezembro de 2021
Devaneios cruzadísticos │ Florbela Espanca
Vemo-nos por aqui?
sexta-feira, 26 de novembro de 2021
Devaneios cruzadísticos │ Herberto Helder
segunda-feira, 8 de novembro de 2021
Senhor, que és o céu e a terra, e que és a vida e a morte!
1912?
Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1966.
- 61.
Arquivo Pessoa │Casa Fernando Pessoa
domingo, 7 de novembro de 2021
Deixarei os jardins a brilhar
detidos: hei-de partir quando as flores chegarem
à sua imagem. Este verão concentrado
em cada espelho. O próprio
movimento o entenebrece. Mas chamejam os lábios
dos animais. Deixarei as constelações panorâmicas destes dias
internos.
Vou morrer assim, arfando
entre o mar fotográfico
e côncavo
e as paredes com as pérolas afundadas. E a lua desencadeia nas grutas
o sangue que se agrava.
Está cheio de candeias, o verão de onde se parte,
ígneo nessa criança
contemplada. Eu abandono estes jardins
ferozes, o génio
que soprou nos estúdios cavados. É a cólera que me leva
aos precipícios de agosto, e a mansidão
traz-me às janelas. São únicas as colinas como o ar
palpitante fechado num espelho. É a estação dos planetas.
Cada dia é um abismo atómico.
E o leite faz-se tenro durante
os eclipses. Bate em mim cada pancada do pedreiro
que talha no calcário a rosa congenital.
A carne, asfixiam-na os astros profundos nos casulos.
O verão é de azulejo.
É em nós que se encurva o nervo do arco
contra a flecha. Deus ataca-me
na candura. Fica, fria,
esta rede de jardins diante dos incêndios. E uma criança
dá a volta à noite, acesa completamente
pelas mãos.
Herberto Helder
Cobra
Poesia Toda
Assírio & Alvim
1979
segunda-feira, 1 de novembro de 2021
Devaneios cruzadísticos │ Herberto Helder
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terça-feira, 26 de outubro de 2021
Devaneios cruzadísticos │ Isabel da Nóbrega
sexta-feira, 1 de outubro de 2021
Devaneios cruzadísticos │ Isabel da Nóbrega
Assim, convido os meus amigos a resolver este problema e, no final, encontrar o título (4 palavras nas horizontais) de uma obra da escritora portuguesa Isabel da Nóbrega (1925-2021).
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domingo, 26 de setembro de 2021
Devaneios cruzadísticos │ Maria Judite de Carvalho
domingo, 19 de setembro de 2021
Breve o dia, breve o ano, breve tudo
Breve o dia, breve o ano, breve tudo.
Não tarda nada sermos.
Isto, pensando, me de a mente absorve
Todos mais pensamentos.
O mesmo breve ser da mágoa pesa-me,
Que, inda que magoa, é vida.
27-9-1931
Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946
quinta-feira, 16 de setembro de 2021
Em véspera de revisitar Pascoaes
quarta-feira, 15 de setembro de 2021
Guerra Junqueiro, poeta mal amado?
Caminhar – a minha epifania
segunda-feira, 13 de setembro de 2021
O deputado Morgado, (coit)ado
Já que o coito — diz Morgado —
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou — parca ração! —
uma vez. E se a função
faz o órgão — diz o ditado —
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.
quarta-feira, 1 de setembro de 2021
Devaneios cruzadísticos │ Maria Judite de Carvalho
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sábado, 28 de agosto de 2021
Carlos de Oliveira e o Neo-Realismo
sexta-feira, 27 de agosto de 2021
São Paulo
Frederico Lourenço, fb de 25/8/2021
quarta-feira, 18 de agosto de 2021
À memória de Fernando Pessoa
POEMA DE CINZA
À memória de Fernando Pessoa
Se eu pudesse fazer com que viesses
Todos os dias, como antigamente,
Falar-me nessa lúcida visão
- Estranha, sensualíssima, mordente;
Se eu pudesse contar-te e tu me ouvisses,
Meu pobre e grande e genial artista,
O que tem sido a vida - esta boémia
Coberta de farrapos e de estrelas
Tristíssima, pedante, e contrafeita,
Desde que estes meus olhos numa névoa
De lágrimas te viram num caixão;
Se eu pudesse, Fernando, e tu me ouvisses,
Voltávamos à mesma:
Tu, lá onde
Os astros e as divinas madrugadas
Noivam na luz eterna de um sorriso;
E eu, por aqui, vadio da descrença
Tirando o meu chapéu aos homens de juízo. . .
Isto por cá vai indo como dantes;
O mesmo arremelgado idiotismo
Nuns senhores que tu já conhecias
- Autênticos patifes bem falantes. . .
E a mesma intriga; as horas, os minutos,
As noites sempre iguais, os mesmos dias,
Tudo igual! Acordando e adormecendo
Na mesma cor, do mesmo lado, sempre
O mesmo ar e em tudo a mesma posição
De condenados, hirtos, a viver
- Sem estímulo, sem fé, sem convicção...
Poetas, escutai-me: transformemos
A nossa natural angústia de pensar
- Num cântico de sonho!, e junto dele,
Do camarada raro que lembramos,
Fiquemos uns momentos a cantar!
António Botto
sexta-feira, 6 de agosto de 2021
Devaneios cruzadísticos │ Carlos de Oliveira
quinta-feira, 5 de agosto de 2021
Carta a Ângela
O poeta Carlos de Oliveira no Parque dos Poetas em Oeiras
Escultura de Francisco Simões
CARTA A ÂNGELA
Para ti, meu amor, é cada sonho
de todas as palavras que escrever,
cada imagem de luz e de futuro,
cada dia dos dias que viver.
Os abismos das coisas, quem os nega,
se em nós abertos inda em nós persistem?
Quantas vezes os versos que te dou
na água dos teus olhos é que existem!
Quantas vezes chorando te alcancei
e em lágrimas de sombra nos perdemos!
As mesmas que contigo regressei
ao ritmo da vida que escolhemos!
Mais humana da terra dos caminhos
e mais certa, dos erros cometidos,
foste de novo, e sempre, a mão da esperança
nos meus versos errantes e perdidos.
Transpondo os versos vieste à minha vida
e um rio abriu-se onde era areia e dor.
Porque chegaste à hora prometida
aqui te deixo tudo, meu amor!
Carlos
de Oliveira, (Belém do Pará, 10 de Agosto
de 1921 — Lisboa, 1 de Julho de 1981)
(Ângela de
Oliveira viria a morrer em 15.2.2016 com 95 anos)
domingo, 1 de agosto de 2021
Devaneios cruzadísticos │ Carlos de Oliveira
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segunda-feira, 26 de julho de 2021
Devaneios cruzadísticos │ Ana Luísa Amaral
quarta-feira, 14 de julho de 2021
Carta à Minha Filha
Lembras-te de dizer que a vida era uma fila?
Eras pequena e o cabelo mais claro,
mas os olhos iguais. Na metáfora dada
pela infância, perguntavas do espanto
da morte e do nascer, e de quem se seguia
e porque se seguia, ou da total ausência
de razão nessa cadeia em sonho de novelo.
Hoje, nesta noite tão quente rompendo-se
de junho, o teu cabelo claro mais escuro,
queria contar-te que a vida é também isso:
uma fila no espaço, uma fila no tempo
e que o teu tempo ao meu se seguirá.
Num estilo que gostava, esse de um homem
que um dia lembrou Goya numa carta a seus
filhos, queria dizer-te que a vida é também
isto: uma espingarda às vezes carregada
(como dizia uma mulher sozinha, mas grande
de jardim). Mostrar-te leite-creme, deixar-te
testamentos, falar-te de tigelas - é sempre
olhar-te amor. Mas é também desordenar-te à
vida, entrincheirar-te, e a mim, em fila descontínua
de mentiras, em carinho de verso.
E o que queria dizer-te é dos nexos da vida,
de quem a habita para além do ar.
E que o respeito inteiro e infinito
não precisa de vir depois do amor.
Nem antes. Que as filas só são úteis
como formas de olhar, maneiras de ordenar
o nosso espanto, mas que é possível pontos
paralelos, espelhos e não janelas.
E que tudo está bem e é bom: fila ou
novelo, duas cabeças tais num corpo só,
ou um dragão sem fogo, ou unicórnio
ameaçando chamas muito vivas.
Como o cabelo claro que tinhas nessa altura
se transformou castanho, ainda claro,
e a metáfora feita pela infância
se revelou tão boa no poema. Se revela
tão útil para falar da vida, essa que,
sem tigelas, intactas ou partidas, continua
a ser boa, mesmo que em dissonância de novelo.
Não sei que te dirão num futuro mais perto,
se quem assim habita os espaços das vidas
tem olhos de gigante ou chifres monstruosos.
Porque te amo, queria-te um antídoto
igual a elixir, que te fizesse grande
de repente, voando, como fada, sobre a fila.
Mas por te amar, não posso fazer isso,
e nesta noite quente a rasgar junho,
quero dizer-te da fila e do novelo
e das formas de amar todas diversas,
mas feitas de pequenos sons de espanto,
se o justo e o humano aí se abraçam.
A vida, minha filha, pode ser
de metáfora outra: uma língua de fogo;
uma camisa branca da cor do pesadelo.
Mas também esse bolbo que me deste,
e que agora floriu, passado um ano.
Porque houve terra, alguma água leve,
e uma varanda a libertar-lhe os passos.
Ana Luísa Amaral, in Imagias (Um pouco só de Goya: Carta a minha Filha)